No dia 19 de setembro, em Estrasburgo, o Parlamento Europeu votou uma resolução que aborda a situação na Venezuela, onde Nicolás Maduro continua a agarrar-se ao poder após perder as eleições para Edmundo González Urrutia.
O documento, uma iniciativa do Partido Popular Europeu em conjunto com os Patriotas pela Europa e os Conservadores e Reformistas, exige a publicação integral das atas eleitorais, o reconhecimento de Edmundo González como «Presidente legítimo e democraticamente eleito da Venezuela» e uma transição pacífica para a democracia.
É também condenado o aparato repressor do regime chavista, que detém, coage e assassina membros da Oposição democrática, e é feito um apelo ao Tribunal Penal Internacional para que inclua nas suas investigações os «alegados crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Maduro».
Aprovação e voto socialista
A proposta de resolução foi aprovada pelo Parlamento Europeu com 309 votos a favor, 201 contra e 12 abstenções.
Uma nota importante, para além do conteúdo do texto, é o sentido de voto dos socialistas. Apenas cinco votaram a favor, todos eles portugueses. Francisco Assis, Isilda Gomes, Sérgio Gonçalves, André Rodrigues e Carla Tavares destoaram dos restantes eurodeputados do grupo Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas e contribuíram para a aprovação da resolução.
Por sua vez, Marta Temido, Ana Catarina Mendes e Bruno Gonçalves aderiram à disciplina de voto socialista e os eurodeputados da Iniciativa Liberal, integrantes do Renew, não compareceram à votação. O Nascer do SOL tentou procurar explicações para a posição dos socialistas junto de Marta Temido, Ana Catarina Mendes e até da líder da bancada parlamentar na Assembleia da República, Alexandra Leitão, mas sem sucesso.
Contudo, pode chegar-se a uma conclusão ao analisar a justificação da delegação socialista de Espanha – a segunda maior do S&D -, que afirma que o grupo «não vota uma resolução que o PPE subscreve com Meloni, Órban e Le Pen e a extrema-direita alemã».
A posição dos espanhóis em nada abona à democracia, mas acaba por não ser surpreendente após o escândalo de coação e chantagem por parte de membros do regime venezuelano a Edmundo González na embaixada espanhola em Caracas, colocando em evidência a cumplicidade entre socialistas espanhóis e Maduro.
Assim, a explicação do sentido de voto dos três socialistas portugueses que votaram contra poderá ter que ver com a disciplina de voto, o que realça ainda mais a atitude dos cinco que se ‘rebelaram’, priorizando os princípios democráticos em detrimento de uma suposta aliança do PPE com os restantes grupos mais à direita. Se o objetivo dos socialistas for mesmo não votar ao lado da ‘extrema-direita’, seria importante rever as posições do partido liderado por Pedro Nuno Santos na Assembleia da República, onde já aprovou várias medidas com o CHEGA.
Caso se confirme a máxima de votar de forma oposta à da direita conservadora, Luís Montenegro cumprirá a legislatura na sua totalidade.
Bugalho desmente argumento socialista
Sebastião Bugalho, eurodeputado da Aliança Democrática e um dos nomes que contribuiu para a redação da proposta, garantiu que, «se há prova de que não houve qualquer tentativa de negociação com a extrema-direita, é que ele [Javi López] foi o negociador desta resolução em nome do Partido Socialista europeu». «O Parlamento Europeu, sendo uma casa defensora da democracia», acrescentou Bugalho em entrevista à SIC Notícias, juntando: «Também tinha de defender a escolha e a liberdade dos venezuelanos». O vice-coordenador do PPE na Comissão de Assuntos Externos do Parlamento Europeu diz ainda que tanto os socialistas como os liberais apenas não estariam de acordo com o reconhecimento de Edmundo González – um dos motivos pelo qual foi redigida a resolução.
Dos restantes eurodeputados portugueses, os dois do Chega, António Tânger Correa e Tiago Moreira de Sá, votaram a favor e João Oliveira, do PCP, e Catarina Martins, do BE, votaram contra. O Nascer do SOL tentou também confrontar João Cotrim Figueiredo pela sua ausência na votação.