Depois de Alcochete ter sido anunciado como a escolha para o novo aeroporto de Lisboa, o Governo já veio admitir que o mais difícil será a avaliação ambiental e a primeira visita técnica ao campo de tiro já aconteceu. O objetivo era avaliar as condições do terreno, bem como o cumprimento dos pressupostos da resolução do Conselho de Ministros e a ANA Aeroportos tem agora seis meses para produzir o relatório inicial sobre o desenvolvimento da capacidade aeroportuária para Lisboa, no âmbito do contrato de concessão.
Alcochete está há muitos anos em cima da mesa para que pudesse ser a solução para o novo aeroporto de Lisboa. Uma infraestrutura importante, sobre a qual ainda pouco se sabe, mas que poderá valorizar a região na qual se insere. E os preços no que diz respeito ao imobiliário já estão a registar oscilações.
Ao Nascer do SOL, Manuel Alvarez, presidente da Remax Portugal recorda que assim que foi feito o anúncio do Governo, a 14 de maio, foram registadas mudanças logo a partir daí. «Notámos um aumento da procura, sobretudo nas duas primeiras semanas (segunda quinzena de maio), mas em junho diminuiu levemente de intensidade». O responsável dá ainda números: «Para se ter uma ideia mais concreta, no primeiro trimestre do ano, registávamos, em média, 91 pedidos por mês em Alcochete, em maio registámos 169 e 157 em junho». E a tendência é que assim continue, pelo menos, são essas as expectativas. «Apesar de ainda não termos os dados finais de julho, somos levados a crer que esta procura muito intensa irá diminuir, ainda assim mantendo-se acima dos índices registados nos últimos trimestres», diz.
E se a procura aumentou, os preços acompanham ainda que de forma tímida. «Paralelamente, registámos algum interesse acrescido pela revisão de preços, mas nada que nos permita concluir ser uma tendência ou diretamente associado ao novo aeroporto, pois assistimos a esse aumento também noutras zonas e regiões», detalha o presidente da Remax.
Também Rui Torgal, CEO da ERA Portugal diz que, numa análise feita aos concelhos limítrofes ao campo de tiro de Alcochete, nomeadamente Benavente, Coruche, Alcochete e Montijo, «identificámos que, em alguns casos, existem variações relevantes destes indicadores», detalhando que, se no caso de Alcochete e Coruche «os dados disponíveis não nos permitem retirar grandes ilações, Benavente e Montijo evidenciam oscilações tanto a nível de procura como, consequentemente, de preço médio dos imóveis».
E detalha ao nosso jornal que, no concelho de Benavente, «analisando o ticket médio no conjunto dos seis primeiros meses do ano, registou-se uma subida de 17% face ao mesmo período de 2023». Já no Montijo, «a subida do ticket médio entre o 1.º semestre de 2023 e o 1.º semestre de 2024 foi de 38%». Rui Torgal adianta ainda que «em ambas as regiões, as variações mais significativas acontecem exatamente nos meses que compõem o 2.º trimestre deste ano – durante o qual surgiu o anúncio oficial do Governo sobre a localização do novo aeroporto».
E também a procura cresceu, analisa o CEO da ERA Portugal. «Em termos de procura, analisando o número de novos clientes durante os primeiros seis meses deste ano em relação ao mesmo período de 2023, percebemos que este indicador cresceu 4% no concelho de Benavente e decresceu 16% no concelho do Montijo».
Por sua vez, Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal, defende que «a tendência de valorização dos imóveis já existia antes desta decisão, pois as famílias portuguesas, e mesmo alguma procura internacional, estavam a mover-se para esta região à procura de imóveis ajustados ao seu poder de compra e ao estilo de vida que desejam».
Ao Nascer do SOL, o responsável diz ser «precipitado tirar conclusões definitivas sobre o impacto desta decisão no mercado imobiliário», até porque «ainda há muita informação e detalhes desconhecidos, além de mais de 15 Planos Diretores Municipais (PDM) que terão de ser revistos, o que poderá levar algum tempo e trazer novas dinâmicas ao mercado».
