IL: Depois das críticas, Guimarães Pinto apela à tolerância

Depois de ter enviado mensagens a militantes a dizer que confessa sentir falta de apoio interno, o deputado Carlos Guimarães Pinto voltou a deixar recados para dentro do partido.

O antigo líder da Iniciativa Liberal não poupou críticas à comissão executiva do partido, tal como avançou o Nascer do SOL. Numa troca de mensagens com militantes por Whatsapp, Guimarães Pinto queixou-se da falta de apoio por parte do partido, nomeadamente na divulgação dos seus conteúdos em vídeo. «Nunca pedi ao partido para não publicar conteúdo meu. Antes pelo contrário, como qualquer deputado, até agradeço porque a conta do partido tem um alcance muito maior do que qualquer conta individual. A certa altura, percebi que os meus especificamente estavam a ser desmazelados, onde até faltava alguma edição básica que ajuda a popularizar, como legendas». E acrescentava: «Quem compare a edição dos meus vídeos publicados pelo partido com, por exemplo, os do Bernardo perceberá facilmente a diferença de edição». Contactado pelo Nascer do SOL não prestou qualquer declaração.

O nosso jornal sabe que este comportamento por parte da direção da IL_não é inédito – muitos consideram-no mesmo uma espécie de déjá vu do que se assistiu com Carla Castro depois de ter perdido as eleições internas para Rui Rocha com 44% do votos, o que a levou a abandonar o partido, afirmando ter sido uma decisão «refletida e ponderada». Esta saída ocorreu depois de ter recusado, em dezembro, o convite para integrar a lista do partido às legislativas antecipadas de março entre o quinto e o sétimo lugar pelo círculo eleitoral de Lisboa. Aliás, nessa altura, o deputado chegou a escrever nas redes sociais que lamentava a sua saída. «Tenho por hábito não comentar questões internas em público e não o irei fazer. Como é evidente, tenho muita pena que a Carla se tenha desfiliado. Sem desconsideração por todos os outros, tenho um enorme carinho por todas as pessoas que estavam no partido antes da entrada na Assembleia da República, aqueles que acreditaram quando poucos acreditaram e que se envolveram sem esperar nada em troca porque nada era o que havia para oferecer. A Carla foi uma dessas pessoas e lamento que saia do partido».

Nas mensagens enviadas a que o nosso jornal teve acesso, Carlos Guimarães Pinto também abordou o tema das últimas eleições internas. «Quem me conhece desde 2009 sabe que desde que saí do partido nunca me envolvi nas questões internas do partido. Nem sequer em 2019 quando houve umas eleições nominais para o Conselho Nacional em que me foi pedido que apoiasse alguns amigos, algo que rejeitei, porque achava genuinamente que eles deveriam ser eleitos por mérito próprio», garantindo que atualmente continua a partilhar a mesma opinião.

Mas ao contrário do desfecho da ex-deputada, Guimarães Pinto diz que se irá manter-se no partido, desde que a sua liberdade não seja condicionada. «Tanto o partido como o grupo parlamentar não me restringem naquilo que eu digo ou faço», referindo que «não é a situação ideal mas enquanto continuar assim, continuarei a fazer o meu trabalho». E não hesita: «Vivo bem com isto, desde que me deixem exprimir em liberdade, o que tem sido o caso. Não é o ideal, mas é o equilíbrio possível que penso ser positivo para o partido e para mim. Enquanto me quiserem, cá estarei».

Já esta semana, num artigo de opinião publicado no Observador intitulado ‘Segunda Oportunidade’, deixa um recado em relação às eleições internas que terão lugar no próximo mês janeiro o, no seu entender, «podem ser uma festa da democracia, contribuir para projetar uma imagem positiva da IL e do próprio liberalismo», referindo que «as circunstâncias, a inexperiência e alguma imaturidade impediram que isso acontecesse da primeira vez». Temos agora uma segunda oportunidade. Não a podemos desperdiçar».

