Diz que não se arrepende de ter revelado os nomes de crianças imigrantes e acusa a esquerda de ter empolado o caso sem razão. Acredita que a polémica serviu para dar visibilidade a um problema de que muitos portugueses se queixam.
Tem dado muito que falar a divulgação de uma série de nomes e, no seu caso também com os apelidos, de crianças que estudam nas escolas portuguesas. Dado o impacto que isso teve, voltaria a fazê-lo?
Dado o impacto que isto teve, voltaria a fazê-lo da mesma maneira, porque pela primeira vez consegui ver este tema na ordem do dia e verdadeiramente discutido.
Mesmo sacrificando a identidade de crianças?
Eu julgo que a identidade de crianças não foi revelada, porque os nomes não são identificativos se não tiverem outros dados e detalhes. Mesmo a nível da proteção de dados, não revelei nem NIF, nem o nome da escola, nem fotografias.
Mas mesmo assim são identificáveis com os dados que revelou?
Com imensa dificuldade. Existem mais de 1000 creches com vagas para pré-escolar, parece muito difícil que consigam identificar exatamente a escola, exatamente a criança. E nem sequer seria esse o objetivo da intervenção. O objetivo era só destacar que os critérios de distribuição das vagas não são corretos. Temos de priorizar as famílias trabalhadoras, sejam imigrantes ou não, sob pena de estarmos a penalizar e a sacrificar maioritariamente mulheres que se estão a desempregar para poderem cuidar dos seus filhos, porque não têm onde deixá-los.
Mas estas crianças que identificou, não tem a certeza se são filhos de pais desempregados?
Não, mas os critérios de atribuição de vagas priorizam uma série de condições, não só as condições desfavoráveis no contexto económico, como também a situação de desemprego, com o argumento de que as pessoas precisam de tempo para procurar trabalho. Várias vezes foi discutido aqui na Assembleia da República e, aliás, eu até me recordo de intervenções muito menos polémicas. Recordo-me de uma em julho de 2023, onde citei testemunhos de pais e mães portuguesas nestas circunstâncias e, à data, não gerou tanto burburinho, talvez porque os nomes que eu estivesse a dizer eram portugueses e não estrangeiros. Por isso parece-me que se deu aqui um ênfase desproporcional que não se dá a outros temas, e que o ênfase que foi dado acaba por dar muito mais visibilidade ao tema do que se tivesse sido apenas mais um vídeo. O vídeo estava com visualizações perfeitamente normais, que costumo ter nas redes sociais. A partir do momento em que a extrema-esquerda, através do Livre e da deputada Isabel Moreira, começaram a bater nesse tema e a partilhá-lo massivamente, passou a ser muito maior. Portanto quem queria, aparentemente, proteger crianças, acabou por tornar o tema muito maior do que seria. E depois eu meramente referi o tema das vagas nas creches. Não entrei por outro tipo de conversas que poderia ter, nomeadamente de substituição populacional, dos portugueses se sentirem cada vez mais minoritários em várias zonas do país. Tenho pena que o que tenha chocado aqui não seja a falta de oportunidades que estão a ser dadas às famílias portuguesas e aos filhos portugueses, mas seja apenas este fetiche que uma certa elite caviar tem de proteger os aparentemente mais desfavorecidos e não os portugueses que estão a sofrer com a falta de serviços públicos e a falta de capacidade de infraestruturas que temos, que é evidente, que é estrutural. Isto não é responsabilidade dos imigrantes, é responsabilidade das políticas que foram adotadas ao longo dos últimos anos. Quando temos mais de um milhão de pessoas a chegar ao país, naturalmente vão sobrecarregar aquilo que já não funciona.
Mas a verdade é que para as pessoas que cá estão e que têm filhos, um dos fatores que é considerado muito importante é exatamente integrar as crianças nas escolas para que possa haver uma boa integração dessas comunidades. O facto de ter colocado ênfase nesta questão com aquela escolha de nomes não vai em sentido contrário dessa ideia?
