Presidenciais prometem choque no PS

António Costa vai propor neutralidade do PS na comissão nacional socialista – um apoio implícito à reeleição de Marcelo. E conta com o apoio de César, Santos Silva e Medina. Mas Pedro Nuno Santos vai defender o apoio declarado a Ana Gomes e não faltam seguidores. A reunião, entretanto, deve voltar a ser adiada.

A posição que o PS deve assumir nas presidenciais está longe de ser consensual entre os socialistas e o mais certo é os militantes voltarem a ter liberdade de voto, por proposta do secretário-geral, António Costa, que implicitamente beneficia a recandidatura e reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa.

Ao que o SOL apurou, a reunião para discutir o assunto deve, porém, voltar a ser adiada devido às restrições provocadas pela pandemia. A Comissão Nacional começou por estar prevista para dia 24, mas foi adiada para o próximo sábado. Mas a decisão do último Conselho de Ministros de proibir a circulação entre concelhos de 30 de outubro até 3 de novembro pode levar a um novo adiamento, já que há muitos membros da Comissão Nacional do PS estão fora de Lisboa.

António Costa ainda não abriu o jogo, mas o mais certo é voltar a defender que a melhor solução é voltar a dar liberdade de voto. Foi assim nas últimas eleições presidenciais, quando havia dois candidatos da área socialista (Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém).

Uma posição que deverá ser acompanhada por alguns dos mais influentes dirigentes socialistas como Carlos César e Augusto Santos Silva.

O presidente dos socialistas, Carlos César, já assumiu publicamente que essa é a sua opção preferida. «As alternativas são simples: uma é patrocinar e apoiar uma candidatura, outra é apoiar simplesmente uma candidatura que esteja presente e outra é definir com muita clareza o seu entendimento sobre o próximo mandato presidencial, sem vinculação do partido e com liberdade de opção dos militantes. Eu, pessoalmente, prefiro esta ultima opção», disse, em maio, na TSF. O presidente do PS deixou claro, nessa altura, que estava fora de questão apoiar a candidatura de Ana Gomes à Presidência da República. Uma posição que voltou a reiterar recentemente.

Por seu lado, Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, junta-se aos que defendem a recandidatura de Marcelo rebelo de Sousa. O autarca disse, há uns meses, que o actual Presidente da República «desempenhou muito bem o seu papel durante este mandato e dignificou o Estado. Seria um candidato a quem daria o meu apoio, apesar de ainda não haver qualquer decisão ou posição por parte do PS».

João Soares também integra o grupo de socialistas que vai apoiar Marcelo Rebelo de Sousa. Mesmo antes de uma decisão do partido, o ex-ministro da Cultura de António Costa assumiu com «clareza e frontalidade» o apoio à recandidatura de Marcelo.

Soares apelou a que «se esconjurem fantasmas e espantalhos, que alguns agitam, quanto a um segundo mandato».

Crescem apoios a Ana Gomes

O apoio a Marcelo está, porém, longe de ser consensual. Há vários socialistas que rejeitam a ideia de apoiar um candidato de direita e que foi líder do PSD. Pedro Nuno Santos, ministro  das Infraestruturas, já o assumiu publicamente, mas, também recentemente, anunciou que só assumiria a sua posição defesa do apoio do partido à candidatura de Ana Gomes em sede própria: ou seja, na reunião da Comissão Nacional do PS.

28 dirigentes vão pedir referendo interno sobre presidenciais

A última vez que falou do assunto em público foi para criticar Augusto Santos Silva, por este ter assumido que o PS não deveria apoiar Ana Gomes. O ministro e dirigentes socialista, que representa a ala esquerda do partido, alertou que «quem decide quem o PS apoia são os órgãos do partido. Ponto. Não é o Governo, não é nenhum membro do Governo, é mesmo o Partido Socialista que decide quem apoia e quem deixa de apoiar».

E o dirigente socialista que levantou o último congresso do partido promete dar luta à neutralidade de Costa e seus seguidores. Sendo que Pedro Nuno Santos conta com apoios de peso no partido, tanto no aparelho socialista como nos chamados ‘históricos’ (ver texto ao lado).

Aliás, há já, pelo menos, 28 elementos da Comissão Nacional, que pertencem à tendência minoritária liderada por Daniel Adrião, favoráveis à realização de um referendo interno sobre as eleições presidenciais.

Carlos César rejeitou agendar esse tema, mas Daniel Adrião vai defender a realização de uma consulta aos militantes para decidir a posição que o partido deve assumir.

Ana Gomes, confrontada com esta proposta, é cautelosa. «Nessa matéria não intervenho. O Partido Socialista tem os seus meios para tomar uma decisão democrática e confio que os militantes socialistas saberão encontrar a forma adequada para tomarem uma decisão democrática que reflita o sentimento da maioria dos socialistas pelos meios que o partido ache adequados», afirmou.

Em entrevista ao SOL, há uma semana, Ana Gomes disse que aceita todos os apoios do campo democrático. «Identifico-me muito com aquilo que uma vez o dr. Mário Soares disse: ‘Assumo que sou socialista, mas antes de ser socialista sou democrata e antes de ser democrata sou português’. A minha candidatura é independente. Não escondo que sou socialista e lancei esta candidatura com a ambição de ter o apoio de muitos socialistas e de muita gente que não é socialista, mas que está empenhada no reforço das instituições democráticas», afirmou a candidata na entrevista ao SOL.

A expectativa da ex-eurodeputada socialista é receber mais apoios vindos do PS depois de o partido tomar uma decisão formal em relação às presidenciais. Fonte da candidatura disse, recentemente, ao SOL que «muitos autarcas, presidentes de câmara e membros do Governo de António Costa apoiam Ana Gomes. Por uma questão de disciplina partidária, a maioria reservará a sua posição para depois da reunião da Comissão Nacional do PS».