Do município mais pequeno do país a candidato a primeiro-ministro

A política sempre fez parte da vida de Pedro Nuno Santos. Desde a juventude que integra cargos políticos e foi sempre subindo. O percurso é polémico, carregado de trapalhadas, mas o líder do PS que quer ser primeiro-ministro parece ficar indiferente ao que se diz.

É conhecido por ser duro e assume rebeldia na infância. Uma infância que, aliás, esteve sempre marcada pela política. O cargo onde está agora – e aos 46 anos pode vir a ser primeiro-ministro – não era uma ambição quando começou na Juventude Socialista (JS). Mas, como diz, “foi a vida a acontecer”. 

Pedro Nuno Santos nasceu a 13 de abril de 1977, em São João da Madeira, terra da qual diz ter muito orgulho. “A nossa terra é sempre mais bonita do que as outras. São João da Madeira é o concelho mais pequeno do país mas é uma terra que se conseguiu desenvolver com muita luta, com muito trabalho”, disse recentemente numa entrevista intimista no programa Alta Definição. “Aprendi muito esta necessidade de cair e voltar a criar. É uma característica dos sanjoanenses”, defende.

Pedro Nuno Santos diz que a família não era pobre, mas trabalhavam muito. O pai não faz sapatos. O avô fazia. Tinha uma pequena fabriqueta em casa, alguma mecanização mas era muito manual. Já o pai trabalhava numa fábrica, numa empresa chamada Califa. Depois abriu uma empresa, depois outras e o negócio foi crescendo. “E este ensinamento, esta luta para se conseguir o que tem esteve sempre presente na minha educação enquanto homem”, garante. 

Desde que se lembra que se fala de política em casa uma vez que o pai foi militante ativo a seguir ao 25 de Abril e a sua educação foi sempre com base na política, presente nas conversas e discussões. E participava ativamente nessas conversas, principalmente com o pai.

A infância foi confortável. Jogava à bola mas “era péssimo” e também fez artes marciais, onde também não era assim tão bom. Destacou-se na natação mas nunca gostou de desporto. Diz que era bom em comunicar com os outros e tinha cargos importantes na escola como ser delegado de turma ou ter sido presidente da Associação de Estudantes. Licenciou-se em Economia, pelo ISEG, instituição na qual foi presidente da Mesa da RGA e membro do senado da Universidade Técnica de Lisboa. Em 2001 desenvolveu atividade no CISEP – Centro de Estudos sobre Economia Portuguesa, na área da Economia da saúde, sob a orientação do professor Gouveia Pinto.

Concluída a licenciatura em Economia, ingressa no grupo empresarial da família, Grupo Tecmacal, SA., grupo de empresas de serviços e comercialização e desenvolvimento de equipamentos industriais. 

Mas é ainda na juventude que chega a política à sua vida. Começou como presidente da assembleia de freguesia de São João da Madeira, deputado da assembleia municipal, presidente da federação de Aveiro da Juventude Socialista e secretário-geral da JS entre 2004 e 2008.

Depois entra para o Governo e ao longo dos anos passou por vários cargos.

A vida política polémica Mais tarde, Pedro Nuno Santos desempenhou funções de deputado na X e XII Legislaturas, tendo sido vice-presidente do grupo parlamentar do PS e coordenador dos deputados do PS na Comissão de Economia e na Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso BES. 

Foi ainda Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no XXI Governo, de novembro de 2015 a fevereiro de 2019. E foi ministro das Infraestruturas e da Habitação nos XXI e XXII Governos Constitucionais. E é principalmente como membro do Governo de António Costa que Pedro Nuno Santos dá mais nas vistas. As polémicas somam-se e o dossiê aeroporto ou TAP são os que mais o ‘tramam’. 

Em junho de 2022 o país é apanhado de surpresa com o anúncio do novo aeroporto em Alcochete. O país e o primeiro-ministro e até o Presidente da República. Mas por trás do despacho que o ministério das Infraestruturas e da Habitação publicou, esteve também o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Santos Mendes, que assinou o documento. Costa revogou os despachos, Pedro Nuno Santos continuou no Governo, mas mais recatado.

