Rui Rio avisa indisciplinados. “Vão ver como é. Este clima tem de acabar”

Relvas entra na campanha no dia do último debate entre Santana e Rio. Passos sai do parlamento em fevereiro

O terceiro e último debate entre Santana Lopes e Rui Rio, na TSF e Antena 1, ficou marcado por uma declaração de Miguel Relvas. O ex-secretário-geral do PSD, que atualmente está fora da política ativa, afirmou que o próximo líder social-democrata pode ter os dias contados se não vencer as próximas legislativas. “Vamos ter um líder para dois anos; se ganhar as eleições continua, se não ganhar as eleições será posto em causa”, afirmou.

Rui Rio não disfarçou a irritação com a entrevista de Relvas ao “Público” e foi o próprio a introduzir o tema no debate. “Ele diz num jornal que o próximo líder é para dois anos. Que clima é este que se vai instalar no PSD?”, afirmou Rui Rio, garantindo que, se vencer as eleições internas, não vai tolerar este tipo de comportamentos. “Se o clima dentro do PSD é já este, com as rasteiras e com isto e com aquilo, estamos mal, e se eu ganhar vamos estar mesmo muito mal, porque não vou admitir uma coisa destas”, disse.

Questionado sobre se esses comportamentos podem levar à expulsão de alguns militantes, o ex-autarca do Porto defendeu que não é essa a solução, mas garantiu que sabe como atuar. “Sei fazer isto, não ando nisto há tão poucos anos assim. Deixe-me ganhar e vai ver como as coisas são. Este clima é que tem de acabar”, sublinhou.

Miguel Relvas declarou cedo na campanha que o seu candidato é Santana Lopes. “Disse que votava em mim, mas não participou na candidatura. Mas eu gostava de dizer que sou amigo dele”, disse o ex-líder do PSD. No entanto, Santana Lopes aproveitou para se demarcar de Miguel Relvas, considerando que não é adequando “fazer considerações dessas”.

Apesar de comentarem as declarações, nenhum dos candidatos quis, no entanto, esclarecer o que fará se perder as próximas eleições legislativas. “Já chega de cenários negativos. Não trabalho com cenários negativos”, disse Pedro Santana Lopes. O ex-autarca do Porto, por seu lado, considerou que “vai depender de muitos fatores. Logo se verá as circunstâncias em que isso acontece”.

Quem gosta menos de costa?

Os candidatos não sabem se ficarão na liderança do partido em caso de derrota nas legislativas, mas a posição do PSD perante um governo minoritário de António Costa tornou-se um dos principais temas da campanha interna. Santana Lopes voltou a defender que não viabilizará nenhum governo liderado por António Costa. “Não nos podem pedir para viabilizarmos um governo do PS quando o PS não viabiliza os nossos sem maioria”, sustentou.

Rui Rio, por seu lado, voltou a não fechar a porta a acordos com o PS, porque “o interesse nacional é evitar que o Bloco de Esquerda e o PCP continuem na esfera do poder”. Santana e Rio concordam que o PSD deve lutar pela maioria absoluta nas próximas eleições legislativas, que estão previstas para 2019.

O passado de cada um dos candidatos voltou a ser esmiuçado no frente-a-frente, na noite de quinta-feira, na TVI. Rio imitou Santana no primeiro debate e entrou ao ataque com vários recortes de jornais na mão. “Santana arrasa Passos” ou “Santana revoltado com o PSD” foram algumas das notícias que o ex-presidente da câmara do Porto exibiu para provar que não foi ele quem andou a fazer críticas, em público, ao governo liderado por Pedro Passos Coelho.

O candidato levou ainda para o debate uma entrevista em que Santana classificava António Costa como o político “mais hábil” desde o 25 de Abril. “Dá para perceber que as ligações que [Santana Lopes] tem com António Costa são mais estreitas do que aquelas que podem ser as minhas”, disse.

Passos despede-se

Estas eleições abrem um novo ciclo no PSD depois do partido ter sido liderado durante mais de sete anos por Pedro Passos Coelho. O ainda líder do partido chegou à presidência em março de 2010. Venceu, nessa altura, as eleições diretas com mais de 60% dos votos contra Paulo Rangel e Aguiar Branco.

Passos despediu-se ontem do grupo parlamentar numa reunião em que anunciou que irá renunciar ao mandato de deputado a seguir ao congresso do partido, que está marcado para os dias 16, 17 e 18 de fevereiro, em Lisboa.

Passos explicou que não faria sentido ficar no parlamento neste novo ciclo, agradeceu aos deputados e ouviu muitos elogios. À saída da reunião, Hugo Soares disse que “o grupo parlamentar, mais uma vez, deu esse testemunho, de gratidão e de orgulho, e disse-lhe com muito afeto, com muito carinho, um até já”. As eleições para a nova liderança do PSD estão marcadas para amanhã.