Maria Luís embaraça PSD

Os sociais-democratas preferiam que fosse Mário Centeno a estar na berlinda neste tempo de OE, mas o novo emprego da ex-ministra provocou um ataque cerrado ao governo de Passos.

Maria Luís embaraça PSD

Swaps, BES, resolução do Banif e agora a contratação pela empresa gestora de dívidas Arrow Global. Os casos em que Maria Luís Albuquerque tem sido envolvida acumulam-se e causam mal-estar no PSD. Numa altura em que Passos Coelho prepara o Congresso em que voltará a ser eleito líder e quando o PSD queria que fosse António Costa a estar debaixo de fogo, caiu mal a polémica em torno do novo emprego da ex-ministra das Finanças.

Tão mal que o PSD demorou quase 24 horas para reagir, depois de Maria Luís ter sido posta debaixo de fogo cerrado das esquerdas. No meio do silêncio das direções de PSD e CDS ainda houve tempo para figuras como Manuela Ferreira Leite, José Eduardo Martins e Jorge Bacelar Gouveia virem atacar a ex-ministra de Passos.

Coube a José Matos Correia, vice-presidente do PSD, fazer a defesa da ex-governante. «Esta contratação em nada belisca a legislação portuguesa. Não há nenhuma incompatibilidade que pudesse obstar à aceitação do convite e ao exercício destas funções [como deputada]», declarou Matos Correia, sublinhando tratar-se de uma função não executiva e que, como ministra, Maria Luís «não teve qualquer relação com a empresa».

O problema é que são as relações entre a Arrow Global e, entre vários bancos, o Banif, no qual Maria Luís era representante do Estado enquanto ministra, que estão na origem da polémica e do requerimento do Bloco à comissão de inquérito sobre a resolução do banco. Mariana Mortágua, do BE, quer ter informação sobre as empresas «que avaliaram ou compraram carteiras de crédito, total ou parcialmente, desde o início da ajuda pública» ao banco do Funchal.

Uma teia complicada

Isto, porque as relações entre a Arrow Global e o Banif são muitas e começam, ainda que de forma indireta, em 2014 quando a Arrow – segundo fonte da própria gestora de dívidas – comprou ao Banif cerca de 300 milhões de crédito malparado. Cerca de um ano depois, a Arrow Global comprou a Whitestar. Agora, a Carval – que a Arrow garante não deter – está a disputar a compra de créditos em risco e imóveis no valor de 1.500 milhões à sociedade Oitante, que reúne os ativos tóxicos do Banif. A teia é complicada e já motivou um pedido de audição dos gestores da Whitestar pelo PS.

Tudo isto vai tornar ainda mais desconfortável a posição de Maria Luís Albuquerque na comissão do Banif, onde terá também de explicar por que motivo foi adiando a resolução e deixando sem resposta os pedidos de Bruxelas para reestruturar o banco.

As primeiras explicações que a ex-ministra deu numa entrevista à TVI em dezembro, não caíram bem na direção de Passos onde foram vistas como «desastradas». 

Aquela que chegou a ser apontada como uma estrela em ascensão no PSD e potencial futura líder é, agora, uma dor de cabeça que se pode agravar na comissão sobre o Banif.