Na semana em que o Governo anunciou a criação de uma task-force para ajudar as escolas a resolver a falta de professores e em que foi conhecido um estudo segundo o qual, até 2030, as escolas vão ter de contratar 34,5 mil docentes para compensar reformas, as críticas mantêm-se e convergem em dois pontos: este era um problema anunciado e pouco foi feito nos últimos anos. A Fenprof estranhou o timing do anúncio e classificou a criação de uma task-force como atestado de incompetência. «É um atestado de incompetência aos diretores das escolas, a quem o senhor ministro, pelos vistos, não reconhece capacidade para resolver o problema e, portanto, tem de ter alguém que lhe diga como se faz», criticou Mário Nogueira, em conferência de imprensa.
A Fenprof estima que, agora, a menos de um mês do final do primeiro período nas escolas, continue a haver 20 a 30 mil alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina por falta de docente, sendo a situação mais problemática no distrito de Lisboa, onde estão por preencher 43% dos horários sem docente atribuído. As disciplinas com mais horários incompletos são Informática, Física e Química, Português, Inglês e Matemática.
O antigo ministro da Educação Nuno Crato veio à liça criticar também a falta de resposta ao que considerou ser um problema há muito anunciado nas escolas. «É um drama anunciado há muito tempo», disse na SIC Nuno Crato, salientando que quando começou a envolver-senesta área em 2006 se previa que viessem a faltar professores em 15 anos e lamentando que o acesso à carreira tenha sido alterado. Para o matemático e professor, é preciso «dignificar» a profissão e torná-la «respeitada», dizendo que hoje os professores se sentem «inseguros» na sala de aula e que o sistema de formação não funciona bem. «Não podemos olhar para este problema como algo que se resolve amanhã», insistiu, defendendo que se atraia os jovens para a profissão dizendo-lhes que há lugares e que vale a pena apostar em formação suplementar para ser professor, dando como o exemplo o caso de jovens que se licenciam em História ou Português, áreas em que vão faltar docentes.
Questionado sobre se sendo um problema anunciado, e tendo sido ministro, o que não foi feito, disse que algumas medidas foram revertidas. A mais polémica, declarada ilegal pelo Tribunal Constitucional e eliminada no Parlamento nos primeiros dias da ‘geringonça’, em novembro de 2015, era uma prova de acesso à carreira docente, a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) para professores. A prova acabaria por só ser aplicada em 2014.