Costa elege como objetivo sair da cauda da Europa

António Costa quer tirar Portugal da cauda da Europa e fazer do crescimento económico a marca da próxima legislatura. Para isso, aposta num Governo tipo task force. Menos ministros e mais no terreno. Siza Vieira deve ser MNE e subir a número dois e Santos Silva presidir à AR. 

Costa elege como objetivo sair da cauda da Europa

Crescer, crescer e crescer. Estas serão as palavras de ordem do novo Governo, que continua fechado a sete chaves por António Costa. 

O objetivo para a legislatura – e a marca para a história – que o líder socialista definiu, aproveitando a maioria absoluta conquistada no passado domingo, é tirar Portugal da cauda da Europa, utilizando a bazuca e os fundos do PRR e do Portugal 20/30 para fazer crescer a economia a um ritmo bem acima da média europeia.

E beneficiando também do facto de a maioria absoluta tornar Portugal mais apetecível – pela estabilidade nos próximos quase cinco anos – para atrair investimento estrangeiro. Recorde-se que Portugal passa a ser o único país da Europa Ocidental com um Governo de maioria de um só partido.

Para isso, e tal como já deixou público, António Costa quer formar um Governo bem mais pequeno do que o atual, em jeito de task force para a economia, ou seja, com menos ministros e mais no terreno.

Um claro sinal desta estratégia de Costa poderá passar pela ‘promoção’ de Siza Vieira para Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros – e formalmente número dois do Executivo –, com a passagem de Augusto Santos Silva para a Assembleia da República.

Santos Silva no lugar de Ferro

Recorde-se que Santos Silva já por várias vezes manifestara junto de António Costa vontade de sair do Governo (ele que é o detentor do recorde de mais tempo em funções governativas desde o 25 de Abril). Santos Silva é, aliás, apontado como o mais do que provável sucessor de Ferro Rodrigues como segunda figura do Estado, ou seja, como presidente da Assembleia da República.

Neste cenário há também quem aponte um regresso de Fernando Medina à atividade política, com o lugar de ministro da Economia que Siza Vieira deixaria em aberto.

Uma coisa é certa: a dança dos nomes não passam, pelo menos para já, de especulação, uma vez que António Costa mantém a orgânica e a composição do seu futuro Governo fechada a sete chaves.

Aliás, isso mesmo foi evidente na habitual reunião semanal de coordenação dos chefes de gabinete dos membros do Executivo na passada quarta-feira. Na reunião, ninguém sabia se está para ficar ou para sair do Governo.
Para já, e segundo fonte muito próxima de António Costa, está tudo nas mãos do primeiro-ministro e assim deverá continuar pelo menos nas próximas semanas. Isto porque o futuro Governo só deverá tomar posse em 23 ou 24 de fevereiro, conforme confirmou ontem fonte do Governo à Lusa. «Só pouco antes fará convites. Até lá é tudo especulação», acrescentou a mesma fonte.

Indisponíveis e disponíveis

Não obstante, há já algumas certezas. Isto porque, além de Santos Silva, também Francisca Van Dunem já comunicou a António Costa (e confirmou-o em público) que não queria continuar no Executivo, sendo que a ministra da Justiça recentemente assumiu o ‘sacrifício’ de acumular aquela com a pasta da Administração Interna na sequência da demissão de Eduardo Cabrita. E esta terá sido a sua última missão governativa.

Ainda no lote dos ‘indisponíveis’ conta-se também a ministra da Cultura, Graça Fonseca, num sector em que claramente deixa demasiados descontentes, mesmo sabendo-se que a culpa da suborçamentação não será propriamente dela.

Por outro lado, tanto a ministra da Saúde, Marta Temido, como a do Trabalho e Solidariedade, Ana Mendes Godinho, terão, pelo contrário, afirmado a sua disponibilidade para continuar, apesar de terem sido duas das governantes mais ativas nos últimos dois anos de combate à pandemia da covid-19.

O balanço positivo quer na frente da crise sanitária e de saúde pública quer na frente da crise social e laboral deverão conduzir Costa a premiar os respetivos desempenhos com a continuidade no Executivo.

A mudança orgânica, com concentração de Ministérios e competências permitirá a ‘renovação’ do Executivo nos moldes já anunciados pelo primeiro-ministro.

E se bem que o eleitorado lhe tenha dado luz verde para escolher como bem entender, uma vez que logrou a tão ambicionada maioria absoluta, a verdade é que António Costa já assumiu que fará não só um Governo mais pequeno e coeso como aproveitará para uma renovação.

Por via das eleições antecipadas, será um novo Governo. Mas o primeiro-ministro já tinha dito que, mesmo que não tivesse havido dissolução da Assembleia da República e antecipação das eleições, já tinha previsto uma ‘remodelação governamental’.

Ou seja, haverá obviamente caras novas no Governo e não apenas em pastas técnicas ou sectoriais.

A grande dúvida: Ana Catarina Mendes

Se ninguém põe em causa a continuidade de Mariana Vieira da Silva ou de Pedro Nuno Santos, há obviamente a ter em conta a natural promoção a ministro do diretor de campanha destas legislativas e até aqui secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.

E, assim e com Medina como hipótese na Economia (ou até nas Finanças), a principal dúvida que se levanta entre as hostes socialistas é qual o lugar que António Costa reservará para Ana Catarina Mendes: um lugar no Governo ou a continuidade como líder parlamentar?

Se a questão da sucessão deixou de colocar-se no PS no curto prazo, não pode esquecer-se o que foi o último Congresso e o que representam no partido designadamente Pedro Nuno Santos e Ana Catarina Mendes, além de Medina, Mariana Vieira da Silva ou, em franca ascensão, Duarte Cordeiro.

Por isso, apesar de ser consensual que Ana Catarina Mendes desempenhou com distinção o lugar de líder da bancada e é um valor seguro para continuar a assegurar uma boa articulação entre o Executivo, o partido e a bancada, há também muitos defensores de que António Costa deveria chamá-la para o Governo, colocando-a no mesmo plano de Pedro Nuno Santos e outros eventuais candidatos a futuro secretário-geral do PS.

Finalmente, e ainda no âmbito das mexidas orgânicas que António Costa poderá fazer, fala-se nos corredores socialistas da possibilidade de junção do Ministério da Educação com o do Ensino Superior, podendo abrir espaço para a entrada no Executivo de uma personalidade como o antigo candidato presidencial Sampaio da Nóvoa; ou a fusão entre a Agricultura e o Mar sem que nenhum dos atuais titulares das respetivas pastas tenha condições para ocupar o novo cargo.

Belém cooperante mas sem mais paz social

Com o plano definido e apontado ao planeamento estratégico e à recuperação económica, agora que a pandemia vai dando sinais de tréguas e de passagem a endemia, António Costa conta com uma boa coabitação com Marcelo Rebelo de Sousa para não ter ‘forças de bloqueio’ e para que o ‘deixem trabalhar’.

Mas, se de Belém vêm sinais de cooperação e avisos de ‘vigilância’ que o primeiro-ministro até já ‘reclamou’ como benéficos para que a esta seja uma «maioria absoluta de diálogo», os socialistas já sabem que a partir de agora vão deixar de contar com a paz social que a ‘geringonça’ sempre assegurou nos últimos seis anos.

O PCP já avisou – em editorial do Avante! e por viva voz do seu secretário-geral, Jerónimo de Sousa, que a «luta de massas» estará de novo nas ruas já no próximo mês de março.

Vão voltar as ações de rua, as manifestações e as greves, com o braço sindical do PCP – a CGTP-In – a querer voltar a mostrar a sua força.