Israel retaliou, mas apostou na contenção

O gabinete de guerra israelita, respondeu aos ataques iranianos de 13 de abril. Cedendo à pressão americana para evitar a escalada do conflito, Israel decidiu apostar num contra-ataque cirúrgico, mais com o objetivo de deixar claro as suas intenções do que de fazer danos volumosos.

Após os ataques iranianos ao território israelita – que se saldaram num fracasso, tanto militar quanto estratégico –, ficou no ar a expectativa relativamente à resposta de Israel. Que o gabinete de guerra de Benjamin Netanyahu iria retaliar era um dado quase que adquirido, restava apenas saber as proporções.

Ao contrário do que estaria planeado – que, segundo o New York Times, seria um bombardeamento significativo a bases militares iranianas, mesmo as que estão perto da capital, Teerão – e após pressões diplomáticas, principalmente dos Estados Unidos, Israel atacou na passada sexta-feira de modo a não dar grandes pretextos ao Irão para retaliar, o que mergulharia o Médio Oriente, já instável, num conflito maior.

Na quarta-feira, o Hezbollah – milícia do Líbano apoiada pelo Irão – voltou a lançar ataques contra o Norte de Israel.

O contra-ataque

No passado dia 16, Israel contra-atacou e teve como alvo principal Isfahan. Mas mais do que causar danos significativos, o Estado judaico teve como principal objetivo enviar uma mensagem ao regime de Ali Khamenei. Foi demonstrada a capacidade israelita em matéria de inteligência e competência no âmbito militar, mostrando-se capaz de causar estragos em estruturas sensíveis dos iranianos.

Segundo a Euronews, o aiatola iraniano nem sequer mencionou este ataque israelita num encontro com altos dignitários do regime, mesmo que tenha obrigado o Irão a ativar as suas defesas antiaéreas. Khamenei apenas abordou o significado do ataque que o Irão perpetrou contra Israel: «Os debates da outra parte sobre quantos mísseis foram disparados, quantos atingiram o alvo e quantos não atingiram, são de importância secundária. […] A principal matéria é a emergência da vontade da nação iraniana e do exército iraniano numa importante arena internacional», declarou o líder supremo, citado pela AP.

O ataque foi mais dissuasivo que contundente, já que, e como foi escrito na passada edição do Nascer do SOL, a escalada para um conflito regional não é do interesse dos envolvidos nem dos respetivos aliados.

A questão da dissuasão

Israel já tinha tentado dissuadir o Irão com o ataque ao edifício consular da embaixada iraniana em Damasco, mas não foi eficaz. Também o facto de os iranianos operarem contra Israel apenas com base nos proxies, não dá aos israelitas a possibilidade de avaliar a situação com base em eventos anteriores, o que faz com exista uma margem de erro significativa.

E, como disse Henry Kissinger: «A dissuasão requer a combinação de poder, a vontade de o usar e a avaliação dos mesmos por parte do potencial agressor. Não pode existir uma lacuna na dissuasão […] ou é eficaz ou não é. Não há margem de erro. Os erros podem ser irremediáveis».

Neste caso, se o erro for mesmo irremediável – o que para já até parece improvável, dado a resposta contida de Israel –, poderá haver um conflito de proporções desconhecidas na região, tendo já o Irão ameaçado retaliar com «armas não utilizadas até agora».