Acordo com BE e PCP será “para a legislatura”, diz Costa

 

 

As conversas à esquerda “estão a correr bem”, embora seja prematuro dizer se “vão acabar bem”. Mas se houver entendimento sobre um governo “obviamente que não é para um ano”, haverá um “programa de governo para a legislatura”, disse o líder do PS, em entrevista à TVI e TVI24.

António Costa criticou Passos Coelho e Paulo Portas. As reuniões com a direita foram “uma vazia e outra inconclusiva”. Mais grave, acusa PSD e CDS de sonegarem informação económica relevante. Nos encontros “foram sempre cair uma nova surpresa desagradável que se vai tornar publica um dia”, disse. Sem concretizar a natureza da informação sonegada, afirmou que os portugueses a vão conhecer um dia e que “há limites para o que é possível esconder aos portugueses”.

Na entrevista, Costa garantiu que não se irá “meter em aventuras” e que a haver acordo para um governo com o apoio da esquerda ele “garantirá estabilidade, terá as contas feitas e cumprirá as obrigações internacionais” de Portugal.

Não tem por isso sentido o receio que as medidas acordadas com o PCP e BE façam derrapar as contas públicas. Há “seriedade” e rigor” no trabalho que está a ser feito, compensando o que tenha de ser compensado financeiramente, para que “não deixem de ser cumpridas as obrigações” orçamentais.

A poucos dias de ser recebido por Cavaco Silva, o líder socialista espera que o PR convide para formar governo quem tiver melhores condições para garantir uma governação estável. E avisa que a solução de manter um governo de gestão – o que aconteceria se a AR derrubasse um governo de Passos Coelho, sem que o PS fosse convidado para liderar o executivo a seguir – seria “péssimo”.

 “Ter um governo de gestão até abril seria um desastre, péssimo para o país”. Costa prometeu mais uma vez que não irá derrubar um governo de direita se não tiver uma alternativa e disse que os mercados não estão assustados com a perspetiva de ter comunistas e bloquistas no poder.

“Os mercados não olham para fantasmas olham para a realidade das políticas. O que olham é para a estabilidade”. Depois de ter ido a Bruxelas, Costa diz que vê “serenidade e grande compreensão” nas negociações que tem vindo a desenvolver à esquerda.

Fora do programa de um governo estará a permanência no euro, a pertença de Portugal à NATO e o cumprimento do Tratado Orçamental, sublinhou ao longo da entrevista.

O secretário-geral do PS refuta as teorias de “golpe constitucional” por pretender liderar um governo sem ter ganho as eleições. “Não estou aqui por ambição de ser primeiro-ministro”, disse, explicando que quer é “representar os que confiaram no programa do PS” e “contribuir para a estabilidade” e para uma política de mudança, sufragada pela maioria.

Negou que seja uma surpresa a tentativa de alianças à esquerda. “Nunca escondi aos portugueses que em caso de não haver maioria absoluta que eu não excluía o BE ou o PCP» e para o sublinhar, lembrou que, na campanha, “toda a ultima semana foi como Passos e Portas a dizer ‘Cuidado que vem ai o comunismo’.

Sobre as críticas internas no PS, foi conciliador. Costa entende os que estão preocupados com o futuro do partido e não espera “unanimismo” no PS. Sobre Francisco Assis, que não quer um entendimento à esquerda, afirmou que tem por ele “respeito”.

Em relação a José Sócrates, que saiu hoje da situação de prisão domiciliária, escusou-se a comentar “uma decisão judicial” e revelou que não tem conversado com o ex-primeiro-ministro nos últimos tempos.

manuel.a.magalhaes@sol.pt