Uma mãe moderna trabalha mais do que qualquer um homem. Trabalha no trabalho, tentando disfarçar que tem mais que fazer em casa, e trabalha em casa ao mesmo tempo que faz os trabalhos de casa com o filho e os trabalhos domésticos. Uma mãe moderna só tem filhos depois de conseguir atingir um nível de estabilidade laboral e financeira que a permitam receber o petiz com conforto e previsibilidade. Ela não conta com o pai, conta com ela, com a sua carreira e com as suas capacidades para conseguir criar um filho. Uma mãe moderna não deixa nada ao acaso. Antes da criança nascer já sabe onde é que ela vai estudar nos próximos 12 anos, quais os desportos que deverá praticar, as línguas que vai aprender e as viagens que irá fazer.
Nunca ninguém levou tão a sério a alimentação quanto as mães modernas. O açúcar é a nova droga e as gorduras uma versão moderna das sopas de cavalo cansado – sinais de má nutrição. Ela alimenta a cria no Celeiro – sem se aperceber o quanto o nome da loja soa a piada de mau gosto – e nos corredores dos produtos dietéticos dos supermercados. Os avós e os seus bolinhos e docinhos são o demo. Se dantes nos diziam para não aceitarmos doces de estranhos porque podiam ter droga, agora as mães ensinam os filhos que não devem aceitar as bolachinhas da avó porque são a própria da droga.
Estas mães devoram os tutoriais sobre bebés e crianças nas redes socais e vão gerindo a informação que se contraria tentando manter o equilíbrio emocional e intelectual. A mães modernas confiam mais nos reels do TikTok do que no seu instinto maternal. Podem ser excelentes profissionais e dotadas de inteligência rara, mas perdem parte da clarividência quando o tema é sobre os filhos. Cada capricho dos filhos é uma necessidade vital que se deve satisfazer e isso torna a vidas destas mães numa exaustiva missão sem sentido. O acaso é uma maldição, para uma mãe moderna. Em vez do livro do bebé elas anseiam por conseguir fazer folhas de excel do bebé. Mas os bebés estragam sempre tudo e baralham qualquer plano ou projeto.
Já as mães velhas vivem do acaso. Sem juízo nenhum. Não leem as bulas dos remédios, são fãs dos produtos brancos e nem sabem o que quer dizer alimentos dietéticos. Acreditam no chá de cebola não por ser eficaz, mas por ser de graça. Têm uma paciência infinita para brincar com os filhos e uma forma quase desonesta de conseguir que eles façam tudo o que elas querem sem eles se aperceberem. Foram elas que inventaram truques como levar na ponta da colher com a sopa um bocadinho de papa de fruta para os bebés abrirem a boca ao engano e engolirem o prato inteiro de sopa de espinafres. Estas mães trabalham com afinco no trabalho e com o mesmo afinco em casa. Sem deixar que os dois mundos se cruzem. As mães mais velhas vivem a fugir dos filhos: viajam sem eles, só vão ao cinema sem eles e anseiam por dias de férias sem eles. Os filhos fazem parte das suas vidas assim como o sol e água, sem novidade. O “depois logo se vê”, é a sua máxima.
No meio disto tudo, lá se vão educando as gerações mais bem preparadas de sempre. Deve ser.