Mas do aeroporto à TAP foi um saltinho. Quando se soube que a TAP pagou meio milhão de euros à sua ex-administradora Alexandra Reis, entretanto nomeada secretária de Estado do Tesouro, tudo caiu aos pés do então ministro das Infraestruturas e da Habitação e a bola de neve de polémicas foi aumentando. Pouco depois, Pedro Nuno Santos admitia que sabia do acordo de rescisão de Alexandra Reis com a TAP, no entanto, nada disse sobre se sabia do montante da indemnização. Afinal, sabia, como chegou a admitir depois.

O caso Alexandra Reis – que depois de uma série de novas trapalhadas acabou por levar também à saída da então CEOda TAP, Christine Ourmières-Widener – forçam a criação de uma Comissão de Inquérito, onde também Pedro Nuno Santos foi ouvido.

Estes foram, como assumiu, os momentos mais difíceis da sua vida política. “O ano 2022 foi um ano terrível. Foi duro. Saio do Governo com um caso que teve uma atenção mediática muito grande e isso teve um impacto muito significativo”, mas garante que nunca pensou em desistir da vida política, ainda que fossem períodos difíceis. “Tive uma Comissão Parlamentar de Inquérito onde fui escrutinado como poucos membros do Governo”.

O tempo foi passando e Pedro Nuno Santos manteve-se afastado dos holofotes mas sabia bem aquilo que queria. No entanto, ainda antes do Governo sair, o agora candidato socialista foi para comentador da SIC que muitos dizem ter como objetivo ‘uma limpeza de imagem’.

Diz que o caminho para chegar onde chegou foi muito longo. “Quando comecei na JS nunca pensei ser secretário-geral”. Um percurso longo com vários cargos, “Sabia que o dia em que me iria candidatar [a secretário-geral do PS] chegaria, se ganhava ou não, isso é sempre uma grande incógnita”. Mas revela que a sua candidatura era “um segredo muito mal guardado” porque já quase todos sabiam, dentro e fora do partido. “Para mim ficou sempre claro que no dia em que o atual primeiro-ministro não se candidatasse à liderança do partido eu me iria candidatar”. 

Estar no cargo que agora ocupa diz ser o “peso da responsabilidade”, principalmente para não dececionar o partido e aqueles que acreditaram nele. “Os políticos são pessoas normais, como os outros”, adiantou à SIC.

Mas garantiu que a mãe não era muito entusiasta da vida política, o pai via a coisa de outra maneira. É que, o escrutínio pelo qual passa, não é fácil. “As críticas são duras, muitas delas têm sido particularmente duras”. Mas assume que o apoio da mulher, do filho e da família mais próxima têm sido a sua força para aguentar estes momentos.

Sobre estar na política – que pretende continuar – a intenção é clara: “Estou na política porque acredito que é preciso transformar e essa ideia do sonho e da ambição é um horizonte que queremos atingir. É assim na política como na vida. Se não acreditamos que é possível não vamos fazer nada para lá chegar”, disse no Dois às 10.

Garantindo não estar na política “para enriquecer”, o candidato a primeiro-ministro nas próximas eleições atira: “A política tem de resolver os problemas das pessoas”, ainda que seja acusado de não o ter feito nos últimos oito anos.

A vida pessoal também não está isenta de polémicas. O nome da mulher de Pedro Nuno Santos – Catarina Gamboa – aparece ligado ao Governo. Conheceram-se há muitos anos, na JS, por intermédio de um amigo muito próximo: Duarte Cordeiro. Ora, Catarina Gamboa, ocupou vários cargos próximos de Duarte Cordeiro, não apenas enquanto foi ministro do Ambiente como vice-presidente da Câmara de Lisboa. 

Nessa altura, Pedro Nuno Santos viu-se obrigado a explicar-se. Defendeu o percurso da mulher e explicou que é normal as pessoas que fazem parte do mesmo núcleo apaixonarem-se, defendendo que Catarina Gamboa fez o seu percurso sozinha. “A Catarina que é a minha mulher e a mãe do meu filho Sebastião é, também, a Catarina Gamboa: excelente profissional, pessoa de enorme competência e confiança”.Tiveram o primeiro filho em dezembro de 2016 e o nascimento teve direito a uma notícia do Expresso: Nasceu “o primeiro bebé da geringonça”. Confessou entretanto que gostaria de ter mais, mas não foi possível: “Havia projetos de vida que nós não conseguimos. Queríamos uma família maior e nunca conseguimos”.