MAI. Ministra a prazo

Dentro e fora do Governo são muitas as vozes que não têm dúvidas sobre a iminente queda de Margarida Blasco na sequência das declarações sobre o direito à greve dos polícias.

Erro de casting, ou inadaptação às funções ministeriais, são alguns dos comentários que se fazem no seio dos partidos da maioria sobre a ministra da Administração Interna. O último episódio que envolveu Margarida Blasco, «não foi um episódio qualquer, o que ela disse contraria aquela que é a doutrina dos partidos do Governo há muitos anos», refere-nos um deputado da AD. De acordo com a mesma fonte, a ministra está a prazo porque «não é possível numa pasta como esta ter alguém tão fragilizado».

Ao que foi relatado ao Nascer do SOL, «o primeiro-ministro passou-se com a declaração sobre a abertura para falar sobre a greve com as forças de segurança e não é por acaso que pouco depois saiu o comunicado e não se deixou à ministra a responsabilidade de corrigir as afirmações». O que mais chocou os deputados da maioria foi o facto de Margarida Blasco ter tocado num ponto sensível à saída de um seminário organizado pela  Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP), precisamente numa matéria em que, na campanha eleitoral, «tinha sido o motivo para Montenegro chamar irresponsável a André Ventura».

Montenegro quer segurar a ministra

Fonte governamental garante ao Nascer do SOL que, apesar da gravidade das afirmações, «o primeiro-ministro não vai deixar cair a ministra». Mas quando se pergunta como será possível segurar uma ministra numa pasta com a responsabilidade e visibilidade  da Administração Interna que acumula gaffes e maus momentos? A resposta é o silêncio.

No interior do Executivo já ninguém duvida que há um problema sério para gerir, embora ninguém arrisque prever qual vai ser o desfecho e quando. As ordens são para não dar relevância ao assunto, procurando baixar a temperatura das críticas e reduzir ao máximo a hipótese de novos episódios que possam comprometer Margarida Blasco. Para já,  o primeiro-ministro fez questão de confirmar a confiança na ministra no início do Conselho de Ministros desta semana, logo no início da reunião quando fez  a análise do momento político.

Outra fonte governamental sublinha a ingenuidade da ministra em ter aceitado participar até ao fim num encontro da ASPP em que o principal tema era a questão do direito à greve. «Foi lá para ser simpática e em vez de ter aberto os trabalhos  e depois sair, acabou por ficar a assistir à sessão de encerramento em que o tema era esse (o direito à greve) e depois faz aquelas declarações para amenizar o ambiente para as negociações prometidas para o início de janeiro», referem-nos.

Já para os que não estão no Governo, a opinião é que não tomar já medidas drásticas, ou seja, «não pensar numa mexida no Governo depois do Orçamento, é manter uma bomba relógio que pode rebentar a qualquer momento». De acordo com a mesma fonte, a mexida no Governo depois da aprovação final do orçamento poderá incluir também a substituição de ministro dos Assuntos parlamentares, Pedro Duarte, para que o também líder da distrital do PSD do Porto possa ter tempo para preparar uma candidatura à Câmara (ver págs. 10-11).

Também entre os deputados da oposição a opinião dominante é a de que Margarida Blasco tem o lugar a prazo e que a partir de agora o problema já não é da ministra, é do próprio Luís Montenegro. Um deputado que teve responsabilidades na área da Administração Interna, que prefere manter o anonimato,  diz ao nosso jornal que «é óbvio para toda a gente que algo não está a funcionar». Para este deputado, Margarida Blasco já está «fragilizada» e essa é uma circunstância que torna ainda mais difícil «o exercício de um lugar, que não é um lugar qualquer no Governo. É uma pasta que é muito exigente,  que requer muita energia e peso político».

Falta de liderança no SSI e na PJ não ajuda

O impasse que se vive na liderança de duas estruturas importantes na área da segurança interna é considerado um fator ainda mais fragilizador para a gestão da pasta de Margarida Blasco. O Sistema de Segurança Interna (SSI) está sem secretário-geral desde agosto. O lugar até aí ocupado por Paulo Vizeu Pinheiro, está agora interinamente nas mãos do seu ex-chefe de gabinete, «alguém que tinha funções sobretudo burocráticas e que não tem a autoridade nem o estatuto necessário para exercer as funções», diz-nos um ex-governante que considera «uma irresponsabilidade para a segurança nacional» a ausência, até agora, da escolha e nomeação para o lugar.

A prova de que as coisas não estão a funcionar como deviam em matéria de coordenação das forças de segurança em episódios recentes, são os desentendimentos entre a PSP e a PJ de que o Nascer do SOL tem dado nota nas últimas edições, a propósito da investigação que conduziu à morte de Odair Moniz.

É a ausência de alguém com o peso e a autoridade que lhe advêm de ser uma escolha do primeiro-ministro, na sua estrita de dependência, como é o caso do secretário-geral do SSI, que facilita uma descoordenação das forças de segurança em momentos críticos como os que se viveram nos incidentes do concelho de Lisboa.

As regras vão agora mudar, pois ontem o Governo decidiu nomear o novo secretário-geral do SSI, além de reconduzir Luís Neves à frente da PJ.

raquel.abecasis@nascerdosol.pt