“Comparando com Sócrates, Passos Coelho deveria ser uma referência para todos”

Arquiteta, professora e vereadora na Câmara de Cascais. Filipa Roseta foi a escolha de Rui Rio para cabeça-de-lista em Lisboa nas legislativas. Para uns é “uma jovem pouco conhecida” para outros é um símbolo de “inovação”. Mas o facto de ser filha de dois políticos é o que a torna numa escolha controversa.

Rui Rio surpreendeu tudo e todos com a escolha de nomes menos conhecidos para encabeçar as listas do PSD para as legislativas. Filipa Roseta, indicada por Lisboa, foi uma dessas escolhas e não faltaram elogios, mas também algumas críticas. O argumento principal alega que a atual vereadora da Câmara Municipal de Cascais só foi escolhida por ser filha de Pedro Roseta, ex-deputado e antigo ministro da Cultura de Durão Barroso, e de Helena Roseta, deputada do PS e antiga dirigente do PSD. 

A arquiteta responde com a garantia de que, apesar de ser inegável que “o gosto pela política” lhe foi incutido pelos pais, todos na família têm “um percurso autónomo” e ideias muito diferentes. “Nem consigo perceber”, começou por confessar, recordando que o caso sobre os laços familiares no governo socialista é que é um exemplo “escandaloso” de nepotismo em Portugal. “Eu nunca me sentaria no Conselho de Ministros ao lado do meu pai. Como a minha mãe nunca se sentaria no Conselho de Ministros ao lado do meu pai. Isso é que é uma vergonha”, asseverou.

Sobre as críticas, Helena Roseta também saiu em defesa da filha sublinhando ao i que “todos os lugares ou mandatos que a Filipa tem foram por provas prestadas em doutoramento ou por eleição”. Para a deputada eleita pelo PS, “estas críticas são direcionadas e são feitas por pessoas que não estão confortáveis com algumas escolhas que o PSD está a fazer”.

Por outro lado, a escolha de Filipa Roseta foi também elogiada por várias figuras públicas de relevo. Adolfo Mesquita Nunes, coordenador do programa eleitoral do CDS, chegou mesmo a apontar que o percurso da arquiteta não teve o destaque merecido nas notícias que avançaram a informação da escolha da professora universitária para cabeça de lista. “Nem o nome dela aparece, apenas a filiação, como se ela não tivesse currículo, e tem”, disse o centrista nas redes sociais. Marques Mendes também se referiu à militante como uma “mulher de qualidade” e Pedro Duarte, ainda que não tenha feito um elogio específico à futura deputada, afirmou que as escolhas do líder do partido “devem merecer um aplauso”, pois “mostram rasgo, inovação, renovação e foco no futuro”.

Helena Roseta não deixou de destacar que a filha “pode não ser muito conhecida pelos militantes, mas tem uma carreira construída pelo seu mérito e que isso não pode ser ignorado”.

Helena Roseta diz que não vai ser deputada na próxima legislatura e, por isso, fica “contente que haja uma pessoa com o perfil da Filipa, que defende as causas que defende”.

 

Como chegou ao PSD

Aos 46 anos, Filipa Roseta não se vê como a jovem que a comunicação social retratou. Ao i, a arquiteta admitiu que não pensava que a sua vida iria passar pelo “duro caminho” da política. No entanto, quando José Sócrates ganhou as eleições contra Manuela Ferreira Leite, Filipa Roseta percebeu que tinha de fazer alguma coisa. “Pensei que era demasiado mau para ser verdade, eu tinha de me envolver, não dava para ficar sentada e assistir à decadência total do sistema”, começou por recordar, acrescentando que nunca percebeu como “é que naquela altura, com o que já se sabia, as pessoas votaram no Sócrates”.

Foi assim que, em 2012, oficializou essa decisão ao inscrever-se como militante no PSD. “Quis juntar-me àqueles que achava que estavam a tentar levar o país ao rumo certo”, justificou. Pedro Passos Coelho, a quem sucede como cabeça de lista, é uma das suas referências. “Comparando com Sócrates, acho que Passos Coelho devia ser uma referência para todos. Ele apanhou o país na bancarrota e teve coragem. Por mais incorretas que algumas decisões possam ter sido, acho que não era contra ele que as pessoas se deviam ter virado, mas contra os grandes responsáveis”, enfatizou.

Filipa Roseta quer encarar este novo desafio com “responsabilidade” e com a noção da dificuldade. “Não estava à espera e é um enorme peso, mas, como quero contribuir para que as coisas sejam melhores, tive de aceitar”, esclareceu.

Mais, a social-democrata já tem três objetivos nos quais se quer focar no futuro. O primeiro relaciona-se com implementação de uma educação dos 0 aos 100 anos. Ou seja, tendo em conta que a “educação já não é só até aos 20 anos e vai ser ao longo da vida, queremos criar vários módulos de formação que vão atualizando o conhecimento ao longo da vida”. Esta medida também tem como objetivo ajudar pessoas “a voltarem ao mercado de trabalho”.

A segunda pasta a que Filipa Roseta se quer dedicar é à Habitação. Segundo a arquiteta, aqui a palavra-chave é “tirar a pressão” das áreas metropolitanas e levar mais pessoas para as regiões mais abandonadas. “Aprendi muito com a minha mãe e desenvolvi a minha tese de doutoramento nesta área – Desenvolvimento Urbano. Portanto, é uma matéria na qual acho que posso dar um contributo muito sólido”, argumentou. Por fim, a futura deputada ainda quer fazer do combate à corrupção uma prioridade sua. “Foi por isso que me inscrevi no PSD. Já chega, não aguentamos mais corrupção”, declarou.

Filipa Roseta é vereadora da Câmara de Cascais desde as últimas autárquicas (2017), tendo a seu cargo os pelouros da Gestão Territorial, Inteligência Territorial e Ordenamento do Território. Na área da arquitetura, Filipa Roseta já foi por diversas vezes distinguida, destacando-se o projeto do Centro Comunitário e Igreja da Boa Nova, pelo qual foi galardoada com o prémio IFRAA-AIA, do American Institute of Architects (2014) e o prémio “Abitare il Mediterraneo” atribuído pela União de Arquitetos dos países do Mediterrâneo (2013). Filipa Roseta também é professora na Universidade de Lisboa – FAUL, desde 2009. A social-democrata é casada com um arquiteto e é mãe de dois filhos: um rapaz com 16 e uma rapariga de 13.