Jornadas do PCP. Jerónimo teme que Costa mude de rumo

PCP não esconde “crescente preocupação” com “sinais e práticas que indiciam uma travagem” na política de reposição de rendimentos

Jerónimo de Sousa não escondeu, na abertura das jornadas parlamentares do PCP, a “crescente preocupação” com o avolumar dos “sinais e práticas que indiciam uma travagem, senão uma inversão de rumo”, na política de reposição de direitos e rendimentos.

O discurso do secretário-geral do PCP foi recheado de críticas ao governo numa altura em que arrancam as negociações para a aprovação do último orçamento da geringonça e crescem os sinais de tensão entre o PS e os partidos à sua esquerda. As leis laborais, que o governo negociou com os patrões e a UGT, e as reivindicações dos professores têm alimentado, nos últimos dias, as divergências entre o governo e os partidos que o apoiam. Jerónimo de Sousa voltou ontem a criticar, em Alcácer do Sal, “a crescente procura do PS e do seu governo de convergência com PSD e CDS para garantir o essencial da política de direita em matérias e áreas nucleares da ação governativa, nomeadamente em matéria de legislação do trabalho”.

Para o secretário-geral do PCP, o governo e o PS “não seguem num bom caminho quando, juntos com PSD e CDS, agem para manter intocáveis os interesses do grande capital neste e noutras matérias”.

O PCP já tinha criticado o acordo de concertação social e Jerónimo insistiu na ideia de que “o que é essencial está lá e continua, não mudou e o que se acrescentou para dar ilusão de mudança é para ficar pior. Como é o caso do alargamento do período experimental para 180 dias ou da criação de um novo banco de horas grupal reformulado”. O líder comunista referiu-se ainda à contestação dos professores e exigiu ao governo que cumpra “o que ficou estabelecido no Orçamento do Estado”.

O líder parlamentar do PS, João Oliveira, também criticou as políticas do governo que têm “limitado e condicionado a reposição de direitos e rendimentos e a resposta necessária ao conjunto dos problemas acumulados que condicionam o desenvolvimento do país”.

As leis laborais justificaram mais um ataque do Bloco aos socialistas. Catarina Martins lamentou que o governo “tenha decidido não manter os termos do que negociou, mas pela nossa parte vamos fazer todo o trabalho no parlamento para que o que foi negociado chegue ao fim e que haja medidas de combate à precariedade que façam a diferença efetiva na vida das pessoa”.

O debate no parlamento está agendado para 6 de Julho. A coordenadora do Bloco de Esquerda afirmou que “seria muito estranho que o PS, depois deste tempo em que foi possível melhorar efetivamente as condições do país por haver um acordo de recuperar rendimentos do trabalho, preferisse negociar uma matéria central como a laboral com a direita, que atacou sempre todas as medidas de dignidade e de direitos dos trabalhadores”.

No debate quinzenal, esta terça-feira, Catarina Martins criticou o governo por ter alterado o acordo que fez com o Bloco para “fazer uma proposta ao patronato que anula boa parte do efeito das mudanças negociadas para combater à precariedade”. O primeiro-ministro defendeu que “este acordo dá passos muito positivos porque reduz os fundamentos para o recurso de contratos a prazo”.