Nuno Melo. O líder que deixa o PE para devolver o CDS à AR

Sem representação parlamentar pela primeira vez na história da democracia, o CDS regressa pela mão da AD.

Ascendeu à liderança do CDS-PP após um período em que a sua candidatura era aguardada por muitos dentro do partido. Com uma trajetória política marcante desde a sua entrada na Assembleia da República em 1999, assumiu a responsabilidade de “salvar o CDS” – como afirmou há dois anos – num momento crucial da sua história, especialmente após o partido ter ficado sem deputados nas últimas eleições legislativas. Nuno Melo, com o seu histórico de atuação em diversas comissões de inquérito e a sua passagem pela liderança parlamentar, demonstrou uma experiência política sólida e um compromisso com os valores do partido.

Por outro lado, a sua relação com figuras proeminentes do CDS, como Paulo Portas e Assunção Cristas, também é importante, evidenciando a sua trajetória ascendente e o seu papel como uma voz respeitada. Mesmo quando o seu nome era cogitado para liderar o partido em momentos anteriores, Melo optou por não avançar, mostrando uma estratégia política cautelosa e uma consideração cuidadosa das circunstâncias.

Além disso, a sua habilidade em construir alianças e em comunicar eficazmente foi observada, sendo que procura unidade dentro do partido em vez de divisões. A candidatura à liderança do CDS-PP, anunciada num contexto de críticas à direção anterior, reflete o compromisso renovado em fortalecer o partido. A sua personalidade e interesses fora da política, como a paixão por carros clássicos, adicionam uma camada de humanidade à sua imagem pública, mostrando um lado mais acessível e próximo das pessoas. Nuno Melo – do Grupo do Partido Popular Europeu (Democratas-Cristãos) e pai de gémeos, que já se considerou “um pai velho” em entrevista ao SAPO – emergiu como um líder político com uma base sólida e uma visão para o futuro do CDS-PP, procurando unir esforços para enfrentar os desafios que surgem.

Depois de não ter estado presente durante três dias do início oficial de campanha, por ter estado infetado com o novo coronavírus, curiosamente, na passada sexta-feira, durante um comício no Europarque, em Santa Maria da Feira, o advogado e consultor jurídico cometeu um lapso ao apelar à vitória de Pedro Nuno Santos nas eleições legislativas de 10 de março, em vez de apoiar o seu próprio partido. Rapidamente corrigindo o erro após ser alertado pela audiência, Melo reagiu com bom humor, reconhecendo a sua falha e expressando que queria apoiar Luís Montenegro, seu parceiro de coligação na Aliança Democrática. “Eu disse isso?! Enganei-me. Ao Luís Montenegro, Deus me livre, cruzes canhoto. Estava a correr tão bem (risos e aplausos)”, disse. A sua reação descontraída perante o equívoco foi recebida com risos e aplausos.

Recorde-se também que Pedro Nuno Santos criticou o PSD e o CDS por propostas que remetem ao passado, como cortes em pensões e a reversão de direitos das mulheres no acesso ao aborto. O socialista aproveitou os deslizes de Luís Montenegro e Nuno Melo para focar o seu apelo ao voto. Destacou a preocupação com as declarações de Montenegro sobre cortes em pensões, afirmando que o PSD parece não ter aprendido com o passado. Pedro Nuno enfatizou que o PS mostrou que não é necessário cortar pensões em tempos de crise e criticou a postura de Montenegro de ameaçar renunciar ao cargo se precisar de fazer cortes. Além disso, rejeitou as propostas do CDS de reverter a lei do aborto, afirmando que tais medidas representam um retrocesso. Em vez disso, apelou aos votos dos pensionistas e mulheres para defenderem as conquistas alcançadas, argumentando que a sociedade portuguesa já superou o tempo de “criminalização das mulheres” e que qualquer tentativa de retorno a esse período é inaceitável.

No final de fevereiro, o CDS anunciou que o seu congresso ocorrerá nos dias 20 e 21 de abril, com Nuno Melo – que se posiciona publicamente contra temáticas como a eutanásia e o aborto – a concorrer a um novo mandato como presidente. Na sua declaração à imprensa, o partido destacou o objetivo principal de regressar à Assembleia da República, evidenciando o desejo de fortalecer a sua presença política. A escolha da data, aprovada por unanimidade no Conselho Nacional, visa garantir que os novos órgãos dirigentes estejam eleitos antes das eleições europeias de junho. O CDS, que está a participar, nestas eleições, em conjunto com o PSD e o PPM na Aliança Democrática, procura posicionar-se. Nuno Melo, eleito presidente do CDS-PP em abril de 2022, será novamente submetido ao voto dos delegados no congresso, reafirmando o seu compromisso com o partido e a sua liderança.