Marcelo: ‘A situação que estamos a viver não tem comparação com a de 2017’

Em 2018, na sequência das tragédias com os fogos do ano anterior, o PR disse que não se recandidataria se o Estado voltasse a falhar. No último verão do seu 2.º mandato, apesar da área ardida e da existência de três vítimas mortais, recusa qualquer paralelo.

Não há paralelo entre a situação que estamos a viver e o que se passou em 2017», disse ao Nascer do SOL o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, no dia em que participou no funeral do bombeiro da Covilhã que faleceu num despiste da viatura em que seguia durante o combate às chamas.
«Esta situação é muito diferente da que vivemos em 2017 em dois aspetos fundamentais: em número de mortos e em número de feridos», referiu o chefe de Estado, acrescentando que «o que temos hoje são mais fogos florestais e agrícolas, enquanto em 2017 tivemos mais fogos florestais e urbanos».

O Nascer do SOL enviou ao Presidente da República duas perguntas: 1. Em 2018, o Senhor Presidente disse que, se o Estado voltasse a falhar na prevenção e combate aos fogos como falhou em 2017, terminaria o seu mandato em Belém e não concorreria a um segundo mandato. Encontrando-se agora no último ano do seu segundo mandato, não sente que está tudo na mesma? 2. Se o que está a passar-se tivesse ocorrido em 2018, 2019 ou 2020, teria sido candidato em 2021?

Em telefonema de resposta ao nosso jornal, Marcelo Rebelo de Sousa precisou: «Na altura, o que eu disse foi que, se o Estado voltasse a falhar na defesa das vidas humanas e houvesse uma nova tragédia, eu não seria recandidato».

«O Governo não teve outro remédio se não meter mãos à obra e evitar males maiores», acrescentou, sustentando que «mudou muita coisa em relação ao passado, nomeadamente na estratégia de combate aos incêndios: até 2017, nós tínhamos um combate às frentes de fogo florestais, privilegiando a defesa da floresta; a partir daí, passámos a ter uma estratégia que privilegia a defesa das vidas humanas, dos animais e do património em primeiro lugar».
Para Marcelo Rebelo de Sousa é essa estratégia que faz com que «no quadro do que existe até hoje, não há paralelo com o drama de 2017», salvaguardando, porém, que «ainda falta o resto de agosto, setembro e outubro».

O Presidente defendeu, entretanto, que, «passado este período», seja feita «uma ampla e profunda reflexão» sobre prevenção e combate aos incêndios, repovoamento e reflorestação do território.

Gouveia e Melo ao ataque
Um apelo que vai ao encontro do apelo também feito por Henrique Gouveia e Melo, que esta semana visitou zonas e populações afetadas pelos fogos deste verão. O candidato presidencial deixou uma mensagem nas redes sociais – onde também conta com testemunhos de populares elogiando a solidariedade e preocupação do «almirante» – defendendo que «há falhas estruturais que têm de ser combatidas».

Gouveia e Melo já tinha feito na semana passada uma crítica aos políticos, e designadamente a Luís Montenegro, por terem mantido as suas férias e as suas agendas político-partidárias (a festa do Pontal tinha sido na véspera) em vez de se concentrarem na guerra aos incêndios.

Já o candidato presidencial apoiado pelo PSD, Luís Marques Mendes, saiu a terreiro em defesa da união dos portugueses contra o flagelo que se repete ano após ano.

E António José Seguro deu uma entrevista, ao Diário de Notícias, propondo a aplicação da pena de uso de pulseira eletrónica a todos os incendiários.

Montenegro chama ministros
Luís Montenegro cancelou, entretanto, as suas férias e, a exemplo de Marcelo Rebelo de Sousa, foi à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, antes de participar no funeral do bombeiro da Covilhã que faleceu na sequência de um despiste do carro em que seguia no âmbito de uma operação de combate às chamas que lavravam descontroladas no Fundão.

Foi, aliás, à saída da ANEPC que Marcelo Rebelo de Sousa defendeu a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, cuja demissão fora pedida pela Oposição, e com particular ênfase pelo líder do Chega, André Ventura. «Admito que quem acaba de chegar há dois meses esteja a descobrir os problemas e as respostas a dar», disse o Presidente aos jornalistas.

Maria Lúcia Amaral foi muito criticada pela Oposição sobretudo pela conferência de imprensa que convocou para anunciar o alargamento da situação de alerta no país, recusando-se a prestar esclarecimentos aos jornalistas.

Entretanto, Luís Montenegro convocou para ontem um Conselho de Ministro extraordinário para aprovar medidas de apoio às vítimas destes incêndios e a conferência de líderes da Assembleia da República aprovou a realização de um debate de urgência com o primeiro-ministro e a ministra da Administração Interna, por proposta do Chega e do PCP.

As críticas de Carneiro E Cabrita
O líder do PS, José Luís Carneiro, pronunciou-se publicamente contra a realização deste debate de urgência no Parlamento, afirmando-se «contra a chicana política numa altura em que se está a combater os incêndios que põem causa as vidas das pessoas e o seu património».

O secretário-geral socialista anunciou, depois, que vai percorrer a Nacional 2 (que liga o Sul ao Norte de Portugal pelo interior do país) «para ouvir e dar voz» aos portugueses.

Já o antecessor de Francisca Van Dunem e de José Luís Carneiro no Ministério da Administração Interna no tempo de António Costa como primeiro-ministro, Eduardo Cabrita, não poupou a atual detentora da pasta, Maria Lúcia Amaral, que acusou de ter uma «total inexperiência política» para as funções que desempenha no combate aos incêndios.

Eduardo Cabrita – que foi forçado a demitir-se do cargo na sequência da constituição como arguido no caso do atropelamento mortal na A6 pelo carro oficial onde seguia como «passageiro» (e que não chegou a ser pronunciado, acabando por ir a julgamento apenas como testemunha) – deu, na altura da sua saída do Governo, uma conferência de imprensa em que criticou fortemente Marcelo Rebelo de Sousa por ter contribuído para a sua demissão.

Nesse encontro com os jornalistas, Eduardo Cabrita argumentou, taxativamente, que tinha sido a sua competência no combate aos incêndios, enquanto ministro da Administração Interna, que tinha possibilitado a Marcelo Rebelo de Sousa recandidatar-se a um segundo mandato em Belém.