As notícias são animadoras: tudo indica que as taxas de juro irão descer já na próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE). O encontro está marcado para esta quinta-feira e os analistas contactados pelo Nascer do SOL mostram-se otimistas em relação ao comportamento da entidade liderada por Christine Lagarde, que deverá levar a cabo o primeiro corte em 25 pontos base.
Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do banco Carregosa, diz que a descida foi reforçada nos últimos dias pelo economista chefe do BCE Philip Lane e pela tendência de abrandamento da inflação alemã medida pelo índice de preços no consumidor em maio. E lembra que os preços subiram apenas 0,1% em cadeia em maio e 2,4% em termos homólogos e que na reunião anterior, de 11 de abril, Lagarde enviara um sinal claro de que poderia reduzir as taxas de juro à medida que a inflação na zona do euro continue a desacelerar.
Aliás, Olli Rehn, membro do BCE, afirmou que a inflação está a convergir de forma sustentada para o objetivo de 2%, o que sugere que chegou o momento de flexibilizar a orientação da política monetária e começar a reduzir as taxas em junho. No entanto, a XTB lembra que «essa decisão pressupõe que a tendência desinflacionista continuará e que não haverá novos contratempos na situação geopolítica ou nos preços da energia e enfatizou ainda que o BCE não está a comprometer-se previamente com qualquer trajetória específica de taxas, mantendo assim a flexibilidade nas futuras decisões de política monetária».
Ainda assim, o economista do banco Carregosa Paulo Monteiro Rosa reconhece que a descida das taxas de juro pelo BCE é muito limitada. «Até à reunião de 17 de abril do próximo ano, 2025, são esperados apenas 4 cortes de 25 pontos base, dos atuais 4% de taxa de depósitos para 3%. Além disso, o BCE deve continuar com a redução do seu balanço», revela ao nosso jornal.
Também Ricardo Evangelista, diretor executivo da ActivTrades Europe, lembra que a taxa de juro de referência do BCE está neste momento nos 4% e a descida de 0.25%, a confirmar-se, irá aliviar mas não altera o facto de que a política monetária se manterá em níveis que podemos considerar restritivos.
Efeito desfasado nas famílias
Paulo Rosa reconhece que o início de um novo ciclo de política monetária melhorará a qualidade de crédito, «mas substancialmente, tendo em conta que ainda não são antecipados cortes significativos nas taxas de juro». E, quanto ao impacto desta redução, não hesita: «O provável corte do BCE tem um efeito positivo desfasado nos bolsos das famílias portuguesas, levando tempo a fazer-se sentir, tendo em conta se os créditos à habitação são contratos indexados à Euribor a três, seis ou 12 meses. Por exemplo, um crédito à habitação indexado à Euribor a 12 meses e que tenha sido atualizado este mês, tem de esperar um ano para sentir este ligeiro alívio».
Já Ricardo Evangelista reconhece que «um cenário de redução das taxas de juro do BCE irá traduzir-se num alívio dos custos do crédito para as famílias», referindo que «será normal que as taxas Euribor desçam, o que significará um decréscimo nos juros a pagar por empréstimos de taxa variável, como por exemplo as hipotecas para compra de casa».
Mas as descidas ficarão por aqui? A XTB refere que as declarações dos responsáveis do BCE apontam para a necessidade do corte, mas não evidenciam os próximos passos a adotar no que toca à política monetária. «Como o corte parece ser um negócio fechado, a atenção dos mercados internacionais estará voltada para o que vem a seguir. O mercado monetário vê uma grande probabilidade de o BCE efetuar mais dois cortes este ano, sendo as reuniões de setembro e dezembro as datas prováveis». E chamam a atenção para o facto de o economista-chefe do BCE Philip Lane ter alertado que a tendência de desinflação pode não ser tão suave durante o resto de 2024 e que o BCE deve ter cuidado com o excesso de flexibilização, ou seja, reduzir demasiado rápido as taxas de juro.