Campanha: das trapalhadas ao vandalismo

Mortágua continua sob pressão com a casa da avó na Av. de Roma e André Ventura ficou à beira de um ataque de nervos com os tiros que afinal eram ‘rateres’. Histórias de uma campanha eleitoral com as polémicas do costume.

Novas eleições, novas polémicas. E a líder bloquista continua a tentar justificar o injustificável. Mariana Mortágua, para atacar Luís Montenegro, lembrou a célebre ‘Lei Cristas’ (das rendas), em 2012, segundo a qual um idoso podia receber uma carta do senhorio e, se não respondesse no prazo de um mês, a sua renda «podia aumentar para qualquer valor e podia até ser expulso», garantindo que viu a avó passar por essa situação. Sabe-se agora que tal não podia ter acontecido, até porque a avó de Mortágua tinha 78 anos quando a lei foi aprovada, o que a protegia de despejos e de aumentos significativos de renda. A revista Sábado descobriu o senhorio da avó de Mortágua, uma IPSS, que se trata de um apartamento na Avenida de Roma, em Lisboa, e a renda é de 400 euros (muito abaixo do valor praticado naquela zona nobre da capital).

Os ataques têm sido muitos e Mortágua viu-se novamente obrigada a dar explicações, optando pelo contra ataque. «Só alinha na campanha de extrema-direita quem tem mesmo muita vontade de alinhar em campanhas da extrema-direita. O que disse e mantive é que a minha avó viveu 69 anos na mesma casa. Tinha 80 anos quando descobriu que aos 85 a sua renda podia saltar. Artigos 35 e 36 da lei», reiterou.

No caso do Chega, é certo que gato escaldado de água fria tem medo. E tantas vezes o partido já foi atacado que, desta vez, equivocou-se. É que André Ventura acusou o facto de a sua comitiva ter sido recebida com tiros em Famalicão. «A caravana do Chega é recebida por tiros em Famalicão. Tiros! Vamos permitir que os mesmos de sempre atuem com total impunidade?», escreveu André Ventura. Mas parece que, afinal, não se tratava de tiros nenhuns – o Comando Distrital da PSP de Braga garantiu que os sons se tratavam «de ‘rateres’ produzidos por um motociclo que seguia na caravana». Agradecendo à PSP de Braga, André Ventura voltou à carga e invocou uma análise mais detalhada às imagens – únicas – que existem, dizendo que a PSP lhe perguntou se o líder do Chega quereria avançar para uma investigação. André Ventura alega que nas imagens é percetível que há protestos contra a campanha do Chega e, por isso, decidiu avançar com o pedido de investigação da Polícia Judiciária. «Este é um episódio que vai ser investigado, mesmo tendo em conta este esclarecimento que foi dado – e sublinho que agradecemos. É o quarto, quinto ou sexto episódio de violência que ocorre na campanha do Chega em apenas poucos dias», disse.
Também quem não escapou às polémicas foi Rui Tavares e o Livre. O que tem feito correr tinta é o facto de os filhos de Rui Tavares frequentarem uma escola privada em Lisboa. «Nos últimos dias têm andado a circular pelas redes sociais fotografias de alguém que se introduziu no pátio da escola onde os meus filhos estudam e que me fotografaram a mim com os meus filhos, tentando provar com isso uma pseudo-hipocrisia que seria que eu tinha os meus filhos numa escola internacional», disse mesmo o líder daquela força política no debate, de 16 de fevereiro, com André Ventura. «A verdade é que quem começou a utilizar como arma de arremesso político esta questão foi o deputado Pedro Frazão, do Chega», frisou, sendo que, em dezembro do ano passado, em reunião plenária, na Assembleia da República, este deputado perguntou àquele que é um dos fundadores do Livre onde estudam os filhos do mesmo quando este abordou a urgência de um «grande reforço na escola pública». E, em setembro de 2022, o mesmo deputado atirou: «Têm os filhos todos nos colégios privados! Até o filho do deputado Rui Tavares está numa escola internacional! Tenham vergonha!». Além do Chega, Vítor Manuel Ramalho, dirigente do partido Ergue-te (antigo PNR), partilhou, a 15 de fevereiro, as fotografias em causa, no Facebook, tendo escrito: «A ser verdade fica mais uma vez demonstrada a hipocrisia da esquerda caviar!».

