A sua escolha como cabeça de lista nestas eleições foi uma escolha difícil, envolta em muita polémica. Isso já passou? No Congresso do Livre percebeu-se que Rui Tavares não lhe quis dar palco…
Eu percebo que tenha havido muita polémica, especialmente fora do partido, tendo em vista estas primárias, porque foi um processo aberto e transparente, ou seja, foi muito mais bem discutido cá fora até do que às vezes internamente. Eu vejo com naturalidade tudo o que se passou dentro do partido, no sentido em que nós temos processos legais.
Mas reconhece, como candidato, que não é o preferido do líder?
Nem posso concordar com isso, porque realmente não foi algo que ainda discuti com ele, nem ele tem de dar satisfações em relação a quem é o candidato preferido. A verdade é que sempre se manteve silencioso durante todo o processo…
Um dos temas fortes da sua campanha é a transição verde na Europa. Como olha para estas ações cada vez mais frequentes aqui em Portugal por parte de jovens que têm pintado fachadas de edifícios, têm causado perturbações no trânsito, têm inviabilizado até algumas partidas de aviões. Acha que essa é a forma de colocar a questão do clima e da transição climática na agenda social?
O Livre não considera que essas manifestações violentas ou até com destruição de propriedade sejam adequadas ao momento em que estamos a viver, até porque, muitas vezes, polarizamos o discurso e temos mais dificuldade de chegar às pessoas a que queremos chegar e, portanto, demarcamo-nos sempre desse tipo de manifestações.
Incluindo agora estas nas universidades?
Nas universidades não é uma questão de violência ou destruição de propriedade, há uma diferença, porque não é pelo propósito de destruir, é uma manifestação política. E nós sabemos que até aqui, em Portugal, o movimento estudantil esteve sempre muito empenhado nestas lutas políticas. Enquanto se mantiver saudável e sem violência, o Livre apoiará todas essas manifestações.
A transição verde tem sido nalguns sectores alvo de críticas e mesmo de algumas tentativas de travar o processo, por causa das consequências económicas que ele pode ter para alguns sectores em particular. Como é que o Livre responde, por exemplo, às críticas dos agricultores que se manifestaram por toda a Europa dizendo que estão a ser sacrificados em nome de uma agenda de transição verde?
Eu começava por notar como é que estão os outros países a reagir a esta transição energética. Nós vemos que a China foi o país que mais investiu nesta transição energética e já está a começar a colher frutos, já está na vanguarda dos painéis solares e nos carros elétricos. Nós vemos que agora os Estados Unidos, em função também deste investimento chinês, colocaram em cima da mesa um pacote também massivo de investimento público, sobretudo para a transição energética. E vemos que a União Europeia ainda está a discutir de que forma é que vamos fazer a transição energética. Portanto, nós já estamos atrasados nesta discussão. O que nós defendemos para a União Europeia é que haja um investimento público na transição energética e, ao mesmo tempo, dizemos que estas regras orçamentais não permitem este investimento público e não permitem fazer esta transição energética verde e ao mesmo tempo social, porque tem de se acompanhar sempre pelo pilar social.
Quanto à imigração, num dos primeiros debates trouxe um número para cima da mesa que muita gente considerou assustador, que é a previsão de 200 milhões de migrantes climáticos até 2050. Acha mesmo que esses números estão certos e que é comportável a Europa abrir portas a um fluxo de imigração que é mais ou menos metade daquilo que já é atualmente a população europeia?
Só para clarificar, o que eu disse é que estes 200 milhões vão estar em movimento. Não quer dizer que seja para a Europa. O que eu disse foi que ia aumentar o fluxo certamente para a Europa. Muitos destes refugiados climáticos vão ser europeus, vão ser pessoas que estão em vilas, cidades, que podem sofrer algum desastre natural, podem passar por períodos de seca que obrigará a mover de sítio dentro do país, ou para fora do país. Estes dados foram do Banco Mundial, portanto, não são os nossos dados, não foram os nossos estudos, mas são normalmente associações ou empresas que têm alguma reputação neste tipo de estudos.
E o que é que isso quer dizer?
Assumir que estes refugiados, não os 200 milhões, mas uma parte deles, queiram vir para a Europa e assumir que vamos ter esse desafio.
E tem um número preciso?
Não, números não temos, mas temos um aumento, pelo menos face ao que temos agora e que já está a causar muito transtorno e muita discussão política e estas discussões vão intensificar-se porque estes movimentos vão-se intensificar na direção da Europa. Provavelmente o discurso pró-segurança de fechar fronteiras também se vai intensificar. Primeiro, é preciso desmentir a afirmação de que fechar fronteiras torna o país mais seguro, assim como abrir fronteiras não o torna mais inseguro.
Mas o Livre acha que para se poder vir para Portugal se deve vir já com contrato de trabalho, que é uma questão que tem vindo a ser colocada, ou acha que os imigrantes podem vir e depois aqui procuram trabalho?
Em relação aos migrantes económicos, aí o contrato de trabalho pode ser uma opção, pelo menos para dar essa estabilidade. Mas relembrar que, neste momento, para se entrar na União Europeia já tem de se dar duas ou três vezes o salário mínimo, já tem de se demonstrar alguma fonte de rendimento ou pelo menos ter alguma capacidade financeira.
Reconhece que este tema tem sido um dos principais responsáveis pelo crescimento da extrema-direita em toda a Europa?
Tem sido porque se alimenta muito, sobretudo, de emoções e não da parte analítica ou de dados.