Preços em modo crescente
Mas não é de agora que os preços estão a registar um crescimento nesta zona. Os preços das casas e terrenos têm crescido em todo o país nos últimos anos e Alcochete bem como os concelhos limítrofes não serão exceção. A nova infraestrutura pode apenas, como será normal, inflacionar a região.
Uma análise do idealista mostra que atualmente o preço médio por metro quadrado em Alcochete é 2.496 euros. E até representa uma quebra de 0,9% face a maio mas um crescimento de 5,6% face a março e de 7,9% quando comparado com o mesmo mês do ano anterior. A tendência é a mesma no Montijo – onde o preço por metro quadrado é 2.198 euros – que aumentou 0,5% em comparação com maio. Já em Benavente, o preço médio por metro quadrado em junho era de 1.606 euros mas, ao contrário de Alcochete, já mostra um crescimento face a maio: 1,2%. Coruche segue a mesma tendência. Está atualmente nos 1.421 euros o mesmo quadrado, mais 1,1% que em maio. E, se compararmos com o mesmo mês do ano passado, a subida é de quase 20%.
O Nascer do SOL tentou perceber quanto custavam as casas e terrenos antes e agora. Manuel Alvarez explica que, no que diz respeito aos terrenos, «o mercado é relativamente reduzido se comparado com o das habitações. São vendidos terrenos esporadicamente, com áreas muito dispares e com diferentes acessibilidades, o que torna difícil comparar o antes e o depois». Quanto às habitações, acrescenta, «constata-se um aumento dos preços este ano (segundo dados do INE), muito embora tenha ocorrido uma redução em maio».
Manuel Alvarez defende que «talvez seja necessário esperar por setembro, outubro, novembro, para se ter uma noção mais concreta sobre o impacto da aprovação da construção do novo aeroporto, nos preços das casas, até porque muitas das que têm sido recentemente vendidas derivam de processos iniciados muitos meses antes».
Já Rui Torgal detalha que o ticket médio de imóveis no concelho de Benavente nos primeiros seis meses do ano passado eram 147.864 euros, tendo disparado para 172.765 euros no mesmo período deste ano. Já no concelho do Montijo em 2023 o valor médio era de 116.946 euros e em 2024 passou para 161.750 euros.
Mais oferta?
Para o presidente da Remax que «o aumento da procura é sempre um atrativo para que mais pessoas coloquem os seus imóveis no mercado, seja para arrendamento, seja para venda». No entanto, acrescenta, «a decisão sobre se o devem ou não o fazer é algo que compete a cada uma, atendendo às suas necessidades pessoais e/ou profissionais». Mas a Remax «tem de facto registado um aumento da oferta no concelho de Alcochete, sobretudo no 2.º trimestre deste ano». Manuel Alvarez dá exemplos e refere que no último trimestre de 2023 a rede colocou no mercado 43 imóveis, valor que subiu para 48 no 1.º trimestre deste ano e que voltou a subir para 63 neste 2º trimestre, «ou seja, um aumento da oferta em particular nestes últimos meses».
E continua: «Certo é que a aprovação da construção do novo aeroporto em Alcochete dinamizou o mercado imobiliário local, registando-se na rede Remax quer um aumento da oferta quer da procura, sendo ainda prematuro aferir sobre quão intensa será a evolução dos preços, pois muitos dos negócios que se estão agora concretizar derivam de decisões tomadas antes dessa decisão governamental».
No que diz respeito à oferta, Ricardo Sousa não tem dúvidas que, «com certeza haverá um aumento de interesse por parte dos proprietários e investidores para vender e investir nessas zonas, motivados pela valorização esperada e pelo potencial de desenvolvimento urbano e infraestrutura que a nova localização do aeroporto trará». No entanto, acrescenta, «é essencial monitorizar o mercado de perto para entender todas as implicações a longo prazo».