A única leitura séria que o resultado das eleições permite é que o programa da coligação recebeu o apoio de quase 39% dos eleitores e que o programa do PS foi apoiado por apenas 32%.
Nestas condições, seria absurdo que – como disse hoje Passos Coelho – a coligação que ganhou as eleições fosse governar com o programa do PS.
Penso, aliás, que a coligação já fez demasiadas concessões ao aproximar-se de várias propostas dos socialistas.
Numa democracia, a força política vencedora deve aplicar o programa com que se apresentou às eleições, pois é esse em que acredita.
E as forças políticas vencidas devem aceitar o resultado eleitoral, não tentando artificialmente somar os votos de eleitores que votaram com motivações muito diferentes.
Na verdade, quem votou no PCP votou contra o euro e contra a sociedade de mercado.
Quem votou no BE votou pela renegociação da dívida e contra o cumprimento do Tratado Orçamental.
Não há, pois, nada em comum entre os que votaram no PS e os que votaram no PCP e no BE.
Ou melhor, há uma coisa: quererem "correr" com este Governo.
Mas isso é a tal "coligação negativa" que António Costa rejeitava na noite eleitoral.
O PS, o PCP e o BE podem unir-se para «correr com o Governo». Mas como o futuro provará, não têm condições para construir nada em comum.
Uma coligação oportunista de derrotados nunca poderá transformar-se numa força positiva, capaz de construir o que quer que seja.