Os sociais-democratas que não pouparam Maria Luís

O vice-presidente do PSD, José Matos Correia, saiu em defesa de Maria Luís Albuquerque 24 horas depois de ter sido notícia a sua contratação pela Arrow Global. Antes disso, o PSD dividiu-se entre o silêncio oficial da direção sobre o caso e os ataques de comentadores sociais-democratas.

A mais dura foi Manuela Ferreira Leite, curiosamente também ex-ministra das Finanças que aceitou um cargo como administradora não executiva no Santander depois de sair do Ministério.

"Tenho poucas dúvidas de que a ex-ministra não conheça a legislação, mas mesmo que não houvesse legislação sobre esta matéria qualquer bocadinho de bom senso levaria a que ela não aceitasse. Ela tutelou, no mínimo tutelou, a instituição financeira que teve ligações com essa empresa e ligações prejudicais para o país. Teve ligações diretas como ministra das Finanças e não saiu há quatro anos de ministra das Finanças, saiu há três meses", lançou Ferreira Leite no seu espaço de comentário na TVI24, considerando que “qualquer bocadinho de bom senso levaria a que ela não aceitasse" para trabalhar na Arrow Global.

"Pôs-se mais do que a jeito. Pôs-se defronte deles a dizer 'agora deem-me lá pancada porque estão cheios de razão'. Não quero atribuir-lhe outra qualificação a não ser a ausência total, total, de bom senso ao aceitar um cargo desta natureza", atacou Manuela Ferreira Leite, que foi mais longe na avaliação do caso do que o BE, que tinha condenado a contratação do ponto de vista ético, mas não tinha posto em causa a compatibilidade legal do caso. Tanto que os bloquistas apresentaram já uma iniciativa para alterar a lei de modo a que situações como esta passem a ser ilegais.

Outro comentador social-democrata que não poupou Maria Luís foi o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia que considerou a situação “grave” na RTP3.

"A situação em que ela se colocou é bastante grave”, considerou Bacelar Gouveia, que encontra problemas éticos mais do que jurídicos no caso. “A estrita incompatibilidade pode não se aplicar, mas tendo terminado funções de ministra e deputada tem segredos de Estado, que são também económicos e financeiros. Passa para a actividade privada e leva segredos estratégicos de Estado”, comentou o jurista.