Costa nega pedido da Câmara de Setúbal sobre associação pró-russa que acolheu refugiados ucranianos

Carta de André Martins não solicita qualquer informação sobre associação em causa, é antes um protesto sobre declarações da embaixadora ucraniana.

O gabinete do primeiro-ministro desmentiu, esta sexta-feira, que o presidente da Câmara de Setúbal, eleito pela CDU, tenha pedido informações sobre a Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), que será pró-Kremlin e que acolher refugiados da guerra na Ucrânia.

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Na mesma nota, enviada à comunicação social, o gabinete de António Costa confirma que recebeu uma carta de André Martins, mas nega que nela tenham sido feitos pedidos sobre a Edintsvo.

"Na referida carta não é solicitada qualquer informação sobre a Associação EDINSTVO, nem sobre o cidadão Igor Khashin [membro da associação]", lê-se na nota.

A carta do autarca enviada ao primeiro-ministro "no passado dia 11/04/22 é um protesto sobre declarações prestadas pela embaixadora da Ucrânia em Lisboa, à CNN, e foi reencaminhada para os efeitos tidos por convenientes para o MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros]".

Recorde-se que a Câmara Municipal de Setúbal disse esta sexta-feira, depois de o Expresso ter noticiado que a pró-russa Edinstvo tinha recebido 160 refugiados ucranianos, que há duas semanas, depois de declarações da embaixadora da Ucrânia em Portugal sobre o assunto, tinha questionado formalmente o primeiro-ministro.

Segundo a autarquia, na carta enviada a Costa, "no próprio dia, por ofício", era pedido que se "esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação, não tendo obtido resposta até ao momento".

O Expresso escreve hoje que pelo menos 160 refugiados ucranianos terão sido recebidos por Igor Khashin, da associação Edintsvo, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município, e que estes terão fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.

"Igor Khashin colabora, regularmente, há vários anos, com várias entidades da administração central, entre as quais o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Alto Comissariado para as Migrações e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, tendo prestado esta colaboração já este ano em instalações de alguns destes serviços em Setúbal, no contexto do acolhimento de refugiados da guerra da Ucrânia", admitiu a autarquia na sequência da notícia.

Por outro lado, a câmara comunista garantiu que são cumpridos todos os requisitos técnicos inerentes a um atendimento social" e que a "recolha de informação só é feita com autorização expressa por escrito dos próprios", tratando-se de "um procedimento reconhecido e utilizado pelas entidades que, em Portugal, fazem este tipo de trabalho".

A autarquia acrescentou que "repudia com a veemência toda e qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços".

Também na sequência da notícia sobre a Edintsvo, que terá sido subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, a autarquia retirou do acolhimento de ucranianos a técnica superior de origem russa Yulia Khashin e adiantou que vai pedir uma averiguação ao Ministério da Administração Interna.