A sina socialista de não acabar o segundo mandato

A dinâmica cíclica do sistema de partidos faz com que o PS nunca consiga estar no poder mais de seis anos

As sondagens vão mostrando a redução eleitoral da direita e a estabilidade no eleitorado nuclear de esquerda, com o aumento do número de eleitores flutuantes. Isto significa que a direita precisa de captar mais eleitores ao eleitorado flutuante do que a esquerda para atingir a maioria.

Neste contexto, a direita tem que aproveitar as oportunidades do método de Hondt e para isso é mais eficiente criar uma coligação pré-eleitoral. Foi isso que fez Sá Carneiro e que Marcelo, Barroso e Passos Coelho perceberam e repetiram depois. 

Porém, a crispação entre os líderes do centro-direita torna impossível entendimentos pré-eleitorais em 2019, apesar das expectativas eleitorais baixas. E este facto é bastante para ditar as saídas de Rui Rio e de Assunção Cristas depois das eleições de 6 de outubro. São a falta de confiança entre os dois e as divergências estratégicas dos dois que ditam o resultado que as sondagens auguram.

A estratégica eleitoral de Rui Rio – ao colocar-se como ‘muleta’ do PS e ao ter conquistado o PSD insinuando a possibilidade de um bloco central – falhou e todos os remédios que adote agora acabam por não convencer o eleitorado, favorecendo apenas a tendência para a hegemonia do PS.

Não é a primeira vez que esta tendência para a ‘mexicanização’ da vida política se verifica. Mas, neste momento, o tema é mais atual porque a quantidade de erros cometidos pelo PSD poderiam empurrar o partido para uma irrelevância prolongada. 

No entanto, não há risco de extinção do PSD, pois o nosso sistema de partidos é historicamente resiliente e só muda com uma alteração do regime político, o que não está em causa agora. Mas a possibilidade do PS se tornar uma espécie de Partido Republicano Português da ‘Velha República’, capturando o Estado e os interesses, existe. 

Mesmo assim, também não existe esse risco de irrelevância prolongada do PSD por mais três motivos: 

1. Porque os socialistas estão a cometer erros na gestão do dossier de Tancos, no ataque ao setor privado e na gestão pública, com o esgotamento da almofada financeira que o crescimento económico criou para o país enfrentar a próxima crise económica – cada vez mais provável, dentro de dois ou três anos. 

2. Porque, ao terem percebido que o cenário de bloco central é o último dos cenários que interessam a António Costa e ao reduzirem as expectativas, Rio e Cristas apresentaram um programa mais atual minimizando os riscos de colapso partidário. Sobre pressão, Rui Rio mostra-se mais dialogante, estando mesmo a negociar listas para aprovação no Conselho Nacional, e Assunção Cristas recuou nos ataques ao PSD e na ilusão da liderança à direita.

3. A própria dinâmica cíclica do sistema de partidos faz com que o PS nunca consiga estar no poder mais de seis anos. Ou seja, o PS cumpre um mandato, onde destrói as potencialidades deixadas pelos governos de centro-direita anteriores, e depois, porque tem sempre o mesmo modelo de crescimento – baseado na venda de ativos, crescimento pelo aumento da despesa pública e consumo privado, o que inevitavelmente leva ao desequilíbrio da balança comercial – e o mesmo padrão ético – captura do Estado com esquemas de rent-seeking e de corrupção – acaba por não cumprir o segundo mandato. Aconteceu isso como António Guterres e com José Sócrates e certamente, irá acontecer com António Costa: os socialistas dificilmente irão cumprir o próximo mandato até ao fim, mais uma vez. 

Acresce que, totalmente desprendido do poder e com os riscos políticos que será chamado a assumir diante da eventual hegemonia socialista e da degradação moral exposta pelos processos judiciais em curso, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa – ao contrário do que deseja o eleitorado do centro-direita e o próprio PS – poderá ter uma forte inclinação a não fazer um segundo mandato. E nesse cenário, estaria encontrado o pretexto para António Costa abandonar o Governo e o partido, a meio do mandato, para ser candidato, empurrando o PS para uma inevitável crise e criando uma oportunidade ao centro-direita, caso aí exista uma liderança que lidere, um programa em que os portugueses se revejam e a capacidade real para o executar.

* Professor universitário