O PCP em contramão

As próximas eleições legislativas são mais uma prova de vida da CDU. Que espera reconquistar eleitores ao PS, embora todas as sondagens digam o contrário. A velha esquerda não muda.

Os números não enganam: há uma erosão no eleitorado da Coligação Democrática Unitária (CDU). A próxima ida às urnas vai confirmar que peso eleitoral tem no espectro político nacional a coligação de ideologia marxista-leninista, com laivos ecologistas. No dia 11, quando o país acordar da noite das eleições, a CDU pode ter obtido o pior resultado de sempre (em 2022 teve 4,3%) a julgar pelos estudos de opinião. As sondagens mais recentes dão à CDU um mínimo de 1% e máximo de 2,6% nas intenções de voto, e em quase todas elas o Livre aparecia à frente da CDU. No horizonte, está a possibilidade de o grupo parlamentar ficar reduzido à expressão mínima, embora Paulo Raimundo não acredite nisso. O cabeça de lista da CDU por Lisboa critica aquilo a que chama “Operação Sondagens” e lembra que “falharam na Madeira e Açores”, e mostra-se confiante em reconquistar os eleitores que, em 2022, foram atrás do voto útil no PS. O secretário-geral do PCP espera reforçar a votação da CDU em Lisboa, Porto e Setúbal e obter bons resultados em Santarém e Évora. A CDU tem o terceiro maior orçamento da campanha, tendo comunicado ao Tribunal Constitucional uma previsão de investimento de 785 mil euros. Só o PS e a AD gastam mais; 2,55 e 2,50 milhões de euros, respetivamente. 

Paulo Raimundo vai motivando o eleitorado tradicional do PCP com afirmações do tipo “É necessário dar resposta às necessidades das pessoas. Vamos estar na primeira linha do combate à política de direita e travar uma nova maioria do PS”. 

O Programa Eleitoral da CDU apresenta 30 medidas para um “Portugal com futuro” e a campanha é feita com base no slogan “Basta de injustiça!”. O extenso documento começa por realçar: “Quem afundou o País não o vai salvar” e indica os princípios fundamentais para construir um país mais justo. As medidas compreendem a criação de mais postos de trabalho, a redução do horário de trabalho para 35 horas, o salário mínimo de 1.000 euros já este ano e o aumento dos salários no setor público e privado em 15% e nunca inferior a 150€. As reformas e pensões devem aumentar 7,5%, no mínimo de 70 €, e o SNS deve ter mais médicos, enfermeiros e outros profissionais. A habitação é outro tema forte. A CDU quer que o Estado disponibilize 50 mil novas habitações durante a legislatura, pede a regulação e redução do valor das rendas e a estabilidade no arrendamento com contratos de 10 anos. A criação de uma rede pública de creches, a melhorias nos transportes públicos, a dotação de 1% do Orçamento do Estado para a cultura e uma política de justiça fiscal são outras das medidas apresentadas. A coligação liderada pelo PCP pretende acabar com todas as Parcerias Público Privadas e aumentar o papel no Estado na economia assegurando o controlo público dos principais setores de atividade.