Não, porque não só não queríamos criticar a integração que é necessária e que tem de ocorrer, como jamais defenderia que o acesso à educação não deva ser universal e que deve ser apenas para os portugueses. Pelo menos comigo não contam com esse tipo de discurso. Esse é um discurso que vai surgindo cada vez mais na sociedade portuguesa, mas também como resposta a um extremismo do outro lado que banalizou tanto uma falsa inclusão que gera revolta. E quando as pessoas sentem revolta nem sempre têm capacidade de exprimir essa revolta pelas vias mais democráticas ou pacíficas. E muitas das vezes acabamos por ver de facto comportamentos que chocam. Mas esta não era a intenção do vídeo, a intenção era dar voz a quem diariamente nos contacta. E se eu lhe mostrasse o meu telemóvel, lá poderá ver na caixa de mensagens de todas as redes sociais, testemunhos de centenas de mães, de centenas de crianças que não conseguem ter vagas e depois vivem um drama que é colocar os seus filhos numa rede privada, sendo que isso vai significar que metade do seu salário vai ser gasto com essas despesas.
O que é que propõem para resolver esse problema?
Desde logo uma proposta que até já está a ser implementada na Região Autónoma dos Açores, que gerou muito burburinho, mas que depois se esfumou na ordem do dia, que era priorizar os pais trabalhadores. E depois, naturalmente, as redes públicas de creches têm de ser alargadas. Não podemos ter falsas ideias, se não tivermos mais infraestruturas: creches, hospitais, transportes, não vamos ter mesmo capacidade para dar resposta à dimensão populacional. Alterar as prioridades no programa Creche Feliz para que as famílias monoparentais e trabalhadoras possam ter prioridade e não os critérios atuais de situação de desempregado, ou meramente uma situação económica onde os imigrantes acabam por se chegar à frente e por ter prioridade. Isso é o que dá aquilo que nós vemos nas listas, que são vários nomes estrangeiros e menos nomes portugueses.
São temas ou medidas que vão tentar negociar no próximo Orçamento de Estado?
Certamente que sim. Vamos apresentar já em breve um programa de apoio à maternidade e paternidade com várias propostas, algumas delas que já foram apresentadas anteriormente, mas que valorizam o papel da família, que infelizmente, foi sendo desvalorizado. Aliás, nós vemos com perplexidade, a esquerda voltar a falar em família quando fala em reagrupamento familiar, ou voltar a preocupar-se com os direitos das crianças, depois da Rita Matias e do André Ventura terem mencionado nomes de crianças estrangeiras. Ao longo dos últimos anos foram praticadas atrocidades e violações dos direitos mais fundamentais e elementares das crianças nas escolas, não só com a disciplina de cidadania, mas também com a introdução de temas que não são naturais no desenvolvimento da criança e que não são para ser colocados naqueles estágios do desenvolvimento. Isso nunca chocou a esquerda e a extrema-esquerda.
Sentiu-se vitoriosa?
Não, não vitoriosa. Mas consegui o objetivo de ver o tema discutido. Lamento imenso que depois também haja um oportunismo político de aproveitar para denegrir a imagem de André Ventura ou de Rita Matias. Isto, sinceramente, parece-me que é o espírito de grande parte desta bolha política e mediática que não compreende que este drama que foi relatado é um drama real para todos nós. Se calhar não se traduz em absolutamente nada, porque, como dizia, nós temos carros particulares, não temos de andar em transportes públicos sobrelotados, temos acesso a hospitais privados, não temos de contactar com os centros de saúde. Há relatos que me chegam de médicos, onde se vê a utilização do mesmo número de contribuinte por máfias de imigrantes que se dirigem sempre com o mesmo número e que depois, quando o médico está a analisar a ficha clínica do paciente, tem ali à frente um jovem com determinadas características e os exames médicos que não correspondem à pessoa que ali está.
E o que é que defende face ao que está? A remigração?
O tema da remigração é um tema que ainda não está colocado na ordem do dia de nenhuma forma, do ponto de vista legislativo. Mas se quisermos ser intelectualmente honestos, teremos de compreender que vai ter de ser colocado dentro em breve. Não digo que o Chega o vá fazer, porque não tenho decisão total sobre essa matéria, sou apenas uma das vice-presidentes da bancada e um membro da direção nacional e, portanto, acredito que possam existir outras posições e acredito que o partido possa gerir o seu tempo político. Mas não tenho dúvidas que a minha geração, tenho 26 anos, vai ter mesmo de colocar esse tema com seriedade.
