Carlos Moedas e aeroporto – insustentável leveza da irresponsabilidade política

Sem estudos credíveis, a CML deixa-se abusar pela sustentabilidade ambiental sem base científica e que tudo arrasa

Carlos Moedas gaba-se: «A bem dos lisboetas aceitei realmente e dei muitos passos para que possamos ter esta moção conjunta». A moção defende o encerramento definitivo do AHD (Aeroporto Humberto Delgado) «tão rapidamente quanto possível, em menos de dez anos» (Eco 2024.09.26). Antes, há reunião pública para discutir os efeitos do aumento da capacidade do AHD, dominada por críticos da expansão (2024.09.23). Reunião e moção são fruto de amores ínvios entre um PSD local a distanciar-se do ministro Pinto Luz e a extrema-esquerda irresponsável que vai de algum PS refém da ideologia frentista com Bloco, livre e PCP. O consenso não resulta de estudos promovidos pela CML por entidades independentes, com base técnica e científica. Se a CML não mobilizar a técnica e ciência para tomar decisão bem fundamentada, acaba a apoiar, em nome do consenso, posições irresponsáveis. 

Desde logo, a CML ignora que ‘sustentabilidade’ compatibiliza ambiente, sociedade e economia. Sem os referidos estudos credíveis, a CML deixa-se abusar pela sustentabilidade ambiental sem base científica e que tudo arrasa. 

O aeroporto atrai atividades, emprego e população residente. O «encerramento definitivo do AHD» gera contração da economia da margem Norte e expansão na margem Sul, pela deslocalização das pessoas e atividades económicas para futura Cidade Aeroportuária com escala perto da do Parque das Nações. O custo da criação desta urbe tem sido escamoteado, por ser proibitivo e poder inviabilizar o Novo Aeroporto. Lisboa e circunvizinhanças perderão dezenas de milhares de postos de trabalho. Pior, esta CML não valoriza a atividade turística, base da reconversão urbana da Cidade no seu núcleo histórico, em ruínas e desabitado. Entre 1960/2011 e antes do turismo, as ‘freguesias turísticas’ perdem 120 mil dos 164 mil habitantes (73,2%). O impacte do fecho do AHD na competitividade da oferta de turismo, um pilar da qualidade de vida na Cidade, foi ignorado. Em síntese, a CML descurou a sustentabilidade económica do fecho do AHD.

A CML ignora a sustentabilidade social. Milhares de famílias terão de escolher entre perder emprego, residir em Lisboa (com o vai e vem), ou deslocalizar-se para a Margem Sul e aí criar laços de residência. A sustentabilidade social só tem em conta os residentes em Lisboa (poluição e ruído a mitigar) e não pode ignorar estes efeitos dramáticos do fecho do AHD.

A sustentabilidade ambiental exige medidas sérias de mitigação, implementadas de maneira rigorosa, e pagas pela Concessionária e Taxa Turística. Deve ter ainda em conta a pegada ecológica da deslocação cidade/aeroporto por milhões de passageiros, amenizada por ligação ferroviária e muito agravada pela rodoviária. Falta estudar a experiência de cidades estrangeiras comparáveis na mitigação dos efeitos da poluição e ruído pelo aeroporto. Não é verdade que o AHD seja caso único de proximidade ao centro da cidade. Em cidades da Europa (Orly, Zaventem) e sobretudo dos EUA (Nova Iorque com Kennedy, La Guardia e Liberty), a dinâmica urbana já integrou o aeroporto na urbe. O Google Earth dá noção deste processo. 

Residentes na margem Norte ignoram o impacte do fecho do AHD. A política que se preocupa com os votos de hoje e esquece o futuro não é sustentável. 

Acordai!