Melo e Melo: Uma imagem vale mais que mil palavras

Uma semana boa para Nuno Melo é a forma como os centristas encaram as leituras do conhecimento público do encontro que manteve com Gouveia e Melo. Marcelo deu origem ao encontro, mas esperava outro resultado.

Ingenuidade. Apanhados de surpresa. É a explicação que os mais próximos de Nuno Melo e de Gouveia e Melo encontram para o facto de o ministro da Defesa e o chefe de Estado-Maior da Armada, também falado como candidato a Presidente da República, terem sido fotografados num encontro informal num bar em Lisboa. Fruto do acaso ou propositado, a verdade é que os dois protagonistas da foto que surpreendeu o país tiram vantagem da circunstância.

Um apoiante da candidatura de Gouveia e Melo à Presidência diz ao Nascer do SOL que o flagrante, «não tendo sido desejado por nenhum dos dois, acabou por ter um efeito positivo, porque deixa meio mundo nervoso, particularmente o Marcelo». Questionada sobre se o encontro pode significar um possível apoio do CDS à candidatura de Gouveia e Melo, a mesma fonte diz que «não é provável, nem desejável. Ele ganha em não ter o apoio formal de partidos e, como sinal externo, as fotografias já fizeram o seu papel», ou seja, «os simpatizantes do CDS olham para aquilo e pensam: já temos um candidato».

Apesar de a maioria das fontes por nós contactadas estarem convencidas de que o encontro era mesmo para ser reservado, a verdade é que as mesmas fontes consideram que o flagrante está longe de ser um embaraço para o líder do CDS ou para o almirante Gouveia e Melo.

Melo pressionado a reconduzir Gouveia e Melo

Na terça-feira, dia em que se deu o encontro noturno, Nuno Melo tinha tido um dia intenso no Ministério da Defesa, à noite tinha marcado um Conselho Nacional do partido e, ao que nos dizem as nossas fontes, Melo não teve tempo sequer para jantar. No início dos trabalhos no Largo do Caldas, o líder do CDS avisou que a reunião tinha de ser breve, e à saída comentou com os centristas ao seu lado que ainda tinha questões presidenciais para resolver nessa noite. A associação é óbvia: ia combinar com Gouveia e Melo o apoio do partido a uma candidatura? Nada disso, respondem-nos.

De acordo com as nossas fontes, Nuno Melo tem sido muito pressionado por Marcelo Rebelo de Sousa e por Luís Montenegro para acelerar um processo, desejavelmente de recondução do almirante das vacinas, de forma a evitar uma cada vez mais provável candidatura. «Não se pode forçar ninguém a aceitar uma nomeação e, portanto, é preciso auscultá-lo para saber se aceita», diz uma fonte centrista que esteve presente no Conselho Nacional. «O Marcelo tem feito uma pressão enorme para ele avançar com a recondução e é natural que o ‘assunto presidencial’ que tinha para tratar fosse esse».

PSD furioso, CDS divertido

As fotografias de Nuno Melo e do almirante Gouveia e Melo a entrarem num bar noturno deixaram muita gente no PSD (parceiro de coligação no Governo) furiosa com o líder do CDS. As críticas foram vocais nos meios de comunicação social, com particular destaque para o comentário de Miguel Relvas esta quarta-feira na CNN referindo-se ao CDS como «um partido marginal a querer influenciar as presidenciais». De forma menos vocal, outros sociais-democratas não gostaram do que viram e muito menos da falta de explicações para o inusitado encontro.

No CDS, o ambiente é bem diferente. Segundo um militante, «esta foi a semana de ouro para Nuno Melo, porque teve um rasgado elogio público de Marcelo e agora isto». O centrista refere-se a um episódio que ocorreu no mesmo dia em que foram tiradas as fotografias com Gouveia e Melo. Nessa tarde, o ministro da Defesa e o Presidente da República estiveram juntos num evento no Instituto de Defesa Nacional, uma ocasião aproveitada por Marcelo para um elogio público ao governante: «Vejo em si qualidades que o distinguem de todos os ministros com quem trabalhei». Quando, no dia seguinte abriu a televisão, «ter-se-á arrependido», diz a nossa fonte entre sorrisos.

Apesar de garantirem que a relação entre os dois partidos no Governo e mesmo no Parlamento é excelente, os centristas por nós contactados confessam estarem contentes com o ambiente que se gerou depois da divulgação das fotografias. «Tem graça a perceção pública que se criou», ouviu o nosso jornal.

Outra voz atira para o PSD a responsabilidade do mal-estar entre os dois partidos da AD, «a partir do momento em que fecharam as portas, ao dizerem que o candidato a apoiar tem de ser um militante do PSD, isso só tem a intenção de mandar uma indireta ao (Paulo) Portas».

 No Largo do Caldas respira-se um novo ambiente, não porque o partido tenha tomado ou venha a tomar uma posição em relação a apoios presidenciais, mas, diz um responsável, «eu gosto desta conversa, o CDS tem de ter as suas marcas» e, claramente, a agitação criada pelas leituras do encontro entre Nuno Melo e o almirante traz mais vantagens do que desvantagens ao partido. O apoio formal a Gouveia e Melo é duvidoso até porque Paulo Portas não vê a hipótese com bons olhos.