Quando chegamos ao restaurante, encontramos um segurança no exterior. Poucos minutos depois surgirá André Ventura, acompanhado pelos seus dois outros seguranças. «Duvido que tenha havido na história de Portugal algum político tão ameaçado como eu. Não quero dar muitos detalhes sobre isto, mas desde dois factos que aconteceram este ano, tive dois níveis de ameaça muito significativos. Recebo mensagens e emails diários a dizer que me vão matar». Sentamo-nos numa das mesas, onde iremos falar durante quase duas horas, enquanto os três seguranças almoçam numa mesa próxima. Percebe-se que algo mudou desde a última vez que nos encontráramos, no início de 2024.
Quando vocês dizem que é preciso a Polícia atirar a matar, não estão a alimentar o ódio que se reflete nas ameaças que recebe?
Nunca disse para a Polícia atirar a matar. O que disse, em relação ao acontecido na Cova da Moura, é que temos de deixar de penalizar os polícias em cada coisa que acontece. E que o polícia que matou o jovem não pode ser acusado, antes de as investigações estarem concluídas.
Chegou a falar no aumento de estrangeiros detidos nas cadeias portuguesas. Muitos acusam-no de mandar uns ‘bitaites’ sem qualquer base factual.
Não é verdade, nem é justo. O que se passa é que muita da comunicação social, que é quase toda de esquerda, tenta encontrar uma vírgula minha mal colocada para dizer que tudo é falso. As pessoas já perceberam que não é assim. Podem dizer que uma frase é demasiado forte, demasiado agressiva, que há exageros. Todos os políticos, sobretudo os que falam todos os dias, correm o risco de por vezes exagerarem…
Mas isso não acontece por querer encarnar o grande líder da extrema-direita portuguesa?
Acho que é por querer fazer a diferença, por não ter medo, e por tocar em todos os temas. Hoje os políticos estão a tornar-se uns ‘táticos’. «Disto não falo porque não vai ser bom», e por aí fora. Como sabe, porque já me entrevistou, há temas que me são desconfortáveis, mas não fujo a eles. E quem tem o dever de estar sempre a dar a cara comete erros, às vezes exagera…
Nomeadamente a afirmação de que vamos atirar a matar? A sua mãe tem algum orgulho ao ouvi-lo dizer tais coisas?
Repito que nunca disse isso. O que nós dissemos foi que os polícias têm de ter menos medo de usar a arma quando precisam de a usar. Em Portugal, os polícias têm medo de usar a arma… Hoje, muitos polícias que conheço dizem-me: «André, não vale a pena atuar. Se atuarmos, amanhã temos processos da IGAI, é chatices no comando, é suspensões…» Viu a notícia de que um polícia foi multado nos Açores por me ter cumprimentado? Pagou 200 euros por me cumprimentar, numa rua onde eu estava a fazer campanha. Disse-me «Força, obrigado por representar as forças de segurança’». Tumba! 200 euros de multa!
Acabou por não me responder se os seus pais têm orgulho nessas suas afirmações radicais…
Se calhar, não têm. Mas não faço política para os meus pais, faço política para as pessoas todas. Toda a gente que lida comigo sabe que sou zero racista. O Mondlane, de Moçambique, veio cá a Portugal e não só estabeleceu contactos connosco, como nos pediu apoio. Tive gosto em estar com o Presidente da Guiné-Bissau quando ele cá veio. Nós temos uma série de ex-combatentes, brancos e negros, que estão connosco, Não tem a ver com a cor da pele. Até porque muitos imigrantes que estão cá legalmente, inclusive brasileiros, não gostam dos que estão ilegalmente, dando uma má imagem dos imigrantes.
Estamos num restaurante em que um dos empregados de mesa é de São Tomé e outro do Nepal. Qual a razão para não assumir que precisamos de imigração controlada?
Sempre disse isso. O que nós queremos é quotas de imigração, não é proibi-la, é o tal controlo da imigração, e o PSD votou contra. O PSD faz sempre isto. Como quer tirar-nos algum eleitorado, diz alguma coisa que acha que os nossos eleitores vão gostar, só que depois não tem coragem para manter a posição e a meio volta atrás. Como aconteceu com o Martim Moniz. O primeiro-ministro acaba por não agradar nem aos seus, nem aos outros. Luís Montenegro é o exemplo de um desastre político em movimento. Isto é da história: quando queremos estar com os pés dos dois lados da ponte, corre sempre mal. E na imigração é isso: dizem que não podemos ter as portas escancaradas, mas quando chega o momento de votar as quotas de imigração votam contra.
Mas se não tivermos imigração paramos as obras, paramos a hotelaria, a restauração, a agricultura…
E sabe por que paramos? Porque temos portugueses a receber subsídios, muitos deles que não deviam. E não estou só a falar do RSI, estou a falar de outros subsídios. De desemprego, por exemplo. Tanto que vão aos restaurantes pedir a assinatura só para dizerem que foram à procura de emprego. Mas mesmo com esses todos a trabalhar, provavelmente precisaríamos de imigração. Por isso é que nunca falei em proibir a imigração, sempre disse ‘imigração controlada’. E também defendemos que a imigração de algumas zonas do mundo deve ter prioridade, em detrimento de outras que nos podem colocar problemas de integração e da segurança nacional.
Isso quer dizer o quê?
Sítios como o Médio Oriente, países com tradição completamente diferente da nossa no que diz respeito aos hábitos. Não devemos promover uma imigração de pessoas que tratam as mulheres como objetos ou que não lhes dão direitos porque acham que elas são seres para escravizar.
Fala contra a imigração, mas os evangélicos têm um peso muito forte no Chega, mesmo na organização do partido.
Admito que haja neste momento um grande número de militantes evangélicos e de brasileiros.
Brasileiros naturalizados portugueses?
Ou não. Desde que residam cá, podem inscrever-se.
Se é contra a imigração, como aceita imigrantes brasileiros no seu partido?
Desde que estejam regularizados e cumpram as regras, não tem problema. Não me espanta que tenhamos muitos, porque viram o que é a esquerda a governar e a destruir o país onde eles estão. Também temos santomenses, guineenses, moçambicanos… Apoiam-nos imensamente. Agora os que estão habituados a lidar com gangues e querem vir para cá assaltar as pessoas, esses não gostam de nós.
O Chega tem evangélicos, extrema-direita pura e dura, neonazis. Como controla isso?
Todos os tipos neonazis são completamente desprezíveis e são de afastar.
E Mário Machado?
Não tem o perfil que entenda que se enquadra no Chega. Tenho sido o travão a esse tipo de pessoas que fazem a apologia da violência. Pessoas que dizem que as mulheres de esquerda devem ser violadas nunca terão lugar no Chega.
Como controla isso?
O que nós conseguimos controlar e garantir é que os dirigentes são democratas, gostam de viver em democracia, não são de extrema-esquerda ou de direita. Quanto aos neonazis, não têm lugar no partido. Pessoas que fazem a apologia de violência contra raças não têm lugar no Chega. Por outro lado, quando digo que quero acabar com a impunidade que a etnia cigana tem em Portugal, não estou a fazer a apologia da violência. Quero acabar com coisas como as que vimos agora em Viseu, de disparos à luz do dia, como no Faroeste. Há imagens de ciganos com uma cultura de pistoleiros, e é contra isso que me manifesto. Há uma cultura instalada de impunidade, de armas, de subsidiodependência, de dominação da mulher… Vejam o que se passa nos hospitais. Quando algum está internado, os outros acampam no hospital durante dias. Toda a gente sabe isto, em Lisboa, no Porto, em Braga, e ninguém diz nada. Se eles não acabarem comigo, isto vai acabar.
Tem medo de ser morto?
Recebo ameaças diariamente e foi por isso que reforçámos a segurança. Ou seja, tenho receio de ser assassinado, mas não acredito em conspirações malucas. Confio que o Estado português está a fazer o seu trabalho, mas se me perguntar se tenho medo, não me vou estar a armar em herói e não vou dizer que não. É evidente que, às vezes, penso por mim, pela família e por tudo, mas como acredito muito em Deus não acredito que isso vá acontecer. Por isso, vocês ainda vão ter que levar comigo mais uns bons anos.