O Chega não é a caixa de ressonância de todas as contestações populares, que vai ganhando à custa disso, mas com pouca consistência nas soluções?
Sinceramente, ainda bem que em algum sítio as pessoas sentiram que poderiam voltar a ter voz e que a sua voz poderia contar. Não há nada que me deixe tão satisfeita como ouvir na rua, nos transportes, nas fábricas…
Somos um país que sempre viveu a queixar-se das circunstâncias em que vivia?
É verdade. Mas também sempre fomos um país – tirando no império, porque depois também caiu a pique –, que está na cauda da Europa e estava na hora de querermos deixar de ter esta visão que limita o mérito e que não nos potencia, e começarmos a ter mais desejo de colocar Portugal primeiro, os interesses dos portugueses primeiro.
Isso são máximas importadas de fora. Mas deixe-me perguntar-lhe como é que avalia – e acho que a sua família fez parte também dessa onda migratória –, a capacidade que Portugal teve de acolher, no pós 25 de Abril, os milhares que vieram dos diferentes territórios coloniais portugueses?
Agradeço porque nunca tinha tido oportunidade de falar publicamente sobre isso. Há uma linha gigante que separa essa vaga migratória da vaga migratória atual. A minha avó cantava o hino nacional português todos os dias na sua escola. A minha avó falava português, não falava qualquer outro tipo de dialeto. A minha avó casou com alguém que serviu as Forças Armadas portuguesas, neste caso a Força Aérea e por isto, quando chega a Portugal, chega com a cultura portuguesa, com a noção de como estar e de como conviver sem ferir suscetibilidades. E por fim, chega sem querer transformar a cultura portuguesa e adaptá-la à realidade de Moçambique.
Não acha que o país se valorizou com essas pessoas que vieram de realidades diferentes, culturas diferentes?
Os retornados, como foram todos apelidados, mesmo que alguns deles nunca tivessem tido um pé em território nacional, justiça tem de lhes ser feita, não é verdade que enriqueceram o nosso país culturalmente. É verdade que enriqueceram a indústria que estava emergente à data. É verdade que trouxeram muitas coisas positivas ao país, mas infelizmente foram um exemplo de má capacidade de integração que Portugal teve. Muitos deles foram segregados para bairros, por exemplo, na Margem Sul ou nas periferias de Lisboa, e viveram durante muitas décadas com condições profundamente indignas.
Como é que vê o país daqui a uns anos com uma política de imigração mais regulada, mas sem os tais jovens mais capacitados a colaborarem para o país, porque, entretanto, emigraram?
Qualquer político e sobretudo quem é desta geração – para mim não são números, são rostos, são os meus colegas de escola, os meus colegas da faculdade, os meus familiares – dobra a língua e fica certamente comovido, percebendo que Portugal, de facto, deixou de apostar nos seus e que não tem capacidade de retenção dos melhores, e que estamos a exportar numa série de áreas altamente qualificadas. E nós olhamos sempre muito para estes 30% de jovens que saíram do país e que eu acho que são fundamentais e que nós temos de fazer políticas para os atrair novamente para Portugal. Mas também há muita coragem para ficar, e ainda há 70% de jovens que escolhem permanecer em Portugal, mesmo contra aquilo que é o lógico e o natural.
E como é que o Chega se propõe fazê-lo?
