Viagem de Guterres? Foi “essencial” por muito que as expectativas fossem “muito baixas”, diz ex-subsecretário-geral da ONU

Na ótica de Jeffrey Feltman, Guterres “tinha a responsabilidade de visitar os dois países”, servindo para relembrar o mundo “sobre o que a ONU significa e o que defende, e quais as obrigações que os países têm ao tornarem-se membros da ONU”.

Viagem de Guterres? Foi “essencial” por muito que as expectativas fossem “muito baixas”, diz ex-subsecretário-geral da ONU

Embora as expectativas fossem “muito baixas”, a viagem de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas (ONU), a Moscovo e a Kiev foi “essencial”, considerou o ex-subsecretário-geral da organização, Jeffrey Feltman, à agência Lusa.

"Acho que António Guterres tinha a obrigação de fazer estas deslocações. Penso que as expectativas que todos tínhamos para impactos práticos e tangíveis eram muito baixas, mas isso não minimiza a importância desta viagem, que foi essencial e simbólica", sustentou Feltman, que foi subsecretário-geral da ONU para Assuntos Políticos e ex-secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos da América (EUA) para o Médio Oriente.

Na ótica de Jeffrey Feltman, Guterres “tinha a responsabilidade de visitar os dois países”, servindo para relembrar o mundo “sobre o que a ONU significa e o que defende, e quais as obrigações que os países têm ao tornarem-se membros da ONU".

Sublinhe-se que a visita de Guterres, ex-primeiro-ministro português, aos dois países foi a primeira desde que a Rússia instaurou uma guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro, provocando o maior movimento de refugiados da Europa em décadas.

Na visita a Moscovo, Guterres pediu ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que colabore com a ONU para permitir a saída de civis das áreas bombardeadas, sobretudo no leste e sul da Ucrânia, onde as forças russas estão a concentrar a sua ofensiva.

Esta viagem entre os países em guerra aconteceu num momento em que o secretário-geral da ONU, assim como a própria organização, têm sido criticadas pela sua dificuldade em travar a guerra, seja para conseguir uma trégua ou para um acordo por corredores humanitários.

Para Feltman – um dos mais de 200 antigos dirigentes da ONU que subscreveram uma carta a Guterres a apelar pela sua proatividade para atingir a paz neste conflito – a viagem de Guterres "foi extremamente importante por três motivos: por razões humanitárias; por ter demonstrado as obrigações e princípios da Carta das Nações Unidas; e por mostrar que este é um problema multilateral, que requer soluções multilaterais".

Ao deslocar-se ao país agressor, Guterres mostrou, segundo Feltman, o simbolismo dos princípios da Carta da ONU, que determinam resoluções pacíficas de conflitos e o não uso de ameaças, nem de força, entre Estados-membros.

"Guterres precisava de ir a Moscovo para relembrar ao mundo que a ONU nunca descansa das suas obrigações em resolver pacificamente os conflitos. Logo, houve um propósito moral em reforçar, em carregar, os valores da Carta das Nações Unidas", salientou.

E ao visitar os dois países, Guterres ainda demonstrou que a resolução para este conflito terá de ser multilateral.

"A resolução não será apenas entre Ucrânia e Rússia. As implicações desta guerra são muito maiores, e envolvem a segurança europeia, segurança alimentar, envolvem muita coisa além de Moscovo e Kiev e a solução passará muito além das conversas estes os dois países", apontou o ex-dirigente da ONU.

Ainda que a visita de Guterres possa comportar impactos visíveis em termos de assistência humanitária à Ucrânia, Feltman mostrou-se duvidoso quanto à possibilidade de isso acontecer.

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