PS se não tiver Guterres vira-se para independente

Os socialistas evitam falar numa hipótese contrária ao avanço de António Guterres a Belém, em 2016. Mas porque o tempo urge, esta semana Francisco Seixas da Costa, no seu blogue, pôs o dedo na ferida: o PS “não pode ficar refém” de Guterres. No Parlamento, há quem defenda a necessidade abrir espaços para o apoio…

Augusto Santos Silva é categórico a pressionar o calendário do ex-primeiro-ministro socialista: “É cedo para Guterres anunciar a sua candidatura, mas é tarde para declinar”, afirma ao SOL. O ex-ministro de José Sócrates admite que Guterres é o “candidato óbvio e natural” do PS, mas nota que a decisão final depende da sua “decisão pessoal”.

As notícias de que o ainda Alto Comissário da Nações Unidas para os Refugiados prepara a sua candidatura a secretário-geral da ONU vieram confrontar o PS com a necessidade de um ‘plano B’. Sobre a importância das presidenciais, Gabriela Canavilhas, deputada, deixa o alerta: “O PS não pode tratar com leveza e ligeireza uma questão que é o ponto nevrálgico para o país. Não pode cometer os erros que cometeu nas últimas presidenciais”.

José Magalhães, por seu turno, afirma que “seria imprudente avançar nomes num quadro de instabilidade como o actual”. O deputado socialista nota que é cedo para afastar uma “hipótese que não está formalizada” e garante que Guterres fará a sua “fulgurante aparição” quando estiverem “definidas variáveis que são essenciais”.

Publicamente, os socialistas não dão sinais de preocupação. “Só no Verão do próximo ano é que os partidos poderão antecipar o quadro de forças que sairá das legislativas e aí a candidatura terá de ser anunciada”, sustenta fonte da direcção do grupo parlamentar ao SOL. A mesma fonte lembra que “candidaturas vitoriosas” dependem “da vontade individual e do apoio do partido, por esta ordem” e critica os que leram no texto de Costa um sinal de que o PS apoiará um outsider.

Aproveitar a onda das primárias

A ainda presidente do PS, Maria de Belém, é um dos quadros socialistas que vê na moção de Costa a oportunidade de apoiar um não militante. E é clara: se Guterres não avançar, o PS deve apoiar “pessoas da sua área política”. Sampaio da Nóvoa? “É um nome”, admite. Já Marcos Sá, director do jornal Acção Socialista, é mais entusiasta. Sem Guterres em jogo, apoiará Sampaio da Nóvoa, alguém que tem “intervenção independente mas política”. E deixa o desafio: “O PS tem de aproveitar a abertura das primárias para abordar candidaturas independentes”.

Afastada parece estar a possibilidade de um apoio do PS a Carvalho da Silva, alguém “com ligações ao PCP”, como aponta fonte do PS. As sondagens também não entusiasmam: o ex-líder da CGTP em Agosto aparecia no barómetro i/Pitagórica com uma opinião de 36,6% negativos.

ricardo.rego@sol.pt