As coisas demoram tempo demais

Oeiras tem sido governado contra o imobilismo nacional generalizado. A qualidade de vida de que hoje se usufrui vem desta vontade de querer mais.

Nesta última semana a Assembleia Municipal de Oeiras aprovou o Plano de Pormenor Norte de Caxias (PPNC), que possibilitará a construção de um empreendimento habitacional e de serviços, num investimento de mais de 350 milhões de euros.

Esse empreendimento receberá sedes (nacionais e ou regionais) de diversas empresas (a maior parte delas tecnológicas), criando milhares de postos de trabalho e representando uma coleta imediata de diversos milhões de euros em IVA e, quando construído, outros tantos em IMT e IMI.

Os postos de trabalho, qualificados e indiferenciados, são essenciais para permitir manter no Concelho, e no país, alguns milhares de jovens nos quais foram investidos recursos públicos. Esses jovens, sem empregos qualificados – e bem pagos – emigram para geografias nas quais sejam reconhecidos profissionalmente e em rendimento. Os empregos indiferenciados servem aqueles que, por uma ou outra razão, não estudaram, mas que precisam de ter trabalho para ter uma vida digna.

Este é o tipo de projeto que qualquer autarca quer receber: cria riqueza, cria emprego, qualifica o território e tem potencial multiplicador pela atividade económica gerada. Deve ser acarinhado e tratado com pinças. Para qualquer português médio, é aquilo de que o país precisa.

Curiosamente, observando as posições das diversas forças políticas durante a sessão Assembleia Municipal, é difícil quem governa não sentir a frustração: é muito difícil fazer avançar o país.

Há poucas semanas, ouvi Rui Tavares dizer numa entrevista que o que mais lhe custa em Portugal é «o tempo que as coisas demoram». Não posso estar mais de acordo. Na última campanha eleitoral brasileira, a campanha de Lula lançou uma música que tem duas frases que nunca me saíram da cabeça: a primeira diz «quero tanto ter alguém que sinta a dor da gente», a segunda diz que «o sofrimento pede pressa».

Tenho, para mim, que a maior parte dos políticos não sentem verdadeiramente a dor do povo e que, por essa razão, não sabem o quão urgente é aliviar o seu sofrimento. Muitos até são bem-intencionados, mas não têm empatia real para com os outros. Talvez por isso não se comovam com as filas à porta dos centros de saúde, da segurança social ou das finanças. Também não fazem como na Câmara de Oeiras, que recebe, ouve e resolve os problemas dos que não têm casa. Ser pobre não é mera estatística. Ser pobre é um facto e a pobreza é uma tendência persistente de um regime que não tem vergonha de mandar o povo aguentar (ou emigrar).

Mas não são apenas as dores dos mais pobres que devem ser ouvidas. São os pais que vêm os filhos partir e que sentem quebrar os laços intergeracionais das suas famílias, por falta de oportunidades. São também os filhos que não conseguem dar um envelhecimento digno aos pais.

Ouvir na Assembleia Municipal o argumentário, ora sofisticado, ora bacoco, dos acomodados, que não percebem que ninguém é ilha e que os sinos também dobram por eles pois, ainda que a sua vida atual seja confortável, a falta de oportunidades baterá à porta da geração seguinte.

Oeiras tem sido governado, ao longo destes anos, contra o imobilismo nacional generalizado. A qualidade de vida de que hoje se usufrui no Concelho vem desta vontade de querer mais. De sentir a dor da gente.

É preciso ter muito patriotismo, muita coragem e muita vontade de fazer para querer ser ‘Padre nesta Paróquia’.