“Há mães que só deixam as filhas saírem à noite porque vêm para o Foxtrot”

Joaquim e Hugo Gonçalves, pai e filho, gerem um dos mais emblemáticos bares de Lisboa. Situado nas imediações do Parlamento, o Foxtrot é um sítio onde muitas personalidades – em especial políticos, mas também músicos ou atores – gostam de descontrair e beber um copo ou dois depois do trabalho. Phil Collins já se sentou…

“Há mães que só deixam as filhas saírem à noite porque vêm para o Foxtrot”

Como têm sido estes últimos meses para vocês?

Hugo: Estivemos três meses e meio parados, reabrimos há cerca de um mês. Agora também servimos refeições, porque não conseguíamos estar parados muito mais tempo. Temos despesas, ordenados para pagar…

E há movimento?

A faturação agora é seis ou sete vezes menos. Ligámos a alguns clientes a dizer que já estamos abertos, alguns dizem que estão com medo – não de nós, mas de sair à rua. Estas casas dependem da faturação, os nossos patrões são os clientes. Ultimamente houve uma recuperaçãozita, acho que voltaram mais uns turistas a Lisboa.

O bar está nesses roteiros turísticos?

Felizmente sim. Ao longo do tempo fomos criando uma boa base de clientes, boas avaliações nas várias plataformas – no Tripadvisor, no Google, no Zomato. Hoje em dia somos avaliados por números e as pessoas, ao verificarem que temos uma boa pontuação, querem vir cá. O estrangeiro normalmente vem àquilo que é bom.

A que horas começa o seu dia?

Se tenho alguma coisa para tratar de manhã, compras ou assim, começa às 11h. Se não, venho às três e meia, quatro horas, abro e vejo se falta alguma coisa. Se faltar, ainda dá tempo.

E depois vai até que horas?

Agora fechamos à meia-noite, vai até à uma da manhã. Antes ia até às três.

Mas quando a porta fecha ainda têm muito trabalho pela frente, ou não?

No final basicamente é arrumar as coisas, abastecer os frigoríficos, verificar prazos de validade. Às vezes estamos aqui um bocadinho a falar, podemos beber uma cerveja e comer qualquer coisa, mas também não se estende até às tantas. Há casos e casos [risos]. Eu não tenho vida para isso, mas antes da pandemia havia alguns colegas que se calhar em vez de irem para casa continuavam até de manhã, depois dormiam um bocado e vinham trabalhar. Basicamente faziam uma vida noturna. Nunca fiz isso, isto já é um trabalho pesado porque exige que estejas muitas horas de pé. E depois, para quem tem uma garrafeira atrás, é fácil começar a beber. Não tenho esse hábito, posso beber uma cervejinha ou outra, mas coisas mais pesadas não.

Quantos anos leva desta vida?

O meu pai está cá há 36 anos e eu vim ajudá-lo há 12. Mas já antes disso sempre que tinha tempo e era necessário ajudava aqui.

Ganhava dinheiro para as férias?

Quando andava na faculdade dava-me jeito vir para aqui trabalhar aos fins de semana, tentava pôr algum de parte. Se faltava alguém, fazia aqui uma perninha, até mais para ajudar a família. Em 2008 mandei o sítio onde estava a trabalhar às favas e vim para aqui… Desde os três anos que conheço esta realidade.

Começou cedo!

Sempre adorei bares e cocktails, sempre gostei deste mundo, independentemente do que possa ter de bom ou de mau. É bonito.

Quem frequenta bares ou discotecas tem a noção de que há noites especiais, que ficam na memória. Quem está a trabalhar também se apercebe disso?

Isso resulta de uma conjugação de coisas. A música ajuda bastante a compor, e depois pode coincidir estar um grupo de pessoas que cria um ambiente engraçado. Ainda há pouco tempo fiz essa mesma pergunta ao nosso staff, pedi-lhes para dizerem qual tinha sido para eles uma noite memorável e porquê. Esses eram os dois fatores principais: a música, estava perfeita, sintonizada com as pessoas; e depois havia um conjunto de pessoas espalhadas pelas mesas que dada a sua postura enriqueceram essa noite. Isso às vezes acontece e é engraçado porque não é nada preparado.

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