O candidato presidencial moçambicano Venâncio Mondlane acusou o presidente do Podemos, que apoiou a sua candidatura, de violar o acordo pré-eleitoral entre ambos. Isto porque admite a posse dos deputados eleitos pelo partido, até agora sem representação parlamentar.
Num esclarecimento enviado sábado aos partidos políticos, representações diplomáticas e ao Presidente da República, Filipe Nyusi, o candidato, que não reconhece os resultados proclamados das eleições gerais de 09 de outubro, recorda que assinou com o Podemos, em 21 de agosto, um “acordo político coligatório”, válido até 2028, que ”regula uma série de questões”, nomeadamente “decisões políticas do Podemos”.
“Estando, o estimável Albino Forquilha, presidente do Partido, numa série de pronunciamentos públicos e políticos, que vão na contramão do acordo, urge alertar ao povo moçambicano, e aos demais destinatários, que tais decisões, pronunciamentos públicos, acordos e negociações são nulos e de nenhum efeito, por violar o espírito e letra do acordo supracitado”, lê-se no documento, citado pela agência Lusa.
O partido até agora extraparlamentar Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), registado em maio de 2019 e composto por dissidentes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), viu a sua popularidade aumentar desde o anúncio, em 21 de agosto, do apoio à candidatura de Mondlane nas presidenciais.
No documento, Venâncio Mondlane recorda que Moçambique vive “uma das suas maiores crises políticas geradas pela mega fraude eleitoral” nas eleições gerais de outubro, e que está “engajado em combater a histórica e cíclica fraude eleitoral”.
“Todavia, para levar a bom termo essa luta, que tem, entre outros sacrossantos e inegociáveis desideratos a verdade eleitoral como epicentro, é crucial que a cruzada política ilegitima do ilustre presidente do Podemos tenha fim”, escreve ainda Venâncio Mondlane, garantindo que “foram feitos titânicos esforços de o demover desse descaminho contratual e político, entre contactos interpessoais, reuniões, escritos”.
Os resultados promulgados pelo Conselho Constitucional (CC) no dia 23 apontam o Podemos como o novo maior partido de oposição em Moçambique no próximo parlamento, cuja cerimónia de posse será previsivelmente em 13 de janeiro.
Dos 250 assentos que compõem a Assembleia da República, a Renamo passou de 60 deputados, que obteve nas legislativas de 2019, para 28 parlamentares. A Frelimo, no poder desde a independência, manteve-se com uma maioria parlamentar, com 171 deputados.
Nas presidenciais, o CC proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frelimo, como vencedor, com 65,17% dos votos. Foi também declarada a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
A eleição de Chapo tem sido contestada nas ruas e o anúncio do CC aumentou o caos que o país vive desde outubro, com manifestantes pró-Mondlane — candidato que, segundo o CC obteve apenas 24% dos votos, mas reclama vitória — em protestos a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização, com registo de quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas.