Os rumores de uma possível coligação entre a Iniciativa Liberal (IL) e o PSD para as próximas eleições autárquicas já faz soar alarme junto dos militantes, ao ponto de já ter sido apresentada uma moção setorial que será discutida na próxima Convenção da IL a 1 e 2 de fevereiro que recomenda a não existência de coligações em Lisboa, Porto e Braga. É certo que a última palavra cabe ao Conselho Nacional, uma vez que é o órgão responsável por acompanhar e orientar a estratégia política da IL, sendo composto pelos membros da comissão executiva e por 50 membros não-executivos, eleitos em listas.
«Apesar dos rumores que indicam já existe uma coligação fechada, a realidade é que tem de passar pelo Conselho Nacional e ainda por cima há uma moção de membros a querer garantir que tal coligação não aconteça», dizem militantes ao Nascer do SOL.
Mas também é certo que, de acordo com os estatutos da IL –_que têm sido alvo de propostas de alteração pelo movimento Unidos pelo Liberalismo, que tem agora como cabeça de lista Rui Malheiro a concorrer à liderança – tem um conjunto de representantes de outros órgãos também presentes nas reuniões por inerência. Um desses casos é a Comissão Executiva, que também tem direito de voto. Também o presidente do conselho de jurisdição e o de fiscalização estão presentes por inerência mas apenas como observadores.
Na moção a que o Nascer do SOL teve acesso, redigida por Ricardo Monteiro, membro do Núcleo Territorial de Lisboa, é recomendado aos próximos órgãos nacionais da Iniciativa Liberal que a solução para os maiores municípios nacionais passe pela apresentação de ideias e candidatos próprios, pondo de parte qualquer coligação com a AD em Lisboa, Porto e Braga. Com o título ‘O Futuro das nossas cidades exige coragem e liberdade, não coligações’, conta com o apoio de diversos membros do partido, incluindo Paulo Ricardo Lopes, cabeça de lista ao Conselho Nacional da Iniciativa Liberal pela Lista D – Dar Voz ao Liberalismo, e tem como «objetivo libertar os membros dos grandes núcleos da Iniciativa Liberal, que pertencendo a Núcleos mais experimentados estão em melhores condições de apresentar as soluções liberais aos seus munícipe».
E acrescenta: «Lisboa e Porto foram dos primeiros Núcleos Territoriais do nosso partido, dispõe de melhores recursos que a generalidade dos núcleos, quer seja em termos de capital político, recursos financeiros e principalmente membros capazes e ávidos de levar a nossa mensagem aos seus conterrâneos», defendendo que «a IL tem a força de propor soluções independentes e eficazes para as nossas cidades, sem submeter-se a acordos políticos que não refletem a nossa visão de futuro.
A moção diz ainda que ocrescimento do partido passa pela capacidade de manter a sua autonomia e de ser uma verdadeira alternativa ao sistema. «Consideramos que anularmo-nos em coligações seria refrear a energia que nos tem caracterizado, travar a onda liberal e contribuir para a perpetuação em diversos cargos de elementos de máquinas partidárias obsoletas».
É de referir que as moções setoriais são de iniciativa dos membros, em que o primeiro proponente tem de arranjar mais 24 subscritores. Ao que o nosso jornal apurou, muitos militantes dizem não ter «problemas nenhuns para se discutir em convenção a vontade dos membros de haver ou não coligação nestas três cidades», mas também reconhecem que «o que sai de uma moção deste tipo pode condicionar a forma como a comissão executiva e o conselho nacional depois podem reagir se houver um proposta de candidatura».
Soma e segue
O prazo para a entrega de candidaturas terminou no domingo e, tal como era expectável, mantiveram-se as previstas para a Comissão Executiva: Rui Rocha e Rui Malheiro. Já para o conselho nacional avançaram seis listas, tal como já tinha sido avançado pelo Nascer do SOL.
As últimas a apresentarem a sua candidatura foram a lista D, encabeçada pelo antigo conselheiro nacional do partido Ricardo Lopes, que promete «fortalecer a estrutura interna do partido para abordar com capacidade o exigente ano de 2026»; a lista A, liderada por Francisco Cudell, que defende uma «renovação comunicacional» no partido e um reforço de poderes por parte dos núcleos territoriais; e a lista M, liderada por Jorge Pires, que acena com um «programa de ação enraizado em valores libertários, na defesa intransigente da liberdade individual e no compromisso com uma verdadeira revolução económica e social».
Estes nomes somam-se às listas que já eram conhecidas. Bernando Blanco é o rosto da lista F e defende que o partido «deve ter no centro da agenda a mobilidade social e o combate à ocupação política do aparelho do Estado», referindo também que a IL deve dar «uma resposta moderada» às mais variadas preocupações dos cidadãos, em temas como a segurança, justiça e imigração. Quer que o partido contribua para «colocar a mobilidade social e o crescimento económico baseado na desburocratização e na inovação no centro da agenda, em Portugal e na Europa».
Já André de Serpa Soares vai encabeçar a lista T e considera que a IL «deve ser o partido de todos os liberais, acolhendo diversas perspetivas ideológicas dentro da matriz do liberalismo social, político e económico. Apesar das diferenças naturais entre liberais, o objetivo comum é claro: um Portugal com mais liberdade económica, social e política». Também prop´~oe que a IL_reforce «o seu papel como partido reformista, liderando a transformação em áreas críticas como a reforma do Estado, educação, saúde, justiça, segurança social, habitação, fiscalidade ou imigração», acrescentando que «mais do que ideias, a IL precisa de propor soluções concretas».
Por último, Pedro Ferreira, atual vice-presidente da mesa do Conselho Nacional e da Convenção da Iniciativa Liberal, encabeça a lista X. Diz que objetivo é «contribuir para a expansão das ideias liberais em Portugal e para o crescimento do partido em todos os seus contextos», referindo que «valoriza a diversidade de pensamento e rejeita unanimidades forçadas».
A Convenção vai também contar com três candidaturas ao Conselho de Jurisdição e quatro ao Conselho de Fiscalização.
Fuga de informação
A presença de Tiago Mayan na próxima convenção da Iniciativa Liberal estaria para já em segredo dos Deuses, mas internamente houve uma fuga de informação que atirou o nome do ex-candidato à comissão executiva cá para fora. O Nascer do SOL sabe que as únicas entidades que têm acesso às inscrições dos membros é a mesa e a secretaria-geral, ou seja, os serviços administrativos do partido e os nomes só serão revelados quando os cadernos de inscritos estiveram fechados. Várias fontes ouvidas pelas nosso jornal consideram que «esta fuga foi propositada não só para destabilizar a convenção» como também para ver listas, nomeadamente a de Rui Malheiro que é o rosto do Unidos pelo Liberalismo, «saíssem em sua defesa».
O nosso jornal sabe, no entanto, que a possibilidade de Mayan estar presente causa algum mal-estar junto dos militantes.
Recorde-se que Mayan foi obrigado a desistir da sua candidatura depois da polémica em torno da falsificação de assinaturas. Na altura, Rui Rocha quando foi revelado o caso defendeu que o Conselho de Jurisdição tomasse uma «decisão exemplar, expedita e justa». E acrescentou: «O que é relevante é que o partido funcione, que os seus órgãos funcionem. Estas questões surgem em todos os partidos, aquilo que é diferenciador é a forma como os partidos reagem».