Vale a pena fixar este dia 26 de fevereiro

Como disse o Presidente Marcelo há quase um ano, fixem este dia. Porque se nem António Costa nem Pedro Passos Coelho morrem de amores por Pedro Nuno Santos ou Luís Montenegro e entraram na campanha, foi na deles… a das presidenciais de 2026.

António Costa, como já tinha prometido há semanas num daqueles seus discursos em mais uma sessão de pré-campanha eleitoral como primeiro-ministro em gestão, vai mesmo regressar às aulas na universidade, neste caso a Católica, num curso de pós-graduação em arbitragem de conflitos. A confirmação da notícia, por coincidência (ou talvez não), nesta segunda-feira, 26 de fevereiro, chegou no dia em que também Pedro Passos Coelho decidiu entrar na campanha eleitoral para as legislativas de 10 de março, ao lado de Luís Montenegro, em Faro.

Há quase um ano, a 1 de março de 2023, na cerimónia comemorativa do 10.º aniversário do Senado (associação de jovens de direita), a que Marcelo Rebelo de Sousa presidiu, Passos foi orador convidado e aproveitou a ocasião para admitir «um horizonte político» que o chefe de Estado logo fez questão de deixar bem assinalado: «Se as coisas correrem como é suposto, vale a pena fixar o dia de hoje».

As coisas, obviamente, não correram como era suposto, porque em março de 2023 ninguém em seu perfeito juízo anteciparia que em menos de um ano os portugueses estariam outra vez a ser chamados às urnas para escolher um novo primeiro-ministro.

Nessa altura, o próprio Presidente da República, perante o discurso do ex-primeiro-ministro, tinha dúvidas sobre se o horizonte político de que falava passaria mais por S. Bento do que por Belém. Afinal, Passos Coelho sempre teve um perfil mais executivo e ainda é demasiado novo quando comparado com os últimos inquilinos de Belém – de Mário Soares ao próprio Marcelo.

Ora, a precipitação de mais uma crise política, a demissão de António Costa na sequência da Operação Influencer e a conjugação de fatores que coloca Luís Montenegro à porta da Residência Oficial de S. Bento retiram a Passos essa possibilidade como destino, restando-lhe Belém como alternativa.

Ou seja, se tudo correr como é suposto, Pedro Passos Coelho será um dos concorrentes às eleições presidenciais de 2026, que ditarão o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa. Assim se fechando a porta a outros candidatos possíveis, como Marques Mendes, Paulo Portas ou o almirante Gouveia e Melo.

E, mais uma vez, se tudo correr como é suposto, o adversário de Pedro Passos Coelho nessa corrida a Belém deverá ser mesmo António Costa, por mais que o próprio insista em continuar a negá-lo.António Costa é um gestor de crises e não um fazedor. É muito mais árbitro – aliás, o curso de arbitragem que agora frequenta pode servir-lhe não apenas para ter um bom encaixe financeiro se essa for a sua atividade alternativa caso veja gorada a sua ambição de regresso à política, como ajudá-lo a dirimir conflitos futuros a partir de Belém.

Mais, ao inscrever-se no curso de pós-graduação na Universidade Católica, Costa dá um claro sinal de que o ‘horizonte político’ de que não abdicou – antes deixou bem claro que apenas suspendeu enquanto se mantiverem sobre si as suspeitas judiciais que não tem dúvidas serem infundadas – passa por Lisboa e pela República e não pela Europa, para onde já o exilavam guardando para ciclos mais remotos o seu regresso ao jogo interno.

António Costa sabe que só conseguirá a remissão para a História da política portuguesa com a entrada no restrito grupo de personalidades que juntaram no seu currículo as chefias do Governo e do Estado – como Mário Soares e Cavaco Silva.

António Costa e Pedro Passos Coelho entraram ambos na campanha eleitoral não para defender qualquer um dos candidatos a primeiro-ministro em 10 de março, mas para se defenderem a si próprios. Costa veio dizer que os seus Governos reverteram todo o mal que os de Passos fizeram; e Passos veio dizer que os de Costa é que nada fizeram. Passos e Costa têm contas a acertar desde aqueles tempos em que o socialista reinventou o sistema político português para conseguir chegar ao poder sem ter ganho as eleições, em outubro de 2015. 

O confronto entre ambos em 2026 teria o acrescido interesse histórico de deixar o povo dizer de sua justiça sobre o legado destes dois políticos que, para o bem e para o mal, conduziram Portugal na última década e meia.Muito mais, aliás, do que as eleições legislativas de 10 de março próximo, apesar de o PStentar por todos os meios que seja esse o juízo que deve ser feito. Que não é.

A 10 de março, e por mais que Pedro Nuno Santos queira chamar Passos à colação, o que vai estar em avaliação já não serão os cortes que Pedro Passos Coelho teve de fazer para tirar Portugal da bancarrota a que os Governos de José Sócrates conduziram o país.

Se não pode deixar de reconhecer-se que Mário Centeno, João Leão e Fernando Medina cumpriram com distinção o controlo das contas públicas, também não pode ser esquecido o contributo decisivo dos dois ministros das Finanças dos Governos da AD, Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, que, com Passos, ficaram com todo o odioso.

A 10 de março, o que o povo avaliará, sim, foi o que fizeram e o que deixaram por fazer os Governos de António Costa.

Porque se as contas estão certas, tudo o resto foi adiado.

É por isso que quem ganhar as eleições, depois dos festejos da noite, pode ir já preparando a couraça para o dia seguinte.

O país o que tem mais são problemas e está todo armadilhado.

E, em política, as coisas nem sempre correm como é suposto.