Nas últimas legislativas, em 2024, conseguiu 1.169.836 votos. Nas autárquicas de 2021, 208.232 votos. O que espera para as autárquicas, depois do último resultado?
Espero chegar perto das legislativas, embora saiba que é difícil. Mas espero ganhar câmaras.
Quantas?
Segundo as sondagens que temos, acho que vamos consegui-lo no sul do país. Não as maiores, mas temos possibilidade de vencer algumas no Algarve e no Alentejo. Em Setúbal, com alguma dúvida. E de Lisboa para cima será muito mais difícil. O que espero das autárquicas? A triplicação dos resultados das autárquicas de 2021, ficando entre os 700 mil e um milhão e tal de votos. Vencer algumas autarquias, e povoar o país todo com autarcas do Chega Queremos ter políticos de proximidade.
Vai ser complicado chegar ao milhão…
Mas vamos lutar por isso. Pode haver um contexto que nos favoreça. O facto de haver autárquicas e presidenciais logo a seguir pode criar um movimento de unidade de voto, uma espécie de movimento Chega, autárquicas-presidenciais.
Do poder político, quem manda mais em Portugal? Quem pode decidir mais a vida das pessoas?
De políticos? Diria o primeiro-ministro. Acho que os autarcas têm um peso importante, mas o primeiro-ministro é quem mais decide.
Então qual a razão para concorrer à Presidência da República, que tem os poderes de uma ‘rainha de Inglaterra’?
O Presidente da República no sistema português não é um corta-fitas, ao contrário de outros países.
Qual dos cargos gostava mais de desempenhar: Presidente da República ou primeiro-ministro?
O de primeiro-ministro. Já agora quero acrescentar que acho que vou à segunda volta das Presidenciais, em janeiro.
Marques Mendes insinuou que André Ventura pode desistir a favor do almirante Gouveia e Melo…
Já fui candidato à Presidência da República, e fui até ao fim. Já fui candidato a primeiro-ministro e fui até ao fim. Sei de uma pessoa que já foi líder do PSD e que nunca foi até ao fim, nem nunca se apresentou a votos. Precisamente Marques Mendes. Portanto, acho que não tem autoridade nenhuma para dizer que não vou até ao fim. Eu fui até ao fim em todas.
Então qual a razão para ter admitido que podia apoiar Gouveia e Melo?
Nunca disse que estava a pensar, disse que havia nomes que eu via como mais aceitáveis para serem Presidentes, como Pedro Passos Coelho, e falei também do almirante. Se Marques Mendes for a escolha do PSD, será uma péssima escolha, que vão pagar cara…
Acha que fica à frente de Marques Mendes?
Sim. E vou até ao fim porque acho que o país precisa de uma coisa diferente. E vou passar à segunda volta porque o candidato do PSD é péssimo, vai ser um desastre político a todos os níveis. E não sei se o almirante vai concorrer ou não…
Mas não está a altura do desafio?
Sim, não está à altura do desafio. E se o do PS for quem se perfila, Mário Centeno…
E se for António José Seguro?
Pedro Nuno Santos nunca o apoiará, porque a quadrilha de António Costa nunca permitirá que o PS o vá apoiar.
Conheço pessoas que votaram em si e que ficaram muito desiludidas com a rábula da eleição do presidente da Assembleia da República. Combinaram uma coisa e depois voltaram atrás.
Nós tínhamos um entendimento que a AD veio dizer, na própria manhã, que não existia. E disse que não queria acordos connosco. Se não é não, é não para tudo.
Mas de manhã havia acordo.
Vi Nuno Melo na televisão dizer que não havia acordo nenhum.
Mas podia ter dito: «Eu sou um senhor, vou cumprir o que combinámos. É uma questão institucional, vou aprovar».
A questão é que nós não estamos à venda.
