Jerónimo avisa para contradição, Costa vê tensão

Jerónimo de Sousa abriu o debate quinzenal com o primeiro-ministro com a exposição de uma contradição que para o PCP é cada vez mais evidente: as regras de Bruxelas são incompatíveis com o ritmo de recuperação de rendimentos e direitos exigidos pela esquerda. Mas Costa rejeita que haja contradição, só tensão.

Jerónimo de Sousa começou por lembrar que "têm sido dados passos, apesar de limitados, na recuperação de direitos e rendimentos", uma ressalva que o PCP faz sempre para valorizar as conquistas da atual maioria. Mas o elogio do que foi alcançado não esconde o descontentamento dos comunistas.

O secretário-geral do PCP lembra que há insatisfação entre médicos, enfermeiros, professores, auxiliares da ação educativa, forças de segurança, reformados, Soflusa e Transtejo. Setores onde há manifestações e greves na agenda e que Jerónimo de Sousa diz terem ficado preocupados com o que viram no Programa de Estabilidade e no Programa Nacional de Reformas.

"Esses setores pressentem que está mais longe a resolução dos seus problemas", avisou, para apontar a "crescente contradição" em que este Governo está preso entre "o programa de ingerência da União Europeia" e "as preocupações de ver o país crescer de uma forma robusta".

"Como é que vamos resolver esta contradição?", quis saber Jerónimo, que pede medidas concretas como o fim do congelamento de ordenados na Função Pública que "já dura há dez anos", o descongelamento das carreiras, a reversão do aumento de impostos feito pelo anterior Governo.

Costa garante que vai mexer nos escalões do IRS

"Eu não diria que há contradição, mas há seguramente tensão", defendeu António Costa, que acha que "aquilo que foi o sucesso de 2016 demonstra bem como é possível articular a eliminação dos cortes nos salários da Função Pública, das pensões e adiminuição da carga fiscal e simultaneamente ter melhor consolidação orçamental".

Costa lembrou que isso já foi possível no ano passado e que levou, por exemplo, à contratação de quatro mil funcionários para o SNS

"Temos de prosseguir com maior justiça fiscal, alterando os escalões do IRS", concordou Costa, que diz que também está na agenda do Governo "descongelar as carreiras" e "fazer justiça para aqueles que têm as carreiras mais longas".

Para Costa, é possível fazer tudo isto, "articulando outro valor fundamental, que é ter contas públicas mais sólidas, para não dar razão aos que querem que venha aí o Diabo para reverter estas medidas".

A dois dias de o PCP trazer ao Parlamento uma proposta para criar uma comissão parlamentar para analisar a dívida pública e de Governo e BE apresentarem o relatório de um grupo de trabalho sobre o assunto, Jerónimo não tem dúvidas de que "Portugal precisa de renegociar a dívida".

Sair do euro seria um erro, avisa Costa

Mas António Costa não acredita que o caminho seja o de romper com a Europa.

"É evidente que no mundo de hoje nenhum país está isolado e há uma relação de interdependência

ninguém pode viver numa família, numa empresa, numa cidade, numa União sem que haja regras comuns", explicou Costa, acrescentando que mesmo que não concorde com todas as regras europeias tentará mudá-las sem rutura com Bruxelas por acreditar que sair do euro teria custos demasiado altas para o país.

"Fora do euro estaremos seguramente piores do que dentro", apontou o primeiro-ministro, explicando que a saída da moeda única levaria a uma "brutal desvalorização do rendimento das famílias portuguesas".

"Esse é um erro que não podemos cometer", avisou, admitindo que nem sempre está de acordo com as regras do euro.

"Estar dentro do euro não quer dizer que concordemos com tudo", ressalvou, para explicar que o caminho passa por ter um "défice orçamental que permita melhorar os nossos ratings" e com isso diminuir o peso da dívida.

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