Entrevista a Joacine: “O partido [Livre] era um enorme sufoco para mim”

Em entrevista ao SOL, Joacine Katar Moreira diz que foi benéfico o corte com o Livre e responde às críticas segundo as quais se terá deslumbrado com o cargo. Admite criar um partido antirracista, mas não é para já. E elogia Marcelo: ‘Tem uma atitude que o aproxima dos cidadãos’. 

Foi eleita deputada em outubro de 2019. Estes primeiros meses correspondem às expectativas que tinha em relação à Assembleia da República?

Não tinha muitas expectativas quando entrei na Assembleia da República. A minha experiência enquanto cidadã em relação ao Parlamento era quase inexistente, assim como é quase inexistente a relação física entre a maioria dos cidadãos e a Assembleia da República.

Já tinha vindo alguma vez à Assembleia da República antes de ser eleita?

Só cá tinha estado uma única vez e achei um ambiente muito pouco acolhedor, mas geralmente os ambientes institucionais são assim. Nós ouvimos os políticos pela televisão, pela rádio, e habituamo-nos a relacionarmo-nos com eles dessa forma, mas nunca com proximidade física. A minha ideia era que a maioria dos políticos não fala para os cidadãos. Os políticos falam entre eles.

Sente-se bem aqui? Uma vez disse: ‘Eu nasci para estar ali’.

Isso há uns meses originou algumas ansiedades, porque eu disse: nasci para estar ali, gosto de estar ali. Não me imagino a fazer outra coisa hoje. Obviamente que foi uma afirmação feita num determinado contexto. Foi numa manifestação antirracista e depois de um deputado [André Ventura ] ter desejado mandar-me para África. E, portanto, foi uma manifestação de posicionamento. O que quis dizer foi que estou onde preciso de estar e ninguém me vai tirar daqui, sejam partidos políticos, sejam indivíduos com óticas mais conservadoras ou racistas. Fui eleita democraticamente e tenho cumprido o papel para o qual fui eleita. Mas confesso que este ambiente revelou-se um ambiente de muita violência simbólica.

Por que acha que foi alvo de tantas polémicas nos primeiros meses do mandato?

A comunicação social fez o seu trabalho. Isso foi uma das coisas mais chocantes desta legislatura. O meu olhar em relação aos órgãos de comunicação social mudou muito. Sou uma leitora de jornais. Praticamente não vejo televisão, mas sou uma leitora quase compulsiva de notícias. Nunca imaginei que algumas notícias pudessem ser tão manipuladas e com tanta desinformação. Mesmo antes de ser eleita houve um órgão de informação que lançou a ideia de que eu não gaguejava. Inicialmente relativizei isso. Achei que era óbvio e que ninguém ia duvidar se gaguejava ou não. Gaguejo desde a infância. Mas isso afetou a minha eleição e originou um ruído gigantesco que chegou aos Estados Unidos, que chegou ao Brasil, que chegou aos países africanos.

Leia o artigo na íntegra na edição impressa do SOL. Agora também pode receber o jornal em casa ou subscrever a nossa assinatura digital.