Não é uma questão de estar à venda. Como católico que descobriu Deus aos 14 anos…
E perdi a virgindade aos 19…
E perdeu Deus pelo caminho…
[Risos] Nunca o perdi, ele esteve sempre aqui ao lado. Sabe qual é a diferença do nosso partido para os outros? É que o PSD habituou-se durante anos a ter muletas, partidos que se vendiam de qualquer maneira. Depois teve o CDS, agora tem a Iniciativa Liberal, habituou-se a tê-los na mão. Sabe o que os irrita? É que ao Chega não têm na mão. O que eles sentem, e daí a fúria toda contra o Chega, é que enquanto as Iniciativas Liberais e os CDSs são muletas, bonecos nas mãos deles, o Chega não se vende, e no momento em que eles menos esperam, está ali sem medo. E foi isso que eles não estavam à espera. Primeiro, combinaram, faziam um acordo connosco a dizer assim: «Vamos aprovar o presidente da AR, ok»? Mas depois, de manhã, vinham a público pisar-nos. «Não há acordo nenhum com o Chega. Com o Chega não se faz acordos».
Está certo. Mas porque não teve a elevação para poupar o país àquela cena?
A minha elevação é a do Antigo Testamento, ‘Olho por olho, dente por dente’.
Já entregou os 5% do seu ordenado?
Este mês é o primeiro. Vamos entregar tudo. Todos os deputados do Chega.
Vai apontar-lhes uma pistola à cabeça?
Fiz passar por todos uma declaração de compromisso. Reunimo-nos com a AR, a dizer como é que era. Como sempre, a AR não ajudou nada. Dizia que não dava, que não podia ser, que não se podia abdicar. Mas chegámos a um acordo. Este aumento, que vai ser pago todos os meses, vai para uma conta à parte do grupo parlamentar e daí é transferido para associações. A conta fica a zeros todos os meses. Todos os jornalistas podem consultar esta conta.
Não acha que se os deputados fossem mais bem pagos poderia atrair pessoas mais qualificadas?
Não tenho a ideia de que, se tivermos uma Assembleia técnica, teremos melhores deputados. Os deputados devem ser os representantes do povo que nós temos. Quero taxistas ou professores universitários. Quero os dois, por saberem o que é a vida.
Com essa linguagem está muito próximo da UDP, dos trotskistas.
Não acho. Fui professor universitário, e nunca fui da UDP. Sinto que é preciso na Assembleia quem represente os setores que também não têm tanta formação. Se não, quem os vais defender? Das domésticas, quem é que sabe quais são os seus problemas? As dificuldades que passam, que têm nos descontos? Olhe, o assédio das jovens mulheres…
Como viu o caso Rosalino?
O caso de Rosalino é um verdadeiro escândalo. Íamos ter alguém a receber 40% mais do que o primeiro-ministro, isso era absolutamente ridículo. Sempre fui contra isso. No Estado ninguém deve ganhar mais do que o PR. Porque é o topo máximo do Estado. Pode questionar se dessa forma os melhores podem não aceitar ir, também não sei se são os melhores. Quem está disposto a servir… Estou à vontade, porque já ganhei mais e já ganhei menos fora da política. Quando vim para a política sabia o que era.
Mas hoje o partido paga-lhe o suficiente para ter uma vida confortável.
Não paga, não. Sou o único que não tem salário do partido. Só recebo o ordenado da Assembleia da República, e devo ser dos que recebem menos porque estou em Lisboa e não tenho ajudas de custo. Quanto ao aumento dos salários dos deputados, o que nós defendemos foi que não se devia aumentar ou descongelar salários de políticos enquanto outras medidas da troika ainda estivessem em vigor. E acho que isto é perfeitamente razoável. Dou-lhe o exemplo das férias, a idade da reforma… Por isso é que os políticos deram um tiro no próprio pé.
Não esteve totalmente em sintonia com o guru do partido, Diogo Pacheco de Amorim…
Estou a dizer o que penso. Só se devia chegar aos políticos quando já o país todo estivesse sem cortes ou restrições do tempo da troika. Como isso não aconteceu, achei imoral o descongelamento.
Quando é que o Chega apresenta a proposta de redução em 50% da subvenção partidária?
Já apresentámos o fim dos benefícios fiscais dos partidos, e os partidos conseguem perfeitamente funcionar sem eles. Que sentido faz as empresas pagarem IVA e nós não pagarmos? E não estou a falar das subvenções, isso é outra discussão. O Estado não deve pagar aos partidos. Acabe-se com isto e cada um vai aos privados buscar o seu dinheiro, e os portugueses não têm de financiar os partidos. Mas foi o Estado português que disse que não podíamos ir buscar dinheiro a mais lado nenhum, que não nos podíamos financiar de outra forma…
Quando propuseram baixar em 50% a subvenção aos partidos?