Temos de repensar muito a lógica das requalificações. Nós transformámos imenso não só a cultura de trabalho, como também a cultura de inserção no mercado de trabalho. Nós temos falta de mão de obra para trabalho qualificado, profissões técnicas por exemplo. Por outro lado, temos de eliminar barreiras burocráticas a quem quer criar um posto de trabalho, uma empresa ou alargar um negócio. E temos de fiscalizar melhor quem respeita e quem não respeita as regras, por exemplo no comércio, onde lojas fecham as portas para abrir negócios onde não trabalham portugueses. Isto para explicar que toda esta falsa inclusão está a significar a exclusão dos portugueses e ignorar isto, é só criar bombas sociais que vão rebentar. Assusta-me perceber que é um pouco a história do Pedro e do lobo. Chamam frequentemente ao Chega de extremista, de fascista, de racista, xenófobo. Tentam equiparar-nos ao nacional-socialismo e a outro tipo de regimes onde existia de facto perseguição étnica. Eu comecei a perceber, por exemplo, nas novas gerações, que este tipo de discursos volta a ter alguma tração porque sentem que ninguém, do ponto de vista político, consegue dar respostas às suas preocupações. E por isto, ou começamos todos, seriamente, a pensar como responder com políticas públicas a estes desafios, ou poderá haver realmente alguém com outro tipo de valores, que não comunga de tudo aquilo que nós comungamos, como chão comum da democracia, e que poderá ter consequências. E nós estamos a fechar os olhos a isto e pior, estamos a usar a história do Pedro e do lobo. Falamos tantas vezes no Lobo e damos o nome do Chega e do André Ventura, da Rita Matias ou outros deputados, e depois quando vier realmente alguém, já não estaremos preparados para distinguir.
Como é que olha para os movimentos de extrema-direita que têm vindo a surgir nos últimos tempos e a manifestar-se nas ruas?
Oiço falar, mas também oiço por exemplo o Ricardo Marchi, um perito nesta matéria, dizer que é absolutamente desproporcional o tempo que lhes é dado.
Não acha que vem também à boleia do crescimento do Chega?
Não acredito que venha necessariamente à boleia do crescimento do Chega. Acredito genuinamente que vem à boleia da falência das políticas socialistas. Se há de facto discurso extremista é porque estas políticas falharam em toda a linha e penalizaram o cidadão português, que se sentiu espezinhado durante tanto tempo, que muitas das vezes não tem capacidade de materializar essa frustração de forma percetível, de forma que mostre que o que move a pessoa é ter direito àquilo que é seu por direito.
Mas isso é também a motivação de muitos que votam no Chega?
Certamente, e eu espero que o Chega seja essa morada de protesto, porque sei que a dignidade da pessoa humana e os valores que são basilares da nossa sociedade ocidental estão garantidos. Temo muito por outro tipo de respostas e por isto espero que consiga ser esta a última morada.
Sente-se preparada para liderar uma Câmara como a Câmara de Sintra?
Como estou muito bem acompanhada, como tenho uma equipa de qualidade, de pessoas com diversas formações distintas, sinto-me preparada. Acredito que vencendo a Câmara Municipal de Sintra, poderemos mostrar aos portugueses aquilo que um executivo do Chega pode fazer, naturalmente com as distâncias que separam um executivo municipal e um executivo de um governo.
Estamos a chegar a uma altura em que o André Ventura não chega para tudo?
O Chega tem quadros suficientes para poder assumir as responsabilidades que podem estar ao alcance neste momento. A conversa dos quadros faz-me sempre alguma comichão. Acho que muitas das vezes há pessoas que não são evidentes e que até se podem vir a revelar-se úteis. Certamente a Rita Matias não era evidente, mas espero ter sido algo útil ao crescimento do partido e algo útil também nos desafios eleitorais que aqui enfrentamos. Posso testemunhar como candidata à Câmara Municipal de Sintra que há muitas pessoas, altamente qualificadas, com grandes nomes na praça, que têm carreiras extraordinárias, não só na vida política, como empresarial, como nos setores sociais, que nos batem à porta e que nos dão o seu apoio e que só não dão a cara ao nosso lado, só não fazem parte da nossa lista, porque sabem que vão ter consequências com isto.
Continuam a enfrentar esse problema?
Sim, eu espero que mude, mas não vejo essa mudança para agora. Basta perceber que estivemos cinco dias, ou quatro dias, um fim-de-semana, a discutir este tema do André Ventura e da Rita Matias com a lista de nomes de uma forma absolutamente empolada e que isto assusta as pessoas. Isto não convida a que aquela pessoa altamente qualificada, aquele empresário com uma cadeia de negócios ou de restauração, ou com uma grande empresa, ou aquele cidadão anónimo que quer só ser militante de base e que queria contribuir, dê a cara. Isto é altamente desencorajador. Mas as eleições autárquicas podem ajudar a mudar isso.