Vai começar a dramatização dos três maiores partidos e coligações. Com as sondagens a revelarem uma descolagem da AD (coligação que junta PSD, CDS e PPM), à frente nos últimos estudos publicados (incluindo o desta edição), PS e Chega apostam na bipolarização para combater Luís Montenegro.
A campanha eleitoral oficial começa já na próxima semana. Terminados os debates a dois nas televisões, os partidos vão para a rua, percorrer o país de norte a sul, cada um apostando mais nos distritos em que pode recolher mais votos.
Montenegro começa já na próxima terça-feira, dia 20. Vai percorrer o país numa dinâmica de rua e de comícios: «Não vai ser uma campanha de reuniões e de Portugal sentado, porque isso foi o que ele fez nos últimos meses, quando visitou todos os concelhos», diz-nos Pedro Esteves, diretor de campanha. Antes do início oficial, o líder do PSD vai reunir com autarcas, no sábado e no domingo, e agricultores em Santarém.
Pedro Nuno Santos parte para a estrada no dia 24, sábado. Até lá, vai cumprir pontos de agenda em que, como tem acontecido, procura mostrar trabalho feito, sobretudo em áreas em que teve responsabilidade governativa, como a Habitação e as Infraestruturas. A campanha oficial arranca a norte.
André Ventura também inicia a campanha a norte, no Porto, no próximo domingo. Neste momento, ainda não há um calendário de campanha fechado, sendo provável que se vá moldando de forma a ir cobrindo não só os distritos em que o Chega tem mais possibilidade de eleger, mantendo no entanto a liberdade de ação para que Ventura possa ir adaptando o programa ao que os acontecimentos e as sondagens lhe forem indicando.
A campanha segue dentro de momentos, não antes de, no dia 19, segunda-feira, Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro se enfrentarem num debate que vai ser transmitido em simultâneo pelos três canais de televisão e que pode ser decisivo para os primeiros dias de campanha.
Montenegro aposta no apelo ao voto pela mudança
A uma semana de irem para a rua em campanha eleitoral, a pré-campanha tem-se feito essencialmente nos debates em que o líder do PSD tem estado bem, de acordo com a maioria dos comentadores. O ciclo de debates que se iniciou logo no dia seguinte ao desfecho das eleições regionais dos Açores não podia ter calhado em melhor altura para Montenegro.
Revigorado com um resultado regional que lhe permitiu fazer xeque ao PS e ao Chega ao mesmo tempo, tendo também demonstrado a coerência do seu «não é não», Montenegro tem aparecido tranquilo e esclarecedor nos frente a frentes em que participou até agora. No primeiro, com Mariana Mortágua, conseguiu colar o BE à governação socialista dos últimos anos. No embate com André Ventura, um dos mais difíceis para o líder da Aliança Democrática, Montenegro repetiu a dose e avisou que só ele pode ser primeiro-ministro em alternativa aos socialistas, arriscando mesmo o pedido de uma maioria absoluta. Montenegro sabia que estava a falar para o seu potencial eleitorado e para muitos indecisos e não quis perder a oportunidade – e a verdade é que André Ventura não o contradisse e, nesse sentido, pode dizer-se que ganhou o debate.
Pedro Nuno Santos com dificuldade a falar ao centro
Pedro Nuno Santos ensaiou a dramatização no debate com Rui Tavares. Envolvido numa agradável conversa com um potencial parceiro à esquerda, o líder socialista percebeu que não podia perder mais tempo. As contas que se fazem no Largo do Rato são claras: aconteça o que acontecer a 10 de março, não haverá uma maioria à esquerda no Parlamento. A única hipótese de o PS chegar ao Governo é tentar ganhar nas urnas e esperar que Montenegro cumpra a promessa de não formar Governo se não ganhar as eleições. Este será o principal argumento de campanha: «O risco de a direita ganhar é real» e por isso há que concentrar os votos da esquerda no PS.
A par dos debates, os socialistas apostaram tudo esta semana em demonstrar uma união, que efetivamente não existe, em torno da viabilização de governos minoritários do PSD. Os Açores foram um primeiro teste à unidade em torno do líder e, apesar de muitos dos que vieram defender que o partido devia viabilizar o governo de Bolieiro terem, nos últimos dias, dado o dito por não dito, a verdade é que Francisco Assis, uma das vozes mais influentes do partido, tem-se mantido em silêncio depois de ter deixado clara a sua opinião.
E, nesta semana ,Tiago Antunes, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, publicou no Facebook a sua opinião crítica sobre a decisão tomada pelo PS/Açores : «A decisão do PS/Açores hoje anunciada rompe, na prática, esse cordão sanitário. Ora se o Partido Socialista tem vindo a chamar a atenção para os perigos do Chega, como pode conformar-se com este desfecho (quando está nas suas mãos evitá-lo)?».
No núcleo duro de Pedro Nuno Santos há muita gente preocupada e a exigir alguns acertos na estratégia de campanha, que não está a atingir os objetivos. Por um lado, a contenção imposta ao secretário-geral está a prejudicá-lo nos debates, percebendo-se que aquele não é o seu fato; por outro, a estratégia não está a ajudar a conquistar votos ao centro, o principal foco dos socialistas por estes dias.
André Ventura entre o crescimento e a inutilidade
Nas hostes do Chega há entusiasmo e apreensão. Também aqui, as eleições nos Açores foram determinantes. O Chega cresceu e muito (teve mais do dobro dos votos e da representação parlamentar, onde passou de dois para cinco deputados), mas essa vitória não produziu os resultados esperados. A ausência de uma maioria de esquerda que pudesse pôr Bolieiro em causa deu ao PSD a possibilidade de se propor governar com maioria relativa. Só não o fará se PS e Chega se aliarem num voto contra o programa de governo.
A possibilidade é real, o Chega pode ter uma grande votação e mesmo assim não conseguir obrigar Montenegro ou a AD a um entendimento. Basta que a esquerda não tenha maioria no Parlamento. É por isso que André Ventura tem apostado tudo nos debates em mostrar que PSD e PS são duas faces da mesma moeda. Com isto, o líder do Chega pretende arregimentar o maior número de descontentes possível, voltando a apresentar-se como partido antirregime, uma narrativa que tinha sido abandonada recentemente, mas que agora volta a dar jeito, para evitar um esvaziamento do seu potencial eleitorado para um voto útil na AD, que as sondagens eleitorais começam a indicar como vencedora nas eleições de 10 de março, acrescentando ao facto de os muitos indecisos que ainda se detetam nos estudos de opinião indicarem que quem não sabe ainda em quem votar está mais inclinado para se decidir pelo voto na AD.