Pedro Nuno. É melhor feito do que perfeito

Junto do eleitorado onde se sente melhor, Pedro Nuno tem uma campanha desenhada a regra e esquadro com o exemplo de 2022 presente. Socialistas apostam numa viragem no dia do voto antecipado.

Partiu para a estrada mesmo antes do início oficial da campanha. A máquina socialista tem pressa em pôr o candidato na rua em contacto com a população. Pedro Nuno Santos esteve no centro da atividade política nos últimos anos, mas não era o número um e nem sempre ganhou visibilidade pelos melhores motivos. O caso da decisão unilateral sobre a localização do aeroporto, em que acabou a pedir desculpa ao país, e a saída do Governo envolvido numa séria de trapalhadas com a gestão da TAP, não criaram a melhor imagem do novo líder socialista junto dos eleitores. Agora é preciso apresentar ao país um Pedro Nuno renovado, com energia e ideias para governar. Transformar as fraquezas em forças é a estratégia que o próprio ensaiou desde que se apresentou como candidato à sucessão de António Costa, e é também a aposta dos estrategas que estão a desenhar a campanha.
“É melhor feito do que perfeito” tem sido uma das frases mais repetidas pelo líder socialista desde que foi eleito. Os cartazes de campanha falam em “Mais Ação”, dando forma à ideia de que Pedro Nuno Santos é um fazedor que, como diz o próprio, “decide e não anda a arrastar os pés”.

Campanha sem mediadores Passado o debate das rádios que fechou uma longa sucessão de debates que nas últimas semanas acabou por condicionar a campanha na rua, Pedro Nuno Santos está agora no ambiente mais vantajoso. O próprio não se tem cansado de dizer que agora se sente mais à vontade. Não tem mediadores (jornalistas e opositores políticos) e está mais à vontade para o contacto pessoal com o eleitorado e com os militantes que o vão ouvir em comícios de norte a sul e nas regiões autónomas.

O ambiente de campanha é mais confortável para o líder socialista, a quem não correram bem os debates, à exceção do frente-a-frente com Luís Montenegro. Na rua e nos comícios Pedro Nuno corre menos riscos de se irritar com as críticas e pode mais livremente pôr em prática a estratégia delineada para tentar chegar a uma vitória no dia 10 de março, fundamental para poder formar governo, já que é praticamente impossível uma maioria dos partidos à esquerda e Luís Montenegro já anunciou que se não ficar em primeiro lugar não governa.

Lisboa e Porto: as grandes apostas

Apesar de prometer correr o país de norte a sul – com passagem pelas ilhas –, o foco de incidência da caravana socialista vai centrar-se nos grandes centros urbanos de Lisboa e do Porto, os distritos que elegem mais deputados.

A insistência nos dois distritos intensifica-se sobretudo na última semana de campanha, em que é preciso dar tudo por tudo para convencer o eleitorado. Até porque, segundo dados das legislativas de 2022, foi nos dias que antecederam as eleições que muitos decidiram o sentido de voto.
É natural que os últimos dias de campanha sejam mais dramatizados. Por essa altura Pedro Nuno Santos deverá reforçar a mensagem de que o programa da ADé irresponsável e que irá terminar com novos cortes para pensionistas. As sondagens que a partir de agora serão diárias até ao último dia de campanha serão um instrumento útil para ir orientando o discurso de acordo com os indicadores que vão surgindo.

Aconteça o que acontecer, uma coisa está decidida. A última semana de campanha, que começa a 4 de março, vai estar concentrada em Lisboa e no Porto, apenas com presenças pontuais nos distritos de Aveiro (o círculo pelo qual Pedro Nuno Santos se candidata), de Coimbra e de Setúbal. Na quinta-feira, 7 de março, os socialistas têm um grande comício no Porto e no dia 8 a campanha encerra com um comício em Lisboa.

3 de março, o dia D

O próximo domingo, 3 de março, é considerado um dia determinante para a campanha socialista.

É o último domingo de campanha e também o dia em que milhares de portugueses já vão votar, aproveitando a possibilidade do voto antecipado. O facto de a lei não prever para o voto antecipado o famoso dia de reflexão é uma oportunidade para tentar influenciar a decisão dos eleitores no próprio dia em que vão às urnas e os socialistas acreditam que isso pode ter influência nos resultados.

O facto é que os organizadores da campanha estão convencidos de que, nas últimas eleições, o dia do voto antecipado foi o dia da viragem, que culminou com uma maioria absoluta para os socialistas.

Seja ou não verdade, os organizadores da caravana socialista desenharam um dia de campanha em tudo igual ao dia 24 de janeiro de 2022, dia do voto antecipado das últimas eleições legislativas.

O dia vai começar com uma arruada nas Caxinas, no distrito do Porto, depois Pedro Nuno Santos parte para o distrito de Braga e tem previstas outras duas arruadas em Vizela e Guimarães. À noite o comício é em Viana do Castelo.
Paragens estudadas para conseguir banhos de apoiantes nas ruas e muitos militantes no comício.

Mas para além da repetição do percurso, o dia 3 de março deverá também ser o dia em que Pedro Nuno Santos trará novidades para o discurso político. Sabendo que os organizadores da campanha têm esta referência de que o dia do voto antecipado pode ser decisivo, vale a pena revisitar o que aconteceu em data semelhante em 2022.

Os títulos da imprensa falam por si: “PS ajusta discurso e (re)aproxima-se da esquerda”,”‘Costa disponível para falar com todos menos o Chega”, “Sondagens obrigam Costa a mudar estratégia a 180 graus”, “Nasceu um novo António Costa. O que está disponível para falar com todos”.

As notícias falam num PS a mostrar humildade democrática face ao que as sondagens iam dizendo (nessa altura a maioria das sondagens dava um empate técnico entre PS e PSD, com uma ligeira vantagem para os sociais-democratas). Face ao que as sondagens ditavam, António Costa, que tinha começado a campanha a pedir uma maioria absoluta, acabou por admitir que os portugueses não têm “grande amor pela ideia da maioria absoluta”. Foi nesse dia que o ainda primeiro-ministro voltou a admitir um entendimento com os partidos à sua esquerda, que tinham precipitado eleições ao não deixarem passar o orçamento do Estado. No início da campanha Costa tinha descartado essa possibilidade e carregou nas tintas dizendo que bloquistas e comunistas não eram parceiros de confiança. No dia 24 de janeiro tudo mudou e o líder socialista até chegou a admitir conversar com o PSD de Rui Rio, admitindo um entendimento de bloco central considerado tabu até esse dia.

O que vão dizer as sondagens no dia 3 de março? É cedo ainda para prever, mas esta é uma data crucial para a caravana do PS. O próximo domingo é o dia certo para ajustar o discurso e tentar todos os esforços para obter uma vitória que permita aos socialistas manterem-se à frente do governo, se for caso disso ‘falando com todos menos com o Chega’, como António Costa admitiu em 2022.