Na quinta-feira, do Médio Oriente, chegaram imagens às quais estávamos pouco habituados. Israelitas e palestinianos saíram à rua em júbilo para festejar a celebração do acordo de paz entre Israel e o Hamas. Na noite de quarta-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, recorreu à sua rede social Truth para anunciar que a primeira fase do plano que a sua administração forjou já está assinada: «Tenho muito orgulho em anunciar que Israel e o Hamas assinaram a primeira fase do nosso Plano de Paz». «Isso significa», continuou, «que TODOS os reféns serão libertados muito em breve e Israel retirará as suas tropas para uma linha acordada como primeiro passo para uma paz forte, duradoura e eterna. Todas as partes serão tratadas com justiça!». O acordo, segundo a Reuters, foi assinado num resort em frente à praia na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh.
Ou seja, para já, as armas param de disparar, as Forças de Defesa de Israel retiram-se parcialmente (como mostra o mapa oficial do plano), o Hamas liberta todos os quarenta e oito reféns (vivos e mortos) e Israel liberta cerca de 1.900 prisioneiros palestinianos. Trata-se de um passo significativo não só para cessar as hostilidades neste conflito, mas para conseguir alcançar o que realmente importa: a paz. É esse o objetivo supremo de israelitas, palestinianos e de todos os que defendem uma região, por fim, em paz, depois de décadas tempestuosas, marcadas por breves períodos de calma.
À terceira será de vez?
No entanto, ao júbilo junta-se a incerteza. É importante relembrar que outros planos de cessar-fogo nestes últimos vinte e quatro meses – os dois durante a administração de Joe Biden – também foram aceites e acabaram por ser quebrados com relativa facilidade, não chegando a sair da primeira fase.
Negociar com um grupo terrorista, que já demonstrou por mais que uma vez a sua conduta, nunca é uma tarefa fácil e as exigências do Hamas revelaram-se sempre inaceitáveis para Israel. Parece que desta vez, a esperança é superior.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reuniu ontem com o seu governo para ratificar o acordo. À hora de fecho, a reunião ainda não se havia realizado, mas tudo apontava para o facto de não haver qualquer entrave por parte do executivo israelita.
Quanto ao que pode correr mal, Maayan Lubell e Nidal Al-Mughrabi escreveram na Reuters que, «mesmo após a assinatura do acordo, uma fonte palestiniana afirmou que a lista dos palestinianos a serem libertados ainda não estava finalizada. O grupo busca a libertação de alguns dos mais proeminentes condenados palestinianos detidos em prisões israelitas, bem como de centenas de pessoas detidas durante o ataque de Israel». Os jornalistas destacam também as barreiras que se podem erguer na fase seguinte: «Outras medidas do plano de 20 pontos de Trump ainda nem sequer foram discutidas pelas partes — incluindo como a devastada Faixa de Gaza será governada quando os combates terminarem e o destino final do Hamas, que até agora rejeitou as exigências de Israel para que deponha as armas».
A incerteza quanto ao futuro não impediu as manifestações de alegria de ambos os povos. Lubell e Al-Mughrabi recolheram testemunhos em Gaza: «‘Graças a Deus pelo cessar-fogo, pelo fim do derramamento de sangue e das mortes’, disse Abdul Majeed Abd Rabbo em Khan Younis, no sul de Gaza. ‘Não sou o único feliz, toda a Faixa de Gaza está feliz, todo o povo árabe, todo o mundo está feliz com o cessar-fogo e o fim do derramamento de sangue.’».
A esperança de um futuro melhor é palpável.
Um momento histórico?
E um futuro melhor significará que estamos a presenciar um momento histórico. O próprio presidente norte-americano – cujas ambições de ser galardoado com o Prémio Nobel da Paz são amplamente conhecidas – diz que «este é um GRANDE dia para todo o mundo árabe e muçulmano, Israel, todas as nações vizinhas e os Estados Unidos da América». «Agradecemos», pode ler-se no seguimento do comunicado publicado na rede social Truth, «aos mediadores do Catar, do Egito e Turquia, que trabalharam connosco para tornar este evento histórico e sem precedentes possível». «ABENÇOADOS SÃO OS CONSTRUTORES DA PAZ!», conclui Donald Trump. Também a conta oficial da Casa Branca publicou nas redes sociais uma fotografia do líder dos EUA acompanhada da descrição «O presidente da paz». Netanyahu, numa das suas mais recentes visitas a Washington, DC, já havia informado que Israel apoiaria o nome de Donald Trump para o Prémio Nobel.
Mas, nesta sua missão, Trump tem um adversário muito difícil de vencer: o tempo. O vencedor será anunciado hoje, sendo assim difícil que este sucesso não tenha pesado na altura da deliberação.
Mas Prémio Nobel à parte, o que conta verdadeiramente é que o acordo se revele sólido. É o que vários líderes internacionais desejam. O Presidente francês, Emmanuel Macron, escreveu na sua conta oficial da rede social X que o acordo é uma «grande esperança para os reféns e para as suas famílias, para os palestinianos em Gaza e para toda a região», tendo aproveitado a publicação também para elogiar «os esforços do presidente [Donald Trump], bem como dos mediadores do Catar, do Egito e da Turquia, que ajudaram a torná-lo possível». O líder francês apelou também a «todas as partes» para que cumpram «rigorosamente os […] termos [do acordo]». De São Bento veio uma mensagem parecida: «Saúdo a libertação dos reféns que todos esperávamos há mais de 2 anos e a assinatura do acordo que a permite. Felicito [Donald Trump] por este sucesso e por todo o empenho na obtenção da paz no Médio Oriente», escreveu Luís Montenegro, também no X. «Com o cessar-fogo, renasce a esperança», concluiu o primeiro-ministro português.
Assim, resta aguardar pelos desenvolvimentos seguintes, que estão longe de apresentar garantias de sucesso, e esperar que este cessar-fogo se traduza numa paz duradoura para uma região fortemente marcada pela violência e pela instabilidade.