António Costa toca a rebate e recentra partido

Está fechado: o diretor da campanha do PS para as legislativas vai ser Duarte Cordeiro, que até já assumiu que o objectivo é a ‘maioria absoluta’. E Francisco Assis regressa à AR.

Faltam pouco mais de dois meses para as eleições legislativas de 30 de janeiro e duas palavras estão na mente dos socialistas: maioria absoluta. O melhor resultado possível para o atual partido do poder seria, nestas eleições, deixar de precisar de acordos políticos ou parcerias para continuar a governar o país, depois de conquistar o poder, em 2015, através da denominada ‘geringonça’, com o BE e com o PCP, e de ter ficado a precisar de pelo menos um deles para ter maioria no Parlamento após as eleições de 2019.

Porém, a agitação nas hostes socialistas concentra-se agora na hipótese de, saindo vencedor das eleições legislativas, o PS não conseguir uma maioria tão reforçada como deseja António Costa e se coloque a questão de saber com quem pode negociar condições de governabilidade.

Com Pedro Nuno Santos a insistir publicamente na solução de entendimentos com BE e PCP, Manuel Alegre saiu a terreiro (numa entrevista à TSF e ao JN) a defender que o PS não pode ficar refém dos partidos à sua esquerda e trancar a porta ao PSD à sua direita.

Uma tese, aliás, também defendida por Francisco Assis, que se manifestou novamente disponível para voltar a concorrer nas listas de candidatos a deputados pelo PS.

António Costa deu o primeiro sinal evidente de não fechar a porta a negociações com o PSD para garantir condições de governabilidade pós-eleições de 30 de janeiro de 2022 na entrevista da semana passada à RTP.

Isto quando nos bastidores do PS cresciam as conspirações sobre a eventualidade de António Costa, saindo vencedor das eleições, ter de passar a responsabilidade da formação de um Governo de esquerda a Pedro Nuno Santos – único protagonista socialista com capacidade para garantir o apoio de comunistas e bloquistas.   

Daí, por um lado, a entrevista à RTP na semana passada, em que pela primeira vez manifestou abertura a entendimentos com o PSD; e, por outro lado, o convite a Francisco Assis para voltar à Assembleia da República e a Duarte Cordeiro para ser o diretor de campanha do PS – como confirmou o Nascer do SOL junto de fontes socialistas.

A reforma dos senadores

Depois do anúncio de Eduardo Ferro Rodrigues, de que não regressará ao Parlamento após as próximas eleições legislativas, fica a questão: quem será o próximo presidente da Assembleia da República? Ora, Carlos César afastou a possibilidade de ser ele, enquanto presidente do partido, o sucessor de Ferro – em declarações ao Expresso em que confirmou que também engrossará o grupo de senadores que não voltarão a ser candidatos a deputados, conforme o Nascer do SOL noticiou na sua última edição – e deixou caminho aberto para… Francisco Assis. Que é um dos nomes agora apontados como candidato a segunda figura do Estado, caso o PS ganha as eleições e mesmo que, para tanto, precise dos votos do PSD.

Recorde-se que Assis é da ala mais moderada (ou mais ao centro) do PS, tendo manifestado a sua indisponibilidade para concorrer a deputado pelo PS em 2019 por discordar frontalmente de uma estratégia de poder assente na fórmula da ‘geringonça’, com o PS alinhado com BE e PCP.

O antigo eurodeputado deixou o Parlamento em 2013, e acabou por rumar a Bruxelas em 2014, onde ficou até 2019. Neste momento, é presidente do Conselho Económico e Social (CES), e deverá agora perfilar-se para poder ocupar o lugar de segunda figura do Estado.

Aliás, o próprio Assis, num Encontro Fora da Caixa, em Barcelos, fez um curioso apelo aos partidos, desejando que as discussões não ‘subam de tom’ ao ponto que seja impossível negociar depois das eleições legislativas. «Era bom que os partidos políticos se concentrassem agora e apresentassem ao país as suas propostas com clareza, a sua diversidade, não elevando o tom da discussão ao ponto de depois não se poderem entender uns com os outros, porque vai ser essencial haver entendimentos, sobretudo entre os partidos estruturantes da democracia portuguesa», referiu, em declarações aos jornalistas.

E esta não foi a única vez em que Assis apelou ao ‘diálogo’ ao centro. Na passada quinta-feira,  esteve presente na conferência Portugal em Exame, onde, entre outros assuntos, junto de Bagão Félix, defendeu que o  PS e PSD «são estruturantes e têm de construir um diálogo». Desta forma, não restam dúvidas de que Assis, a confirmar-se o seu regresso ao Parlamento, é um dos acérrimos defensores da mudança de rumo do partido.

Já antes de Assis, também Manuel Alegre, em entrevista à TSF e ao Jornal de Notícias, defendera que António Costa «tem de olhar à esquerda e tem de olhar à direita».

Cordeiro diretor de campanha

Ora, António Costa não se limitou a responder afirmativamente à estratégia defendida por Alegre, federadora das diferentes tendências que convivem no partido e confesso opositor do divisionismo provocado pelos seguidores mais radicais de Pedro Nuno Santos.

O convite de Costa a Duarte Cordeiro para a direção de campanha é um claro sinal da vontade federadora de António Costa.

E Duarte Cordeiro, que liderou as conversações com BE e PCP a partir da sua secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares nesta legislatura, já aceitou o convite de Costa.

Recorde-se, aliás, que o secretário de Estado foi também  diretor de campanha de Manuel Alegre contra Mário Soares (o candidato de José Sócrates) nas presidenciais de 2011. E, em 2015, foi nomeado por Costa para membro da direção de campanha, na altura para as legislativas que conduziriam à criação da ‘geringonça’.

Com Cordeiro e Assis do seu lado, António Costa dá um claro sinal de união às hostes socialistas, apelando à mobilização das estruturas e das várias ‘famílias’ socialistas em torno do objetivo comum de conquista de uma «maioria reforçada» nas eleições de 30 de janeiro próximo.

Uma maioria que Duarte Cordeiro (no último programa da Lei da Bolha, na TVI) assumiu claramente como sendo «uma maioria absoluta».

Com o PS, de António Costa, a guinar ao centro, Pedro Nuno Santos fica mais isolado. E Costa volta a ficar mais longe de meter os papéis para a reforma. Desde que o PS não perca as eleições para o PSD.