Detetada presença humana nos Açores 700 anos antes da chegada dos portugueses

Os primeiros habitantes dos Açores eram “provavelmente” oriundos do norte da Europa, que encontraram “condições climáticas favoráveis para navegar em direção aos Açores no final da Alta Idade Média, devido à predominância dos ventos de nordeste e o enfraquecimento dos de oeste”.

Um estudo internacional concluiu que, afinal, os portugueses não foram os primeiros a chegar aos Açores. Segundo a investigação, que contou com a participação de investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos – Açores (CIBIO), as primeiras evidências de presença humana nas ilhas foram detetadas 700 anos antes da chegada dos portugueses, no século XV.

Segundo o CIBIO – Açores, em comunicado esta quarta-feira divulgado, o estudo reconstruiu as condições em que o arquipélago foi habitado pela primeira vez e o impacto que teve no seu ecossistema. Os primeiros habitantes dos Açores eram “provavelmente” oriundos do norte da Europa, que encontraram “condições climáticas favoráveis para navegar em direção aos Açores no final da Alta Idade Média, devido à predominância dos ventos de nordeste e o enfraquecimento dos de oeste”.

"O trabalho agora publicado regista a chegada dos primeiros colonos às ilhas no final da Alta Idade Média", lê-se na nota do centro açoriano, que realça ainda o facto de a investigação contrariar o consenso de que o arquipélago nunca tinha sido habitado.

Para a realização da investigação, foram analisadas e datadas cinco sondagens de sedimentos recuperados do fundo de lagos das ilhas de São Miguel, Pico, Terceira, Flores e Corvo, com recurso técnicas geológicas, químicas, físicas e biológicas.

"Detetaram nos sedimentos lacustres a presença de esteróis, fração muito abundante da matéria orgânica nas fezes de mamíferos, e de fundos coprófilos, que são interpretados como indicadores da atividade humana", afirma o comunicado.

Timothy Shanahan, investigador da Universidade do Texas, nos EUA, explica que os intestinos dos mamíferos produzem "em abundância esteróis e estanóis fecais que são bem preservados nos sedimentos lacustres e são um indicador único e inequívoco da presença de grandes mamíferos em determinados períodos do passado".

"Além disso, os compostos produzidos pelo intestino humano e pelo gado são diferentes, o que nos permite distingui-los", afirma.

Por sua vez, Santiago Giralt, um dos autores do artigo, esclarece que as ilhas dos Açores “não eram habitadas por grandes mamíferos” devido à sua posição geográfica e que o aparecimento do "coprostanol nos sedimentos pode ser atribuído à presença de humanos e do estigmastanol aos ruminantes, como vacas, cabras ou ovelhas".

Já Pedro Raposeiro, investigador do CIBIO – Açores, frisa que o estudo "demonstra a importância de promover estudos multidisciplinares entre as ciências naturais e as ciências humanas" para que exista "uma visão mais ampla do que realmente aconteceu no passado".

O estudo contou com os investigadores do CIBIO – Açores e com a colaboração do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, do Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa, e da Universidade de Évora.

Participaram ainda investigadores do Geosciences Barcelona, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Autónoma de Barcelona, do Centro de Pesquisas Ecológicas e Aplicações Florestais, do Instituto de Pesquisas Marinhas, do Museu Nacional de Ciências Naturais, da Universidade da Corunha, da Universidade de Barcelona, da Universidade do Texas, da Universidade de Brown dos Estados Unidos da América, da NIOZ, da Universidade de Amsterdam, da Universidade de Bern e da Universidade Edith Cowan.