Os mais ricos é que estão beneficiar com a inflação

Eugénio Rosa dá cartão vermelho ao Governo que, para atenuar a escalada de preços, deu apenas 60 euros a famílias, não abrangendo todos os que precisam.

"A inflação elevada, que vai durar, está a causar uma redistribuição dos rendimentos em benefício dos mais ricos e a aumentar as desigualdades e a pobreza no país”. O alerta é de Eugénio Rosa, que considera que “a guerra e as sanções estão a destruir a vida dos portugueses”.

O economista recorre aos dados do INE que apontam para uma percentagem elevada da população portuguesa que está a viver no limiar da pobreza – 475,2 euros – que aumentou, entre 2019 e 2020, de 16,2% para 18% (1,9 milhões de pobres), “enquanto o número de vezes que o rendimento dos 10% da população mais rica é superior ao rendimento dos 10% mais pobres e aumentou, entre 2019 e 2020, de 8,1 para 9,8 vezes mais”.

Uma situação que, de acordo com o responsável, irá ser agravada com a escalada de preços (inflação), causada pela guerra e pelas sanções à Rússia, contribuindo “ainda mais para as desigualdades e para a pobreza”. E explica: “A inflação prejudica quem tem rendimentos fixos, como salários, pensões, etc., uma vez que, não aumentam com a rapidez e com a dimensão que se verifica nos preços, que podem aumentar todas as semanas, causando perdas de poder de compra”, ao mesmo tempo que “beneficia os detentores de rendimentos variáveis, pois estes podem aumentar os preços quando querem”.

E aponta as petrolíferas como as “grandes beneficiárias da inflação: aumentam os preços todas as semanas, o que não acontece com os salários e pensões, obtendo assim lucros enormes”, chamando a atenção para a Galp que, em 2021, obteve lucros de 614 milhões e só no primeiro trimestre deste ano já atingiu os 155 milhões de euros.

Subida de preços De acordo com Eugénio Rosa, se comparamos os preços de maio de 2022 com os de maio de 2021, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) já aumentou 8,1%. O economista admite que, a manter-se este ritmo, em dezembro será de 11%. Lembra que, “os preços dos produtos alimentares, que afeta fundamentalmente as classes com rendimentos médios e baixos, porque têm um peso muito maior nos seus orçamentos, já subiram 11,7% e o aumento nos preços da energia atingiu, até maio, 27,3%”, acrescentando que, “a subida dos preços dos produtos alimentares tem um impacto maior nas famílias de menores rendimentos”. 

Face a este cenário, Eugénio Rosa não tem dúvidas: “Esta crise está a afetar a vida dos portugueses de uma forma desigual. O impacto nas famílias mais pobres é o dobro do que se verifica nas famílias mais ricas”, dando cartão vermelho à atuação do Governo para atenuar esta escalada de preços.

“Para fazer face ao enorme aumento da pobreza causada por esta crise, o Governo limitou-se a atribuir a metade daqueles que vivem abaixo do limiar da pobreza – e os que vivem neste limiar são cerca de dois milhões de pobres – uma ajuda de 60 euros, uma única vez, com a qual gastou 60 milhões de euros”, critica.