Uma lágrima para a TSF

As opções tomadas poderão não ser inocentes relativamente à situação presente e não nos livram de deixar cair uma lágrima pela TSF, que queremos que se transforme num sorriso de esperança.

O que se passa na Global Media Group (GMG) não se adequa à esperança que cria cada novo ano. Os tempos não têm sido fáceis para os que ali trabalham e suas famílias; também se reflete naquelas que fazem o esforço por estarem informados e consumirem marcas da GMG. Ordenados em atraso, postos de trabalho em risco, suspensão de conteúdos de opinião e instabilidade diretiva e administrativa, têm sido notícias que tornam moribundas marcas, em alguns casos, com mais de um século de vida.

A TSF é uma dessas marcas. Longe de ter três dígitos na sua idade, cedo se tornou numa referência com rasto na história da rádio em Portugal. Primeiro, nos anos 80, inserida no movimento das rádios piratas, e, depois, no desenvolvimento organizacional fruto do processo de legalização, a TSF assumiu-se como um baluarte de uma cultura radiofónica de vanguarda. Havia novas ideias ‘no ar’ trazidas por profissionais com competências adquiridas no ultramar e por uma juventude apostada na transformação da sociedade a partir do meio sonoro: queriam-se mostrar ações, ambientes, sentimentos, vivências e emoções através do som. A ideia da TSF encontrou uma forma singular de o trabalhar. Já reparou que conhecemos o nome de alguns sonoplastas da TSF; acontecerá isso noutras rádios? 

Mas há mais… A TSF assumiu-se desde o início como rádio jornal. Um posicionamento demonstrado pelo cuidado especial de trabalhar a informação. Nas primeiras emissões foi percetível a inovação: notícias de 30 em 30 minutos, emissões diárias associadas ao conceito de manhãs/tardes/noites informativas e abertura à participação de ouvintes em espaços de opinião livre. A cobertura do incêndio do Chiado, em 1988, foi um marco para a jovem TSF e ofereceu a oportunidade dos seus profissionais mostrarem ‘ao que vinham’. Até ao aparecimento em 1995 do programa Forum TSF, a participação de ouvintes nas estações de rádio limitava-se a pedidos musicais, passatempos e conversas intimistas durante a madrugada. Com a TSF, os ouvintes ganharam a oportunidade de participar em debates e discussões promovidas pela própria rádio. A democracia portuguesa, ainda jovem e à procura de espaços onde se pudesse consolidar e se afirmar, encontrou aqui enquadramento para o seu fortalecimento.

As opções tomadas poderão não ser inocentes relativamente à situação presente e não nos livram de deixar cair uma lágrima pela TSF, que queremos que se transforme num sorriso de esperança.

Professor Universitário

Diretor da licenciatura em Ciências da Comunicação – Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona – Centro Universitário de Lisboa.