Remodelação. Qual é a pressa?

Costa não tem pressa nenhuma em arranjar substitutos para os secretários de Estado exonerados. Vai pensar bem no assunto. Pode até demorar uma semana. Não haverá notícias no debate do Estado da Nação

A frase ficou famosa quando foi dita por António José Seguro (em janeiro de 2013, quando Pedro Silva Pereira pediu um congresso do PS o mais depressa possível), mas pode agora ser repetida por António Costa a quem lhe perguntar quando é que remodela o governo, do qual já três secretários de Estado foram exonerados. Na verdade, António Costa não tem pressa nenhuma em remodelar o governo e vai aparecer amanhã, no debate do Estado da Nação, um dos mais importantes do ano, sem ter substituído os três secretários de Estado que foram exonerados no domingo. Pior: entre os próximos de António Costa até se admite que a remodelação só aconteça na próxima semana, depois de Marcelo Rebelo de Sousa regressar da sua visita de Estado ao México, no dia 19. Se esta versão que é admitida entre próximos de António Costa se confirmar será, provavelmente, a mais demorada substituição de secretários de Estado de que há memória num governo em funções. Habitualmente, quando exonera secretários de Estado, um primeiro–ministro avança imediatamente – ou poucas horas depois – com o nome de substitutos.

Mas António Costa quer pensar muito bem no que vai fazer. Foi surpreendido com a iminente constituição como arguidos de Fernando Rocha Andrade, João Vasconcelos e Jorge Costa Oliveira e reuniu-se com os três no domingo, antes de fazer sair o comunicado com a aceitação do pedido de exoneração.

Hoje terá um dia muito ocupado. Recebe o presidente da Assembleia Popular chinesa numa audiência e estará numa ação pública – a primeira desde os acontecimentos de Tancos – no Hotel Lapa Palace, às 10h30, para comemorar o lançamento do voo Lisboa-Pequim. 

Depois, numa ação de clara tentativa de recuperar a iniciativa política, vai reunir com o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, chefe do Estado-Maior do Exército, chefe do Estado-Maior da Armada, chefe do Estado-Maior da Força Aérea e ministro da Defesa Nacional, na residência oficial. O tema é a “segurança das instalações militares”.

Depois da reunião com os chefes militares, o primeiro-ministro recolhe-se e vai preparar o debate do Estado da Nação, marcado para esta quarta-feira. Sem pressa em substituir ninguém, sendo que a situação de exoneração não é equivalente à de demissão – se, no caso dos governantes demissionários, são obrigados a estar no cargo até ao aparecimento de substituto, a exoneração termina pura e simplesmente com o exercício da função -, a menos que se trate de uma figura que recentemente entrou no léxico político, a da exoneração temporária, a propósito do que o chefe do Estado-Maior fez a cinco chefes militares. Mas ao que tudo indica os cargos ficarão mesmo desocupados até Costa decidir o que faz. 

Mais uma baixa no Exército Entretanto continua a sangria no Exército. Ontem, o chefe do Estado-Maior do Exército entregou ao ministro da Defesa o pedido de exoneração do comandante das Forças Terrestres, tenente-general Faria Menezes. 

Menezes já tinha anunciado que iria demitir-se em discordância com a decisão do CEME, general Rovisco Duarte, de suspender – ou “exonerar temporariamente” – os comandantes de cinco unidades responsáveis pela segurança de Tancos.

Antes, também o general José Calçada, comandante do pessoal do Exército, se tinha demitido por “divergências inultrapassáveis” com Rovisco Duarte, o chefe do Estado-Maior do Exército, que afirmou na quinta-feira que se sentia “humilhado” pelo roubo das armas em Tancos.