Rangel e Rio. Mesmos objetivos, formas diferentes

Rio e Rangel comungam nas áreas que pretendem reformar e até no diagnóstico de alguns problemas. Não partilham, todavia, do xadrez político necessário para essa reforma: Rangel rejeita toda a esquerda e não procura amigos na Direita. Rio só rejeita a extrema esquerda.

Apesar de ambos pertencerem ao mesmo partido político e de terem muitos objectivos em comum, há algumas diferenças entre Rio e Rangel que ambos os candidatos procuraram vincar nestes últimos dias antes das diretas de hoje. Desde logo, a maneira como veem o posicionamento e a vocação eleitoral do seu partido. Se Rio quer «governar Portugal ao centro», Rangel quer um PSD mais virado à direita – ou «de centro-direita». Trazendo um filtro ideológico, Rio seria uma social-democrata sólido, já Rangel estaria mais próximo de um liberal democrata: o que, concluindo, quer dizer que Rangel está à direita de Rio.

Considerando os cenários governativos admitidos pelos dois, dá a entender que Rangel é mais anti-esquerda do que propriamente de Direita: isto porque o eurodeputado faz mais ‘cara de mau’ à esquerda do que ‘sorri’ à Direita. Rangel, tal como Rio, rejeita cabalmente qualquer acordo com a extrema-esquerda (BE e PCP). Contudo, enquanto Rio – que supostamente está à sua esquerda – sorri à Direita ainda antes das eleições, Rangel só lhe admite sorrir no fim e em última análise. Rio está já disponível para coligações pré-eleitorais com CDS e IL, enquanto Rangel, estando disponível, só estará no futuro. Quanto ao PS, têm posições diferentes: se por um lado Rui Rio não rejeita acordos parlamentares, por outro Rangel parece torcer-lhes o nariz seja qual for a situação. Quanto a soluções com o Chega, Rangel rejeita qualquer uma e Rio rejeita incluí-los no Governo, não excluindo, assim, acordos parlamentares.

Propostas comuns

Economicamente, Rio e Rangel são mais parecidos: tanto um como o outro querem muscular o setor. Como? Aumentando a sua produtividade, reduzindo custos e reduzindo carga fiscal.  Propõem, também, a edificação de um novo modelo económico – assente na produção e nas exportações – para que se dê um aumento dos salários e, assim, o médio não esteja tão próximo do mínimo. Demograficamente, também  ambos admitem a existência de uma crise e propõem reformas nas políticas do setor. Rangel nota mesmo a necessidade da «inversão da tendência demográfica», propondo «medidas específicas na área da emigração e da imigração, de fomento à natalidade e de promoção de vida familiar».

Ambos estão, também, preocupados com a corrupção. Para combatê-la, Rangel propõe a criação de uma «agência anticorrupção altamente especializada e com poderes efetivos na investigação de prossecução criminal»; já Rio apenas diagnostica o problema: «Temos de afirmar a nossa independência face às oligarquias, eliminar a lógica clientelar no acesso aos cargos públicos e contrariar a ação das parentelas na ocupação do aparelho do Estado, das autarquias e empresas públicas, especialmente nos órgãos executivos de nomeação». 

Um passo ao lado e saltamos para a Justiça, na qual Rio pede uma «reforma urgente» e nota que o (seu) PSD «já apresentou as suas propostas para a Reforma da Justiça». Estas, explica, não terão avançado por «falta de vontade política do Partido Socialista e das forças à sua esquerda». Ainda relativamente a esta área, Rangel destaca a necessidade de ser desburocratizada e digitalizada no sentindo que funcione de forma mais célere. Nota, ainda, a necessidade de a Justiça ser mais equitativa: «As garantias do Estado de Direito não se devem transformar numa cobertura para, em nome do Estado de Direito, se atacar esse Estado de Direito, promovendo uma sujeição diferente ao Direito consoante se é rico ou pobre, poderoso ou frágil».

Na área da Educação, Rui Rio defende a acessibilidade a creches e infantários para todas as crianças, assim como pretende promover o sucesso escolar. Rangel procurará a gratuidade universal do ensino pré-escolar – a la Medina – a par de uma aposta no ensino profissional – a la Merkel. 

Na área da Saúde, Rangel nota haver «preconceitos ideológicos» nas decisões sobre quem gere os hospitais do SNS, procurando reverter a situação. Já Rio vê a Saúde de forma integrada, reforçando a ideia dos serviços de saúde «públicos e privados» estarem mobilizados para o «o objetivo principal: assegurar um bom serviço de Saúde, em tempo e com qualidade».