Com os níveis de tensão no máximo, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos encontram-se hoje a sós em São Bento. Os últimos dias foram recheados de avanços e recuos que deixaram o país em alerta máximo para a hipótese de uma crise política, mas, de acordo com várias fontes dos dois lados ouvidas nas últimas horas pelo Nascer do SOL, nada de substancial mudou quanto à disposição de Governo e PS poderem ter uma base de negociação que passe exatamente pelas duas linhas vermelhas apontadas por Pedro Nuno Santos no discurso da reentré no início do mês: IRS jovem e IRC.
Tal como escrevemos após a ronda negocial entre as duas partes, ocorrida já durante este mês, a delegação do Governo manifestou abertura para deixar cair o IRS jovem e, sobretudo, deu mostras de que não quer ir para eleições. Se tudo se mantiver como estava nessa altura, os socialistas estão preparados para negociar um entendimento e deixar passar o Orçamento para 2025.
Guerra de comunicados e convite sem resposta
Terá sido a tática política a ditar a guerra de comunicados a que o país assistiu no início da semana. A verdade é que as conversas para um encontro a dois entre Montenegro e Pedro Nuno foram feitas pelo primeiro-ministro logo no início do mês, como o nosso jornal noticiou em manchete na edição de 13 de setembro. O convite tinha surgido 10 dias antes e o secretário-geral do PS foi deixando o chefe de governo sem resposta. Com o tempo a passar e a ausência de resposta do Largo do Rato, numa altura em que os outros encontros com líderes partidários estavam já marcados, o gabinete do primeiro-ministro considerou que, «se a resposta não chegava a bem, teria de chegar a mal», facto que levou à publicação do primeiro comunicado no domingo à noite. Do lado do Governo, «não achámos aceitável que um líder partidário não encontrasse disponibilidade para responder a um pedido de reunião vindo do primeiro-ministro», diz-nos uma fonte ligada ao processo, que acrescenta: «A verdade é que passado poucas horas a reunião estava marcada».
Mas não foi o comunicado uma provocação ao Partido Socialista que só serviu para envenenar o ambiente entre os dois partidos? A resposta vai no sentido de esvaziar polémicas: «O encontro está marcado e era só isso que se pretendia».
Do lado socialista a provocação não foi bem aceite e deu azo a duras críticas e acusações de que o ambiente para negociar estava a ser minado por iniciativa do Governo.
Ao longo de toda a semana sucederam-se as críticas e acusações de que o que o Governo quer é ir para eleições. O facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter ao longo da semana reforçado a ideia de que, se não houver orçamento aprovado, há crise política foi mais uma dado a criar grande irritação nas hostes socialistas, que viram nas palavras do Presidente da República um apoio à posição do Governo e uma tentativa de fragilizar o PS.
Deputados do PSD recebem ordem de recato
A poucos dias de um encontro considerado decisivo para se saber se vai ou não haver Orçamento aprovado, os sociais-democratas têm-se esforçado para aliviar o ambiente de tensão que se tem vivido nas últimas semanas.
Com muitos debates para os quais os deputados do partido são convidados diariamente nas rádios e televisões com o tema do Orçamento quase em exclusivo em cima da mesa, Hugo Soares, lider parlamentar, enviou uma mensagem aos deputados a pedir «maturidade política e recato para que não se interprete erradamente que o Governo não quer um acordo». Na prática, o pedido do líder da bancada laranja era para que os deputados do PSDrecusassem os convites para participar em debates até à reunião desta sexta-feira entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Os deputados cumpriram a recomendação, mas foi o próprio Hugo Soares que quebrou a regra ao participar num frente-a-frente com Alexandra Leitão na Antena 1. O debate, garante uma fonte da bancada do PSD, já estava marcado há muito tempo e essa foi a razão pela qual não foi desmarcado.
Pedro Nuno leva propostas a São Bento
Segundo confirmou uma fonte socialista ao Nascer do SOL, o líder do PS deverá chegar amanhã à residência oficial do primeiro-ministro já com as propostas que os socialistas querem ver vertidas no Orçamento para o próximo ano. A mesma fonte admite que estas propostas foram elaboradas contando com a margem de mil milhões de euros que estava prevista para o IRSjovem, uma proposta que os socialistas dão como garantido que é para cair.
Apesar da troca de acusações dos últimos dias, entre os socialistas há a convicção de que a negociação é possível e que o entendimento vai mesmo dar aos socialistas o ganho de causa de uma cedência no IRS jovem e no IRC. Se, para além disso, mais alguma proposta socialista vai ser aceite é uma incógnita. Uma possibilidade levantada é a de que as propostas que a bancada socialista preparou na sequência da última ronda negocial terem a ver com as preocupações levantadas pelo Governo na tentativa de reter os jovens mais qualificados em Portugal e de aumentar a competitividade da economia. Se assim for, diz a nossa fonte, «é possível que se chegue a uma solução que traga mais uma diminuição de impostos para os portugueses e uma diminuição de impostos para as empresas».
No final, tudo poderá acabar em bem e sem um grande desvirtuamento dos propõsitos do Governo, apenas com alterações capazes de gerar consenso entre as partes, que, de acordo com vários economistas que têm vindo a público, não é assim tão difícil de alcançar.