Na corrida à liderança tem estado Tiago Mayan, ex-candidato presidencial da Iniciativa Liberal que esta quinta-feira foi revelado que tinha apresentado a demissão da presidência da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, para a qual foi eleito em setembro de 2021, avançou o Jornal de Notícias. De acordo com o Público, a demissão está relacionada com a gestão do fundo de apoio ao associativismo e ao fundo colaborativo, em que a câmara transfere verbas da para as juntas de freguesia, destinadas a financiar projetos de associações locais. De acordo com o mesmo jornal, caberá às associações apresentarem a candidatura à respetiva junta de freguesia, que constitui um júri ao qual cabe decidir quais os projetos apresentados para que as juntas possam apresentar um relatório à autarquia com o mapa de atribuição das verbas, no entanto, Mayan terá falhado todos os prazos a que a junta estava obrigada.

Já do lado da comissão executiva ainda não foi apontado nenhum nome, mas o nosso jornal sabe que tudo indica que será Rui Rocha a avançar novamente. O nome de Mariana Leitão tem também sido sugerido por vários militantes para concorrer contra Mayan, em detrimento de Rui Rocha, mas não está a agradar a todos, já que haveria o risco de levar a mesma equipa.

Defesa da liberdade

Apesar de não fazer referência às mensagens que foram partilhadas aos militantes da Iniciativa Liberal, num artigo de opinião publicado no Observador, o deputado chama a atenção para a questão da tolerância ideológica, referindo que se a tolerância com pessoas é importante para uma campanha saudável, a tolerância ideológica também é. «Faz parte de qualquer partido maduro ter fações ideológicas. Todos os partidos de alguma dimensão têm pessoas com uma opinião sobre determinado tema que embaraçaria outras pessoas no mesmo partido. Nunca conheci uma pessoa que concordasse com tudo o que o seu partido defende (eu próprio fui presidente da IL quando constava no programa político a abolição do IMI, algo com que discordo). Mas da mesma forma que as posições de um partido não vinculam totalmente os seus membros, as posições individuais dos membros não vinculam o partido. Não vinculando o partido é, ainda assim importante ouvi-las e permitir que as expressem em liberdade».

E lembra que não é por não estarem no centro ideológico do partido que essas fações ideológicas e grupos se sentem menos confortáveis ou devem sair. «Inevitavelmente, algumas dessas franjas estarão distantes entre si. Em muitos temas, pessoas de uma franja sentir-se-ão mais próximas de pessoas de outros partidos do que de outra franja distante do mesmo partido. Mas isto não quer dizer que não estejam no lugar certo. As pessoas de Bragança continuam a ser portuguesas, mesmo que estejam mais perto de Madrid do que de Lisboa. As pessoas de Viana do Castelo e de Vila Real de Santo António pertencem ao mesmo país, mesmo que convivam mais com espanhóis junto à sua fronteira do que umas com as outras», refere na mesma opinião.

Quanto à IL deixa uma palavra. «A IL não é um partido libertário, mas deve ser um partido onde libertários se sintam à vontade para expor as suas ideias em relação à dimensão do estado. A IL não é um partido liberal-conservador, mas deve ser um partido onde os liberais-conservadores se sintam confortáveis em expor as suas ideias sobre os riscos para o direito à vida de uma lei da eutanásia. A IL não é um partido liberal-social, mas deve ser um partido em que os liberais-sociais se sentem à vontade para defender discriminação positiva para determinados grupos ou impostos sobre heranças». E_conclui que «o partido nunca será perfeito para ninguém, será sempre composto por pessoas diversas, com diferentes personalidades e motivações, algumas das quais incompatíveis entre si. Esperar o contrário é utópico e o caminho mais rápido para a desilusão e o conflito».

Outros conflitos

Também esta semana, assistiu-se a uma desagregação do grupo de Lisboa, com as demissões do grupo de coordenação local, nomeadamente do vice-coordenador, João Graça. O nosso jornal sabe que Pedro Bugarin passou a assumir o cargo de vice-coordenador e que estas saídas estão relacionadas com um conjunto de decisões estratégias que criaram mal-estar.