Ainda agora no Orçamento propusemos e foi chumbado. Estamos fartos de o propor. Além disso, propus uma redução de 12% dos salários dos políticos, também foi chumbado… E agora vamos fazer o que mais nenhum fez: que é doar mesmo essa parte do salário. Acho que não se pode pedir mais.
Mais populista não se pode ser…
Escolhemos associações como a Castelo, que trata de crianças com deficiência, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, associações de ex-combatentes, de animais abandonados ou maltratados. Mas cada deputado irá ter oportunidade de escolher uma associação humanitária do seu distrito, e todos os meses o aumento salarial dos deputados do Chega irá para lá. Para uma pequena associação de bairro receber 10 mil euros ao fim de um ano pode fazer uma diferença muito grande. Aos deputados não fará grande diferença e estou à vontade porque, repito, sou dos que ganham menos.
Uma das acusações que vos fazem é que estão sistematicamente a votar ao lado do PS e a aumentar a despesa do Estado. Tudo aquilo que o comum dos mortais achava que não seria possível. Como se justifica esta aliança com o PS?
Não há aliança nenhuma. Há pouco tempo foi votado no Parlamento o fim do acesso irregular de estrangeiros ao SNS. Quem é que esteve ao nosso lado? Não foi o PS, foi o PSD. Quem é que permitiu o IRS Jovem? Quem é que permitiu medidas no âmbito IRC? Fomos nós e o PSD. Então aí também houve uma aliança?
Vocês vão com o primeiro que abrir a porta do táxi.
A nossa única aliança é com os portugueses. Quando vejo uma proposta não vejo de que partido é. Vejo se são boas ou más. Se são más, chumbo-as.
Acha que é justo um Governo ter que estar a governar com as despesas que a oposição determina?
Não estamos ali para dizer só ámen ao Governo. Para isso íamos para casa. Como o Governo é minoritário, tem que saber negociar. É o que acontece em todos os parlamentos na Europa. Este acha que não tem que fazer nada. Aliás, já se acobardam um bocadinho. Primeiro era ‘quero, posso e mando’. Vamos fazer – e, se isto cair, apresentem lá uma moção de censura. Entretanto, vieram as europeias, o PS ganhou e meteram a viola no saco. Agora vêm as sondagens, com o PS à frente, o Chega com 19%, é melhor não arriscarmos, pensam eles. O Governo estava doido para ir a eleições agora em janeiro. Porque era o melhor momento. Já viram que a Saúde está de rastos, a habitação está como está…
E vocês não queriam eleições porque estavam com medo de uma queda vertiginosa…
Nós? As sondagens davam-nos 19%! O Chega não se preocupa com a origem das propostas. Quem é que viabilizou o subsídio de risco para os bombeiros? Nós. A proposta era de quem? Do PCP. Não quero saber de quem é, se é boa e justa, votamos a favor. E como é óbvio teremos em conta a estabilidade financeira do país.
Deve ser frustrante para quem teve mais de um milhão de votos não conseguir fazer uma manifestação com mais de 900 pessoas. Porquê?
Isso é falso! Já tivemos cinco mil pessoas.
Qual a razão para não ter avançado com o sindicato Solidariedade?
Está a avançar. O Chega está a preparar um grande sindicato nacional, uma grande federação, que terá polícias, médicos, enfermeiros, professores, técnicos auxiliares, muitos auxiliares da função pública… Não vou sair da direção do Chega sem ter o Solidariedade montado.
Qual a razão para ter copiado o nome Solidariedade?
Porque é um nome emblemático na direita europeia, com raízes cristãs. Tenho um pensamento cristão nas relações de trabalho, acho que precisamos de um novo modelo de trabalho, de crescimento económico, o modelo de esquerda em Portugal já mostrou que é vazio, que não dá resultado. Por que acha que os trabalhadores do PCP se estão a juntar ao Chega? Porque perceberam que o PCP envelheceu e daí já não vem novidade nenhuma. O Chega é a sua nova luz, é o novo farol que eles têm. Quando oiço o Paulo Raimundo dizer que não percebe a razão do partido estar a perder militantes e a definhar, eu tenho uma resposta: chama-se Chega.