Cartazes para todos os gostos

A aposta nos tradicionais cartazes mantém-se nesta campanha eleitoral. Mas nem sempre corre bem e é frequente vê-los vandalizados. O Chega lidera este ranking e garante que já estragaram mais de 50 em apenas um ano. Desde cartazes incendiados a riscos ou cruzes na cara de André Ventura, o Chega conta com vandalismos para todos os gostos. O próprio líder do Chega partilhou um vídeo onde se vê alguém a incendiar o seu cartaz. No vídeo lê-se: «Os criminosos patrocinados pela extrema-esquerda em ação». Na legenda, André Ventura escreve apenas: «É esta a democracia em que estamos». Antes, partilhou o mesmo cartaz, já incendiado, e escreveu: «Queimaram o nosso cartaz na Alameda, em Lisboa, mas deixaram o do PSintacto. É natural: os bandidos gostam do PS!».

Não se revendo nos partidos ou no que defendem, as reações de algumas pessoas chegam ao extremo e são muitos os cartazes vandalizados de todas as forças políticas. A título de exemplo, há um do BE na Amadora que já o foi várias vezes e, apesar de ser reposto, Mariana Mortágua acaba sempre por ganhar um bigode de Hitler.

Ainda no que diz respeito aos cartazes deste partido há mais polémicas. Desta vez relacionada com Pedro Abrunhosa. O slogan escrito em praticamente todos os cartazes é ‘Fazer o que nunca foi feito’. Frase muito parecida com a da música do compositor e cantor ‘Vamos fazer o que ainda não foi feito’. Nas redes sociais, o músico garantiu ter sido «surpreendido» pelos cartazes. «Não será preciso ser um génio para associar o dito à minha canção». E atirou: «Não voto no BE nem endosso esta campanha», acusando o partido de «aproveitação indevida de propriedade intelectual alheia». Por isso, Pedro Abrunhosa avisou que já solicitou aos seus representantes legais, através da Sociedade Portuguesa de Autores, «que notifiquem o partido em causa para imediata retirada da frase de minha autoria de qualquer suporte político / publicitário».

Sem agência, a Iniciativa Liberal tem vindo a apostar nos cartazes para apontar o dedo ao que o partido considera que tem de ser mudado em Portugal, daí ser normal encontrar mensagens como ‘Aqui devia morar gente. Imóvel vazio do Estado: privatize-se’ ou ‘O socialismo faz mal à saúde’ ou até mesmo no levantamento do que não funciona no país seguido pela mensagem ‘Para o que está mal, a solução é liberal’. O partido aproveitou ainda o Carnaval para ironizar com a mudança de visual do seu líder: ‘Com ou sem óculos mas sempre sem máscara’. Isto depois de Rui Rocha ter abandonado no início do ano a sua imagem de marca – os óculos – para surgir com lentes de contacto. Uma mudança que foi vista por muitos como parte da estratégia de comunicação e marketing político. E as mudanças não ficaram por aqui. ‘O único voto que muda Portugal é o voto na Iniciativa Liberal’. O slogan é de Rui Rocha, que trocou as voltas à frase do anterior presidente, João Cotrim de Figueiredo, em que qualquer que fosse o adversário ou pergunta respondia sempre com ‘O Liberalismo funciona e faz falta a Portugal’.

Do lado do PCP, as tradicionais palavras de ordem continuam bem presentes nos cartazes. E o ‘ponto alto’ do líder comunista foi mesmo a divulgação de umas imagens de Paulo Raimundo, na altura com 17 anos, em que surge a cantar e a dançar no famoso concurso de talentos A Filha da Cornélia, apresentado por Fialho Gouveia.

Já o PAN tem mostrado o seu sentido de humor muito arrojado. A F5C está a fazer a comunicação estratégica do partido e a campanha faz parte da primeira vaga de comunicação do PAN para as legislativas. «O tamanho importa?», «Importa», «Se com 1 é bom, em grupo é ainda melhor», lê-se nos três outdoors que foram colocados na Calçada de Carriche, em Lisboa.
«Salientar o trabalho desenvolvido pelo PAN na Assembleia da República» e a «importância de aumentar a representação parlamentar do partido recuperando o grupo parlamentar nas próximas eleições», explica o partido.
Na quinta-feira, o partido apresentou no Campo Pequeno, em Lisboa, o novo outdoor: «Touradas só na cama e com consentimento»