Na Igreja, como na Maçonaria, os seus membros, regra geral, não gostam de ver notícias onde se diz que apoiam este ou aquele político. «Dizer que muitos benfiquistas apoiam o candidato X, não significa que o clube pense o mesmo», diz ao Nascer do SOL um teólogo que não gosta de ver a Igreja associada a candidaturas presidenciais. E muito menos de ouvir dizer que, por exemplo, o Opus Dei segue esta ou aquela linha política. Ou que há elementos do Opus que pertencem à Maçonaria, nomeadamente à Loja Regular. Factos são factos e não é por se ser padre ou maçom que não se tem preferência política. «É normal que na Igreja haja uma parte importante [bispos] que apoia Gouveia e Melo. Desde logo os dois ex-bispos das Forças Armadas e Segurança, D. Rui Valério, patriarca de Lisboa, e D.Manuel Linda, bispo do Porto. Também é natural que o atual, D. Sérgio Manuel Ribeiro Dinis, esteja em sintonia com os seus antecessores», explica um sacerdote.
Vejamos, por exemplo, o que disse D. Rui Valério ao Nascer do SOL em dezembro, quando questionado sobre uma hipotética candidatura presidencial de Gouveia e Melo: «Vejo com muita naturalidade. Não nos esqueçamos de que a nossa democracia alcançou já a maioridade há algum tempo. São 50 anos. Somos um país que tem uma história de 900 anos, que já viveu de tudo e o seu contrário, portanto, neste espírito de um país que tem História, memória, que tem esperança e que tem futuro, aquilo que eu entendo é que alguém, como é o caso do senhor almirante, que fez do servir a nação o lema e o princípio e critério da sua vida, não tenho dúvidas nenhumas de que será esse o princípio único e exclusivo que o norteia».
O patriarca de Lisboa foi ainda mais longe nos elogios ao seu antigo ‘colega militar’, falando num hipotético desempenho de Gouveia e Melo em Belém: «Com o mesmo carisma, com a mesma disposição que um dia jurou estar disponível para derramar o seu sangue para defender Portugal, para servir Portugal, não tenho dúvida nenhuma que, se no seu entender, este passo ou outro, for o caminho para melhor servir o seu país, com naturalidade vejo que é esse o caminho que ele abraça».
Américo Aguiar nega apoio a almirante
Se é verdade que o apoio, ou não, dos bispos a este ou aquele candidato não são tema de conversa pública – «nunca dei por isso», diz um bispo ao Nascer do SOL – a verdade é que há conversas pessoais onde o tema é debatido. Mas Igreja não quer pronunciar-se publicamente sobre o tema, até para «não cair na contradição de criticar Américo Aguiar por passar a vida com políticos e pedir, por exemplo, o fim de portagens e agora dar o apoio a este ou aquele político», comenta outro padre.
Curiosamente, Américo Aguiar é outro dos nomes que se fala – também se comenta o de Braga e de Leiria –, mas o bispo de Setúbal nega, ao nosso jornal, categoricamente tal intenção. «Sou cada vez mais monárquico no que à chefia do Estado diga respeito».
«A Igreja gosta de ordem e de decisões, algo que o almirante corporiza», acrescenta um teólogo.
Quando se começou a falar na candidatura de Gouveia e Melo logo um grupo de maçons e de católicos ligados ao Opus Dei se chegaram à frente. Pareceu estranho para muitos que tal união fosse possível, mas é por não estarem dentro das regras da Grande Loja Regular de Portugal, que, ao contrário do Grande Oriente Lusitano (GOL), só admite crentes, excluindo agnósticos e ateus. Como a sede da Grande Loja Regular fica em Telheiras, em frente à ‘igreja’ do Opus Dei, e como há muitas ligações entre ambos, é natural que membros da Obra sejam também da Maçonaria.
Para quem pense que é conversa, e não um facto, atentemos no que escreveu no seu site a Maçonaria Regular. «A Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal tomou conhecimento da resposta publicamente divulgada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, datada de 13 de Novembro de 2023, reiterando que ‘a filiação activa de um fiel à maçonaria é proibida, devido à irreconciliabilidade entre a doutrina católica e a maçonaria». «Na verdade, na maçonaria regular recusamos nas nossas Lojas ateus e agnósticos, admitindo um número cada vez maior de praticantes das designadas ‘religiões do livro’, com destaque natural em Portugal para os praticantes da fé católica».
Será pois natural que a Igreja, em diferentes ‘capelas’, e a Maçonaria, através de irmãos pertencentes à Regular, estejam na linha da frente no apoio a Gouveia e Melo a Belém.