Qual a razão para o Chega ter chumbado a nova Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF) da PSP, que, no fundo, substituiria o SEF?
Nós defendemos a restauração do SEF, que foi desmantelado, e na altura o PSD esteve connosco. Mas mal chegaram ao Governo esqueceram-se do que prometeram. Já não interessava o SEF, era uma unidade lá dentro da Polícia. Uma unidade que nem explicavam onde é que iam buscar as pessoas! Se já temos a PSP com dificuldades para patrulhar as ruas, onde é que ia buscar mais pessoas para pôr na Unidade de Estrangeiros? Resposta, zero. A proposta da UNEF era completamente estúpida. E não alinho em propostas estúpidas.
Prefere o caos, pois agora é a AIMA que tem de tratar do repatriamento de ilegais, etc., que está ainda com mais dificuldades do que a PSP.
Agora o Governo tem de fazer o que já devia ter feito há seis meses, que era acabar com a AIMA e criar uma Polícia de Estrangeiros e Fronteiras. Eu estive a visitar a AIMA, e os ilegais estão acampados lá à frente. Este país é tão ‘república das bananas’ que os ilegais estão acampados à frente da agência que os devia controlar! Quando nós governarmos Portugal, e isso vai acontecer muito rapidamente, coisas como essas vão deixar de acontecer.
Vão governar Portugal quando?
Nas próximas eleições.
Não acha que tentou vulgarizar o Conselho de Estado com sua proposta de se discutir o problema da segurança?
Com todo respeito pelas pessoas que lá estão, que é muito, o Conselho de Estado está feito um grupo de velhos caquéticos e desnecessários à nossa República. Estou ali sentado, olho para aquela mesa e pergunto-me: quem é que estas pessoas ainda representam? Ninguém. Estão ali enquanto bebem um café e comem uns bolinhos e falam sobre como é que o mundo está a evoluir. Tentei, como conselheiro de Estado, tornar aquilo em algo que diga alguma coisa às pessoas. As pessoas estão a sentir a violência no seu dia-a-dia, nas ruas, então qual a razão para nós, conselheiros de Estado, não discutimos alguma coisa que interesse? E, aparentemente, o PR achou que devia ter alguma razão, tanto que distribuiu pelos outros conselheiros a minha carta.
A sua ida à Rua do Benformoso acabou por ser um pouco a imagem que dá: na ânsia de protagonismo, acaba a dar cinco euros a uma suposta toxicodependente…
Tem alguma razão. Se calhar, não devia ter dado. Quando cheguei ali, a senhora estava sentada ao lado do que deveria ser o seu namorado, que estava em estado incapaz, e a senhora aparentava, num primeiro juízo, estar normal. Não estar sob o efeito de nenhuma droga.
Mas não viu?
Não, não vi. Ajudei, foi uma coisa de coração. Se me perguntar hoje se devia ter ajudado, digo que não. E é um pouco contraditório com aquilo que ando a tentar dizer, que não se deve alimentar vícios. Arrependi-me!
Ainda pertence ao quadro do Ministério das Finanças?
Estou de licença sem vencimento prolongada e o quadro legal ainda continua.
Em fevereiro de 2024, criticou Trump por apelar a Putin para atacar os países que são irresponsáveis. O que acha de Trump estar dizer que quer conquistar a Gronelândia e o Canal do Panamá?
Não sei se era mesmo esse o sentido. Só li hoje essas declarações. Acho inaceitável. Não é bom para a estabilidade mundial e acho absolutamente desnecessário a uns dias de tomar posse que faça declarações como essas. E julgo que não são sérias, no sentido em que penso que não está a referir-se a isso como Putin se referia à Ucrânia há uns anos atrás. Está só a querer criar instabilidade, o que não é bom para nós, que já vivemos num mundo altamente instável.
E é capaz de criticar Elon Musk?
Tem tido um trabalho e uma atitude até bastante positiva. Aliás, estou a contar com o apoio dele nas próximas eleições presidenciais.
Não acha que perdeu muitos votos com a história dos cartazes no Parlamento?
Acho que ganhei, mas admito que possa ter perdido.