“Isto não pode ser assim”, diz Jerónimo de Sousa

PS admite revisitar legislação laboral depois de ouvir críticas do PCP. “Esse é o compromisso que quero deixar”, disse Ana Catarina Mendes.

“Isto não está bem. Isto não pode ser assim”. A frase de Jerónimo de Sousa tem como destinatário o Governo e foi proferida num discurso recheado de críticas às políticas do PS.

Na abertura da interpelação sobre os direitos dos trabalhadores, na Assembleia da República, esta quarta-feira, o secretário-geral dos comunistas defendeu que o PS “teve todas as oportunidades para responder às necessidades mais prementes, mas nem mesmo as possibilidades abertas pelo Orçamento para 2021 quer aproveitar”.

E continuou: “O PS resiste, limita, não cumpre face aos problemas dos trabalhadores, ao mesmo tempo que é mãos largas com os grupos económicos e financeiros, em convergência com o quarteto direitista do PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal. E, para o futuro, querem mais do mesmo.”.

Numa altura em que se aproximam as negociações para o Orçamento do Estado para 2022, Jerónimo de Sousa voltou a colocar em cima da mesa as principais reivindicações dos comunistas. “Aumento geral dos salários como emergência nacional”, a valorização das carreiras, o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para os 850 euros, a redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais ou “a revogação das normas gravosas da legislação laboral” foram algumas das exigências feitas pelo secretário-geral do PCP.

Jerónimo de Sousa considerou que “a opção que o Governo faz ao manter as normas gravosas da legislação laboral (…) responsabiliza-o pela destruição da contratação coletiva e dos direitos que esta consagra”.

José Soeiro, do Bloco de Esquerda, também acusou os socialistas de impedirem “a construção de respostas à esquerda” para mexer nas leis laborais do tempo da troika.

O_PS respondeu com a garantia de que houve avanços com a geringonça, mas há matérias na legislação laboral que devem ser revisitadas. Ana Catarina Martins, líder parlamentar do PS, assumiu “o compromisso” de trabalhar para “melhorar e para conferir os direitos e a dignidade aos trabalhadores”.

 

Orçamento do estado

O Governo quer começar a negociar o Orçamento do Estado para 2022 com os partidos de esquerda e o PAN a partir de julho. O último orçamento foi viabilizado com a abstenção do PCP, PEV e PAN. O_Bloco de Esquerda votou contra, mas será também chamado para as reuniões sobre o próximo orçamento. Catarina Martins disse, numa entrevista à Antena 1, há menos de uma semana, que está disponível para encontrar “soluções”, porque o país “está numa situação muito complicada”.

José Luís Ferreira, líder parlamentar do Partido Ecologista “Os Verdes”, disse esta quarta-feira, em entrevista à agência Lusa, que mantém “toda a disponibilidade”, mas quer fazer uma avaliação dos compromissos assumidos pelo Governo no último orçamento.

“Nós dissemos ao Governo que antes de começar a negociar teríamos que ver como as coisas estão, porque se não andamos aqui a enganar-nos uns aos outros”.

O_Presidente da República já assumiu a convicção de que o próximo orçamento voltará a ser viabilizado com o apoio da esquerda.”Estou convencido de que o Orçamento passa com uma base de apoio similar ao último”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, na primeira entrevista que deu após a reeleição, na RTP.

Os comunistas voltaram a criticar a pressão feita pelo Presidente da República “O PCP não vai atrás de pressões. O PCP formula os seus juízes próprios”, garantiu o dirigente comunista Rui Fernandes.